Adventure (Atari 2600): as aventuras de um pixel

Nos primórdios do videogames, um pixel e sua lança, que se parecia com uma seta, divertiram e atiçaram a imaginação de muitas crianças.

em 09/07/2015

Atualmente, temos gráficos avançados e belos ao nosso dispor. Acredite, é difícil para algumas pessoas diferenciar a realidade dos videogames, mas, em uma época não muito distante, na qual seu pai ou avó eram crianças, os jogos não eram grande coisa em certos aspectos: eram curtos e os visuais não eram muito simples. Os jogos, em sua minoria, eram feitos para serem jogados com o amigo, e, devido a inexistência da internet, amigos tinham que se juntar na hora de se divertir.


Esse jogo veio dessa época. Criado por Warren Robinett, Adventure foi algo novo ou que pelo menos tentou ser. Com risadas e o bom uso da imaginação, criatividade e surpresas estavam garantidas no jogo.

Hyrule, Terra média? Quase isso... 

Na época, uma maioria esmagadora de outros jogos do Atari 2600 tinha desafios simples, cuja recompensa era um ponto a mais no placar. O que não é uma surpresa, já que a maioria deles eram adaptações de jogos de arcade (fliperama), mas Adventure tinha algo a mais. 

Sua missão era levar um cálice até um determinado castelo passando por um labirinto repleto de salas trancadas, dragões e outros desafios, utilizando poucas ferramentas no caminho. Apesar do enredo simples e da missão simplória, o jogo possuía um level design impressionante para a época em que foi criado. 
O "mapa" da "primeira fase"

Isso fica evidente na “segunda fase” do jogo, onde você tem que percorrer um labirinto, mas não consegue ter uma visão ampla do mesmo. É quase como se você estivesse em um ambiente escuro, e sua lanterna iluminasse apenas alguns trechos do caminho. 

Outra parte interessante do segundo estágio são os morcegos. Eles roubam seus itens, essenciais para sua jornada, e cabe a você pegá-los. Com tamanha velocidade, é necessário ser ainda mais rápido na hora de agarrá-los, fora que eles geralmente trocam o lugar em que o item estava, dando variedade ao jogo. Persegui-los é bem divertido. 
"Na, na, na, na, na.... BATMAN"

Na última fase as coisas ficam mais difíceis, já que vários dragões lhe perseguem pelo mapa, tornando-o quase impossível de ser transitado, mesmo com a espada mágica (sim, ela se parece com uma lança), que é um item poderoso no jogo capaz de eliminar os dragões ao toque. Sim, são apenas três fases, mas não deixa de ser criativo e impressionante para um jogo de Atari.  

Sem mencionar outras mecânicas interessantes, como a ponte (item essencial na resolução de certos enigmas) e um princípio de atração e repulsão que rege os inimigos do jogo. Exemplo, as chaves do jogo atraem morcegos e a espada afasta os dragões. O que é engraçado, principalmente quando os dragões fogem de sua arma. Eles a evitam, mas ainda têm como objetivo atingi-lo, fazendo isso pela retaguarda.

Um pássaro? Um cavalheiro? Um avião? Não, é o super pixel! 

Por mais que o Atari 2600 tenha popularizado o uso de cartuchos, controles de encaixe, consoles caseiros e, de quebra, melhorado muitos aspectos visuais e jogáveis em comparação ao seu “antecessor e concorrente”, o Magnavox Odyssey, ele não tinha um Blast Processing. Seus gráficos ainda eram bem simples e muito do conteúdo que era adaptado para o Atari era remodelado, tornando-o inferior ao original. 

Por isso era necessário muita imaginação na hora de jogar algo do Atari. Para se ter uma ideia, o protagonista de Adventure era um mero quadrado, um pixel. Os itens que você encontrava pelo cenário se agarravam na sua superfície, dando a entender que ele tinha braços. 
"The winter is coming! I guess..."

E os dragões? Alguns dizem que lembram a letra G. Devido ao formato de suas cabeças, eu sempre os confundi com patos. O ruim era quando a cor deles se misturava à das paredes e você não os viam chegando. Quando eles atravessavam as paredes, dava a entender que estavam voando por cima delas. Eu imaginava que eram patos fantasmas me assombrando. Isso garantia belas risadas, especialmente entre amigos. Pena que o jogo não tinha um modo multiplayer.  

Do primeiro ovo de páscoa, a gente nunca esquece 

Adventure veio de uma época em que a tecnologia por trás dos consoles caseiros e seus jogos era primitiva. Por mais que Nolan Bushnell (vulgo fundador da Atari e da rede americana de lanchonetes Chuck E. Cheese’s) tenha pelo menos tentado criar um bom ambiente na companhia, a Warner Communications alterou ainda mais as politicas e regras que vigoravam lá. Portanto, eles não recebiam os lucros ou sequer os créditos pelo que produziam, o nome deles sequer aparecia na caixa do jogo. 

Já que esses jogos eram produzidos por uma só pessoa, Warren aproveitou a oportunidade e introduziu na versão do jogo uma frase que dizia: Criado por Warren Robinett. Quando a Atari percebeu, já era tarde demais e o jogo já havia vendido mais de um milhão de cópias. Tal frase é considerada como o primeiro easter egg relacionado a um jogo. 
Foi o primeiro!

Uma aventura que deixou marcas 

Ainda que primitivo, Adventure trouxe diversão, risadas, criatividade e um bom uso da imaginação. Mais do que simplesmente levar o Santo Graal (ou cálice) até o castelo, o jogo serviu de pontapé para os jogos que temos hoje.

Grandes jogos bebem da fonte de Adventure: The Legend of Zelda (NES); uma boa parte dos RPGs, sejam eles japoneses ou não; até mesmo alguns shooters como Doom (Multi). De certa forma, uma lista enorme foi influenciada de forma direta ou indireta pelo título de Atari.
Revisão: Luigi Santana
Capa: Guilherme Kennio

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