Poucos dias atrás fomos surpreendidos com o primeiro trailer de FIFA 16, que nos mostrou que haverá a opção de jogar com seleções femininas. Tal novidade no game causou muitos comentários na internet, tanto positivos quanto negativos. Há de se observar que a adição traz muitos benefícios para todo o universo de videogames e dos jogos de esporte, pois mostra que a EA Sports, por exemplo, está bastante interessada em expandir o mercado de um dos seus maiores jogos.
O começo de tudo
Não é de hoje que o futebol feminino é explorado no jogos de esporte. Em novembro de 2000 era lançado o primeiro jogo de futebol feminino e o único exclusivo do esporte até hoje, Mia Hamm Soccer 64 para o Nintendo 64. Mia Hamm foi uma das mais importantes jogadoras de futebol dos Estados Unidos, conquistando o título de melhor do mundo por duas vezes consecutivas, em 2001 e 2002. Além disso, venceu duas vezes a Copa do Mundo de Futebol Feminino pela seleção americana (1991/1999), conquistou o ouro olímpico em Atlanta 1996 e Atenas 2004 e garantiu uma medalha de prata em Sidney 2000.O jogo em si era bem medíocre, como quase todos os jogos de esporte para o Nintendo 64, mas com suas 32 seleções internacionais, 18 times da Liga Americana e seus cinco modos de jogo, Mia Hamm Soccer 64 prestava uma boa homenagem ao que a atleta representava e ainda representa para o futebol feminino, dando uma oportunidade de ser lembrada inclusive no mundo do jogos.
Outros esportes, menor visibilidade
Atualmente, existem outros jogos de esporte com mulheres como opção de jogo, como é o caso da série Top Spin, que desde sua primeira edição, em 2003, tem tenistas mulheres. Hoje, o jogo já possui outras quatro edições e sempre com a presença das jogadoras mais importantes do cenário do tênis mundial feminino, como é o caso de Serena Williams e Ana Ivanovic em Top Spin 4, lançado em 2011.Outro exemplo mais recente é a participação das mulheres em EA Sports UFC, que conta com a categoria peso galo feminino, tendo como presença as ilustres atletas Ronda Rousey e Miesha Tate. Lançado em 2014 para Xbox One e PlayStation 4, o jogo dá início ao que poderia ser esperado de potencial técnico para a criação de uma movimentação feminina dentro dos jogos de esporte.
É importante ressaltar que nenhum desses dois jogos citados possui uma relevância e uma abrangência de jogadores ao redor do mundo tão grande como os da série FIFA. Por esse motivo, a inclusão de seleções femininas em FIFA 16 gera um impacto bem maior sobre toda a comunidade, pois passa a chamar a atenção para um esporte que, em vários países, possui uma relevância tão grande quanto a do futebol masculino.
Surpresa em boa hora
A EA Sports não poderia ter acertado melhor a hora de incluir o futebol feminino em seu jogo. Como ocorre todo ano seguinte à Copa do Mundo de Futebol Masculino, este ano de 2015 acontece a Copa do Mundo de Futebol Feminino, que está sendo disputada no Canadá. As doze seleções, que já estão confirmadas no jogo (Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, México e Suécia), participam da competição mais importante do futebol feminino mundial.A possibilidade de jogo com as seleções femininas vai causar um interesse muito maior do público feminino de Canadá, Estados Unidos e Suécia, onde o futebol feminino é até mesmo mais importante que o masculino. Sem dúvidas, a adição vai impulsionar bastante a venda do jogo nestes países e talvez seja mesmo esse o objetivo da EA.
Engana-se quem pensa que as jogadoras de videogame do Brasil não se interessam pelos jogos de esporte. Certamente, a novidade em FIFA 16 fará com que essas jogadoras olhem para o título com um carinho especial. Atire a primeira pedra quem não ficou animado com a possibilidade de controlar a Marta, Formiga e Cristiane defendendo a Seleção Brasileira. Além de ser uma ótima desculpa para os rapazes convencerem suas namoradas a conhecerem melhor o jogo.
Avanço tecnológico é essencial
De fato, a adição das atletas no jogo só foi possível graças ao avanço tecnológico. Quando se assiste a um jogo de futebol feminino pela TV e se compara com o de futebol masculino, percebe-se que as diferenças são enormes, desde a movimentação em campo até os tipos de dribles e arrancadas. Não se pode esperar uma mesma mecânica de jogo vinda de corpos com estruturas diferentes.Pensando nessas diferenças, foi necessário trabalhar toda uma captura de movimentos das jogadoras, da mesma forma como já era feito com os jogadores, tornando a movimentação em campo das atletas mais próxima da realidade no futebol. A oitava geração de consoles permitiu que toda a física por trás do esporte fosse lapidada de forma mais sutil. Talvez isso já fosse possível antes, mas agora o potencial para um tratamento tecnológico mais adequado esteja à altura do que se é esperado para o futebol feminino. Os detalhes irão fazer toda a diferença nesta nova modalidade de jogo.
Cada um no seu quadrado
Por ser um jogo de simulação, a intenção de FIFA sempre foi torná-lo o mais próximo possível da realidade. Justamente por esse motivo, já se sabe que não será permitido misturar jogadores das duas categorias diferentes. Ou seja, misturar Marta com Neymar e Messi em um mesmo time ou até mesmo fazer um jogo entre as seleções masculinas e femininas brasileiras não será possível.Por um lado é uma pena, pois isso poderia ser realmente divertido tendo em vista que algumas jogadoras de seleções femininas dão de dez a zero no futebol de muitos jogadores medianos que temos por aí. Por outro, faz todo o sentido do mundo que essa mistura não seja possível, porque em uma dividida de bola, por exemplo, a disputa fica totalmente desleal pelas características físicas de cada um.
Em uma crítica sobre deixar a simulação mais próxima da realidade, há a questão de ainda ser permitido jogos como Barcelona X Barcelona, que faz fugir totalmente a regra, pois permite que a mesma pessoa esteja em campo jogando pelas duas equipes, o que é impossível de acontecer no mundo real, por exemplo.
Ninguém é obrigado
Muitos comentários tendenciosos apareceram na rede desde o anúncio da EA sobre a inclusão do futebol feminino, o que ainda é, infelizmente, muito comum no meio de videogames. A realidade é que nos tempos atuais não há mais espaço para comentários machistas ou pejorativos de qualquer gênero. Uma inclusão de uma liga no jogo não te obriga a jogar com ela, mostra apenas que novos horizontes podem ser expandidos e que a empresa está interessada em atrair mais um público para o jogo.FIFA 16 será o mesmo se o jogador escolher jogar eternamente com o Real Madrid ou se decidir experimentar as novas mecânicas adicionadas do futebol feminino. Quando uma pessoa não se simpatiza por um time, ela simplesmente vai escolher não controlá-lo. É uma pena que parte dos jogadores realmente vá ignorar esta parte do jogo, mas é importante que as seleções femininas estejam ali pelos diversos motivos já abordados.
Apenas o começo
Quem sabe esta adição não seja apenas um teste para que, no futuro, tenhamos até mesmo um FIFA exclusivo para o futebol feminino, com direito a ligas de peso como a americana e a de alguns países europeus. Se a fórmula para o FIFA 16 der realmente certo, essa possibilidade certamente será discutida. Fica o desejo de que futuramente tenhamos um Ultimate Team com as jogadoras do feminino também.FIFA 16 será lançado no dia 22 de setembro para PlayStation 4, Xbox One, PlayStation 3, Xbox 360 e PC. Mais informações e detalhes a respeito do jogo devem ser anunciados durante a conferência da Electronic Arts na E3, marcada para 15 de junho.
"Nós não estamos aqui para assistir. Nós estamos no jogo!"
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Ana Carolina