A série Heroes of Might and Magic começou em 1995 com o lançamento de seu primeiro título pela New World Computing (também conhecida como NWC). Sua jogabilidade, misturando RPG e estratégia por turnos, foi baseada em King's Bounty de 1990 e na série de RPGs em primeira pessoa Might and Magic, que iniciou em 1986, ambos lançados pela mesma NWC. Com o sucesso do primeiro jogo, a NWC lançou Heroes of Might and Magic II em 1996. Foram três anos até o lançamento de Heroes of Might and Magic III em 1999, que mesmo com o jogo chegando a sua sétima versão continua sendo o mais popular da franquia até hoje. Conheça ou relembre um pouco mais do motivo desse sucesso.
No que o jogo se baseia?
Basicamente a série Heroes of Might and Magic te aloca um campeão inicial (também conhecido por herói) que lidera um grupo de tropas. Seu objetivo é reunir recursos espalhados ao longo de uma região para poder construir melhorias em uma cidade e poder contratar mais tropas. Eventualmente você se torna poderoso o suficiente para conquistar outras cidades e derrotar seu oponente. Parece simples, não?São tantas coisas a serem visitadas que você pode se perder no começo |
Porém, são tantas possibilidades de estratégias aqui que não fica tão simples. Começando com as diferentes facções, que por sua vez possuem diferentes heróis e tropas com características diferentes. Os recursos do mapa são limitados e protegidos por criaturas neutras que não vão sair do lugar sem uma luta. Fora que você tem uma limitação de movimentos por dia e de tropas que podem ser contratadas ao longo de uma semana. É possível contratar um segundo herói e dividir suas tropas entre os dois para explorar mais rapidamente, ou então focar suas atividades em um único herói para torná-lo poderoso mais rapidamente para ficar só nesse exemplo.
Explicando um pouco mais, vamos começar pelas diversas facções. O primeiro jogo possuía quatro, o segundo seis, enquanto são nove em Heroes of Might and Magic III. Cada uma reúne tropas para serem recrutadas em uma cidade conforme seu tema principal:
- Castle: Eles se organizam como um tradicional exército medieval, com a adição de grifos e anjos em suas fileiras. Seus heróis são cavaleiros e clérigos, e são vistos como uma das três facções boas.
- Rampart: São moradores das florestas, como elfos, centauros, anões, unicórnios, pegasi, e dragões verdes e dourados. Seus heróis são rangers e druidas. Também são uma das três facções boas.
- Tower: Eles representam magos, junto a criaturas místicas como gênios e suas criações, como gárgulas e golems. Seus heróis são alquimistas e magos. É a última das facções boas.
- Inferno: Demônios e seus serviçais, como cães do inferno, se estabelecem aqui. Os heróis do Inferno são demoniacos e heréges. Eles são uma das facções malignas.
- Necropolis: Mais parecendo um grande cemitério do que uma cidade, essa é facção dos mortos-vivos. Esqueletos, zumbis, fantasmas, liches e vampiros fazem parte desse grupo. Seus heróis são cavaleiros negros e necromantes, e fazem parte do grupo das facções malignas.
- Dungeon: São cidades subterrâneas, habitadas por harpias, medusas, manticoras, minotauros e dragões vermelhos e negros. São liderados por suseranos e feiticeiros, assim como a última das facções malignas.
- Stronghold: Aqui temos bárbaros organizados em grupos tribais, governados pela força bruta. Goblins, orcs, ogres, cíclopes fazem parte dessa cidade, junto a pássaros-trovão e behemoths. Seus heróis são bárbaros e magos de batalha, e são vistos como de alinhamento neutro.
- Fortress: São fortalezas criadas em pântanos, protegidas por gnolls, homens-lagarto, basiliscos, gorgonas, wyverns e hidras. Seus hérois são o senhor das feras e bruxos, e também são de alinhamento neutro.
- Conflux: As unidades dessa facção já existam na versão inicial do jogo, porém não podiam ser recrutadas em uma cidade até o lançamento de uma expansão. Aqui encontramos manifestações dos elementos da natureza, como ar, água, terra e fogo, além de fadas e fênix. Seus heróis são caminhantes dos planos e elementalistas, e compõem a última facção neutra.
Cada uma das cidades tinha uma atmosfera própria. Da sombria Necropolis... |
...até a brilhante e viva Castle. |
Você reparou que cada facção possui dois tipos de herói? Cada um tem um foco em força ou magia, daí o título da série ser Might and Magic. Heróis focados em combate aprendem atributos e habilidades que melhoram suas tropas no campo de batalha conforme ganham níveis. Já os focados em magia recebem melhorias nos poderes e efeitos de seus feitiços. Com um total de 128 heróis e 26 habilidades, você tinha diversas oportunidades para molda-los em suas estrategias favoritas.
Como em um RPG, seu herói ganha níveis, aprende habilidades e até mesmo equipa itens. |
Mas e o combate?
Ao se cruzar com inimigos no mapa eramos jogados à interface de combate. Aqui, as tropas caminham por turnos em um campo de hexagonos. Cada exército se posiciona de um lado do mapa de combate, que pode ter obstáculos no caminho. Seu objetivo é derrotar todos os oponentes, ou que ele fuja ou se renda se for um herói.Algumas batalhas podiam conter ainda muralhas caso você invadisse uma cidade. |
Cada unidade é representada por um único sprite, com um número abaixo dela. Esse número representa a quantidade que você possui daquela mesma unidade, e quanto mais gente mais estrago ela pode realizar. Quando uma unidade chega a zero, o sprite cai no chão, representando que todos ali estão mortos.
Algumas unidades possuem ataques à distância, como arqueiros, mas no geral você precisa se aproximar e lutar corpo a corpo. Alguns efeitos também podiam entrar em cena, como moral, sorte e habilidades especiais. A moral podia dar um turno extra de atuação, ou cancelar sua ação naquele turno. Já a sorte podia aumentar ou diminuir dano que a unidade causava. Por último, algumas unidades possuiam habilidades especiais, como atacar duas vezes por turno, desabilitar oponentes ou se regenerar. O uso correto dessas habilidades podia virar o rumo de combates complicados.
Durante sua vez no combate, também era possível utilizar magias com seu herói. As magias podiam ser dano direto ao inimigo (como um raio), benéficas às suas tropas (como bônus de dano nos ataques), maléficas aos inimigos (como redução de defesa) ou alterar o campo de batalha (como remover obstáculos). Seu uso correto ajudava muito nos combates e inclusive algumas unidades tinham acesso a elas.
Entrando no mundo de Erathia
As histórias daqui são vividas no fictício reino de Erathia, baseado em cidades Castle. O rei Gryphonheart fora assassinado e o reino invadido por diversos exércitos vindos dos reinos de demônios e criaturas subterrâneas. Além disso, as fronteiras distantes do reino estão sendo invadidas por bárbaros e criaturas dos pântanos.A esperança para o retorno da paz à Erathia é a chegada da rainha Catherine Ironfist, filha do rei póstumo e esposa de um dos protagonistas do segundo jogo da série. Ela retorna com um exército para retomar sua casa, e eventualmente consegue o apoio de Bracada, reino dos magos e dos elfos de Avlee. A força conjunta dos três reinos consegue derrotar os invasores.
Catherine foi uma importante estrategista para as diversas batalhas ganhas. |
Mas essa não era a única ameaça presente. Necromantes responsáveis pelo assassinato do rei Gryphonheart tentaram ressuscitá-lo como um morto-vivo para liderar suas tropas e dominar os reinos em conflito. Porém, o rei se tornou ainda mais poderoso após ser ressuscitado e sobrepuja os necromantes que tentavam controlá-lo. Resta aos necromantes pedirem ajuda à rainha Catherine e juntos pararem o antigo rei, que perdeu sua consciência após ser ressuscitado como um lich.
As histórias se desenrolam e complementam durante diversos mapas das sete campanhas no jogo original. Além disso, mais 13 campanhas foram incluídas nas duas expansões lançadas para o jogo, que contam o planejamento dos eventos antes da guerra e as consequências da mesma para os diversos reinos envolvidos.
As campanhas eram liberadas conforme você terminava a anterior |
Também era possível jogar apenas um mapa por diversão ou com amigos, a partir de diversos cenários prontos para serem jogados, ou que podiam ser criados do zero a partir do editor de mapas incluso. As opções de multiplayer podiam ser hotseat (todos no mesmo computador, jogando durante seu turno), via uma rede já estabelecida ou via modem (exclusivamente para dois jogadores). Dava um trabalho danado jogar discando via modem, já que a velocidade da comunicação discada era baixa.
A história fora da fantasia
O desenvolvimento do terceiro capítulo da franquia começou em 1997, após a NWC ter sido adquirida pela 3DO Company (sim, é a mesma empresa responsável pelo console 3DO). A ideia da 3DO era entregar uma sequência maior e melhor em todos aspectos que o anterior e isso começava pelo estilo de arte. A ideia dos desenvolvedores era um estilo mais realista, diferente do aspecto cartunesco dos anteriores.O jogo incluiu novas facções, gráficos muito mais polidos, complexidade maior para o sistema de magias, mapas com níveis subterrâneos e um poderoso editor de mapas para que fãs pudessem criar mapas semelhantes aos já contidos no jogo. E conseguiram tudo isso só alterando a engine de Heroes of Might and Magic II. Como não precisaram criar uma nova do zero, conseguiram focar o período de desenvolvimento restante em polir e balancear ainda mais a terceira versão, até seu lançamento em 28 de fevereiro de 1999.
O legado da fantasia
A recepção do jogo foi bem positiva, recebendo notas altas de revistas e sites na sua época. Não demorou para que lançassem para ele duas expansões, Armaggedon’s Blade e The Shadow of Death, assim como uma série de jogos lançados em capítulos baseado em sua engine, chamado Heroes Chronicles. Ele ainda deu origem aos jogos de RPG para PC e PS2, Might and Magic VII: For Blood and Honor e Might and Magic VIII: Day of the Destroyer, lançados em 1999 e 2000 respectivamente.Infelizmente Heroes of Might and Magic 3 foi o último capítulo bem-sucedido da série por um longo tempo. A 3DO Company acelerou o lançamento do quarto jogo, que foi lançado com alguns bugs, uma direção de arte estranha e diversas mudanças em características que não agradaram aos fãs, tendo uma recepção fraca e baixas vendas.
Como a 3DO Company faliu em 2003, as diversas propriedades intelectuais pertencentes a ela foram vendidas e a franquia Might and Magic não foi excessão. Adquirida pela Ubisoft por 1,3 milhão de dólares, a série foi rebatizada para Might and Magic: Heroes e teve seu quinto episódio lançado em 2006, ignorando as mudanças do quarto lançamento e voltando às características do terceiro jogo. Sua boa recepção levou ao desenvolvimento do sexto em 2011 e o sétimo deve ser lançado durante o segundo semestre de 2015. Fora isso, recebeu diversos spin-offs, como Dark Messiah of Might and Magic lançado para Xbox 360, o jogo para browsers Might and Magic: Heroes Kingdoms e o divertido Might & Magic: Clash of Heroes para o Nintendo DS.
Em janeiro de 2015, Heroes of Might and Magic 3 ganhou uma versão repaginada em HD, atualizando os sprites das unidades e texturas dos mapas. Porém, o conteúdo incluiu apenas a primeira versão do jogo, ignorando as expansões que já estavam disponíveis há 15 anos. Fora isso, as animações não funcionam bem, aparentando um frame rate abaixo do que deveriam. Mas pelo menos essa nova versão também recebeu ports para Android e iOS, aumentando o número de pessoas que podem voltar a apreciar esse clássico.
A versão HD pode ser encontrada nas principais lojas virtuais |
E você, leitor, tem boas memórias com Heroes of Might and Magic 3? Gostaria de conhecer mais sobre a série? Deixe sua visão do assunto nos comentários.
Revisão: Alberto Canen
Capa: Nívia Costa