Os melhores jogos inspirados em livros

Videogame também é cultura: confira alguns dos melhores jogos influenciados por produções literárias.

em 12/05/2015
Muito se fala da influência do cinema nos videogames. Sendo eles uma mídia mais velha e estabelecida, tal influência até faz sentido. Mas, muitos jogos receberam influência de outra mídia, muito mais antiga e tradicional: a literatura. Selecionamos aqui alguns dos melhores jogos com inspirações literárias — só não vale comentar que “o livro é muito melhor”!


10 — A Hitchhiker’s Guide to the Galaxy (PC)

Lançado em 1984, essa ficção interativa é bem fiel ao clássico de ficção científica e reconta muitos dos eventos do primeiro livro. Usando um analisador de texto, similar aos primeiros adventures como Zork, o jogador tinha que digitar os comandos para interagir com o mundo. O game interpretava palavras como “olhar”, “ir para o norte” e “pegar objeto”, transformando-as em ações dentro do mundo digital… ou não. Muitos comandos simplesmente não eram compreendidos, criando situações em que o jogador não sabia o que escrever para resolver os puzzles e prosseguir na história — um mal que assombrava vários jogos do gênero na época.

Mesmo com esses empecilhos, graças a sua história e grande senso de humor, o game fez bastante sucesso. Mesmo hoje em dia ele é divertido de se jogar, em especial por causa das cômicas respostas dadas pelo interpretador de texto (tente escrever “panic” para ver o que acontece).

09 — Parasite Eve (PS)

A primeira (e única, excetuando-se o jogo de DS Nanashi no Game, que nunca saiu do Japão) série de survival horror da Square Enix foi concebida como uma sequência do romance homônimo escrito por Hideaki Sena. Tanto o jogo quanto o livro lidam com as ações de uma forma de vida consciente chamada Eve, que pode controlar a mente de humanos e fazê-los entrar em combustão espontânea. Após falhar em criar uma forma de vida mitocondrial perfeita no livro, Eve retorna, achando uma nova hospedeira na forma de Melissa Pearce. Somente a protagonista do jogo, Aya Brea, pode enfrentá-la, por ser imune aos seus efeitos.

Apesar de ter feito bastante sucesso no Japão, ganhando prêmios e adaptações cinematográficas, o livro só chegou ao ocidente em dezembro de 2005 — e apenas em inglês. Já o jogo é considerado um clássico cult do PlayStation e está disponível PSN.

08 — Tom Clancy’s Rainbow Six (Multi)

Tom Clancy é, provavelmente, o único escritor cujo nome é mais associado aos jogos do que aos seus trabalhos literários. Não é à toa: seu nome está em uma miríade de games, de FPSs militares à títulos de espionagem. Tudo começou com Tom Clancy’s Rainbow Six, um shooter tático que adaptava a história do sexteto anti-terrorista Rainbow.

Curiosamente, o jogo foi lançado antes do livro. Tom Clancy fundou a Red Storm Entertainment, empresa que desenvolveu o título. A princípio, a equipe faria um game sobre uma equipe especializada em resgatar reféns de terroristas, baseando-se na organização real FBI Hostage Rescue Team. Quando eles descobriram que Tom Clancy estava trabalhando em um livro sobre terroristas e uma equipe que os combatia, eles resolveram reescrever as missões para se encaixar no universo do livro.

Como saiu antes do livro ser finalizado, a trama do jogo e do livro se dividem em certa parte. Mas não tem problema: no final, os heróis vencem do mesmo jeito.

07 — American McGee’s Alice (Multi)

Concebido como uma sequência não oficial dos romances de Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho e O Que Ela Encontrou Por Lá, a versão de McGee da clássica personagem é muito mais sombria e macabra. Ela está mais velha, cínica, brutal e, o mais importante, insana. Sendo fruto de sua mente, o País das Maravilhas reflete isso, tornando-se um lugar (ainda mais) perigoso.

Vários personagens dos romances reaparecem para ajudar Alice, incluindo o Chapeleiro Maluco, o Gato de Cheshire e a Lagarta Azul, todos vítimas da opressão da Rainha de Copas e de seu fiel servente, o Jaguadarte. A jogabilidade mistura elementos de action-adventure e plataforma em ambientes tão malucos e criativos (e só um pouco mais sombrios) que os dos livros. Uma sequência, intitulada Alice: Madness Returns, foi lançada anos depois, para PC, PS3 e X360.

06 — Metro 2033 (Multi)

No livro homônimo de Dmitry Glukhovsky, vinte anos após uma guerra nuclear devastadora, os resquícios de humanidade agora vivem no subterrâneo, sob a proteção das linhas abandonadas do antigo sistema de metrô de Moscou. Habitado por várias facções humanas em constante conflito, o subsolo só não é mais perigoso que a superfície, onde hordas de mutantes, anomalias e até fantasmas fazem sua morada.

A adaptação do livro para jogo eletrônico pega a essa ambientação distópica e a transforma num fascinante shooter em primeira pessoa com elementos de survival horror. Recursos são escassos, armas são improvisadas e balas são tão importantes que agem como dinheiro. No game, sua missão é guiar o jovem Artyom enquanto busca ajuda para proteger a estação em que vivem misteriosas criaturas chamadas “Dark Ones”. As escolhas que o jogador faz no decorrer da aventura determinam o destino do mundo, com duas conclusões possíveis ao final do jogo.

05 — I Have No Mouth and I Must Scream (PC)

Enquanto a maioria das adaptações de livros condensa a trama da obra original, este jogo faz exatamente o contrário: expande, e muito, a história em que se baseia. I Have No Mouth and I Must Scream é apenas um conto de poucas páginas — influente e criativo, mas relativamente curto. Já o point-and-click adventure lançado em 1995 mostra o verdadeiro potencial do enredo, criando uma fantástica aventura sobre a natureza humana e a inteligência artificial.
Ambientado num futuro distante, em que um super computador chamado AM destruiu toda a humanidade com exceção de cinco pessoas, o jogo lida com vários assuntos polêmicos, como insanidade, estupro, paranoia e genocídio. Para ser bem sucedido, o jogador deve ajudar cada um dos cinco sobreviventes a mostrar que são melhores do que as máquinas por serem capazes de redimir seus erros — tarefa nada fácil, já que os ambientes são artificialmente construídos por AM para explorar as falhas dos personagens.

04 — The Witcher (PC)

Um dos casos mais bem sucedidos de adaptação de livros para jogos. Na verdade, o sucesso dos jogos foi tanto que refletiu na comercialização dos livros: as obras do escritor polonês Andrzej Sapkowski só foram traduzidas para o inglês e português depois das ótimas vendas do primeiro game da série.

Com características comuns a muitos RPGs e um sistema de combate hack-and-slash simples, o que realmente impressiona nas aventuras do caçador de monstros Geralt of Rivia é o mundo fantástico e personagens cativantes. O estúdio CD Projekt RED conseguiu recriar a mitologia eslávica usada no material literário com grande efeito, além de preservar o enorme carisma de seus personagens.

03 — Digital Devil Story: Megami Tensei (NES)

É de conhecimento comum que a popular série Persona nasceu como um spin-off de Shin Megami Tensei. Fato menos conhecido é que este jogo é, por si só, um spin-off de outro ainda mais antigo: Difital Devil Story: Megami Tensei. Lançado em 1987, o game é baseado na trilogia literária Digital Devil Story, escrita por Aya Nishitani.

Tanto o livro quanto o RPG lidam com a tentativa de vingança do estudante Akemi Nakajima, que usa seus conhecimentos de informática para criar um programa que conjura demônios do Makai (infelizmente, mesmo tendo anos de experiência com programação, os meus programas só conseguem conjurar bugs). Seu projeto acaba dando certo demais e uma horda de demônios invade o mundo.

As sequências do jogo se afastaram do livro, ganhando vida própria e com tramas bem diferentes — além de terem criado várias subséries e spin-offs mais famosos que o original. Contudo, a ambientação de seus sucessores continua a abordar demônios e o uso de tecnologias arcanas para controlá-los.

02 — Dune II: The Building of a Dynasty (PC, MD)

O mundo de Dune é, no mínimo, complexo. Frank Herbert, autor da série de ficção científica, conseguiu criar um universo multifacetado e detalhado, cheio de simbolismos, referências à religiões e alegorias do mundo real. Adaptar uma história destas em sua integridade não seria tarefa fácil. Felizmente, o Westwood Studios conseguiu destilar os melhores elementos dos romances sem prejuízos, preservando suas características essenciais — e, de quebra, ainda fez um dos games mais influentes da indústria.

Dune II conseguiu codificar todas as características consideradas essenciais hoje em dia para os jogos de estratégia em tempo real. Obras anteriores fundaram o gênero, mas foi este título que estabeleceu o formato e criou as mecânicas com que estamos acostumados, sendo imitado por todos seus sucessores.

1 — BioShock (Multi)

Curiosidade: o game designer Ken Levine estudou drama e literatura na Vassar College, faculdade privada focada em artes liberais. Talvez isso explique porque seus jogos possuem histórias tão complexas e profundas, com várias referências à literatura e filosofia.

Sua obra mais famosa, BioShock, não é exceção. As influências de A Revolta de Atlas (Atlas Shrugged) são explícitas na trama, personagens e estética. Criado por Ayn Rand, o livro servia como fundamentação de sua filosofia objetivista. O romance narra a história de um empreendedor decepcionado com o intervencionismo americano na economia que decide criar sua própria utopia, onde artistas, cientistas e gênios poderiam trabalhar sem entregar os frutos de seu suor para o Estado. Soa familiar?

O game acaba sendo uma desconstrução da corrente filosófica de Ayn Rand. Rapture, a cidade submarina do título, é nada menos que uma utopia objetivista falha e levada às suas últimas consequências, transformando-se numa distopia pós-humanista em seu processo de decadência. BioShock acaba sendo não apenas um excelente game, mas também uma fantástica crítica literária.

A influência da literatura em toda nossa cultura é gigantesca, não somente nos games. Estes são apenas alguns dos vários jogos influenciados por excelentes livros — e como há uma infinidade de livros bons, há também muitos mais jogos inspirados direta ou indiretamente por obras literárias.

E você, caro leitor, sentiu falta de algum jogo na lista? E que livros gostaria de ver recebendo adaptações para os games? Deixe sua opinião nos comentários!

Revisão: Jaime Ninice

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