Análise: Fire (PC) exige inteligência e curiosidade numa aventura pré-histórica

Combinando genialmente a criatividade e o planejamento, Fire nos apresenta puzzles geniais, porém simples em diversos aspectos

em 21/05/2015
Seguindo a linha dos jogos de aventura da desenvolvedora Daedalic Entertainmen, Fire (PC) não apenas nos apresenta a um universo orgânico e visualmente belo, mas também requer inventividade e vontade de explorar os vários cenários do jogo. Na pele do homem das cavernas Ungh, você deverá superar vários ambientes, repletos de segredos e puzzles, para recuperar o fogo de sua tribo. Permeando tudo isso está uma simples e funcional mecânica point-and-click, que nos instiga a clicar em todos os elementos do cenários atrás de reações engraçadas, itens colecionáveis e respostas para os enigmas.

Atrás da chama

Já que a pré-história é justamente o momento anterior à invenção da palavra, Fire dispensa tutoriais ou diálogos para nos inserir em sua mecânica de jogo e enredo. E realmente não é necessário nada disso para nos colocar dentro do universo do game. Ungh, um ingênuo (para não dizer burro) neandertal que, ao cair no sono em sua tarefa de vigiar o fogo de sua tribo, deixou a chama se apagar. Agora, exilado de seu povo, ele deve encontrar uma nova fonte de fogo.
Nessa missão, o mouse será seu fiel companheiro. Com ele, você deverá clicar nos elementos do cenário para estimular reações, que poderão ser meramente visuais ou a chave para resolver um enigma. A cada novo desafio completo, há sempre um item colecionável como recompensa. Ao chegar ao fim de um estágio, um novo cenário, repleto de elementos únicos e uma ambientação especial, é liberado.

Inteligência pré-histórica

Os enigmas de Fire são, no geral, bem inventivos - uma marca registrada da Daedelic, diga-se de passagem. À primeira vista, é difícil adivinhar a solução para o puzzle, mas, após experimentar clicar em alguns elementos do cenário e ir combinando suas reações, encontramos o princípio lógico por trás do desafio. Nesse sentido, Fire acerta muito bem, garantindo uma progressão na resolução das charadas que combina genialmente uma inicial curiosidade desmedida com um posterior cálculo e planejamento das ações. E, de fato, quando fomos apresentados ao jogo pelo seu desenvolvedor, Kevin Mentz, na E3 2014, era exatamente essa a proposta.
Você também vai começar os estágios com essa cara de idiota...
O problema desses enigmas é seu nível de dificuldade sempre muito incerto. Não há exatamente uma progressão no nível dos desafios, sempre trazendo dúvidas quanto à complexidade de cada novo cenário. E o pior é que não predominam puzzles difíceis, mas, no geral, desafios fáceis e com muita reutilização de soluções. Fire traz uma sensação de originalidade e genialidade do início até a metade do jogo, mas, daí em diante, já não consegue mais manter a qualidade de seus desafios.
... mas logo depois estará sambando na cara dos enigmas
Isso obviamente pode ser bom para jogadores menos experientes nesse tipo de jogo, mas, mesmo para esses, há uma estagnação na criatividade por trás de Fire. Ainda assim, quem se interessar pelo desfecho da história provavelmente se divertirá resolvendo os enigmas, embora o enredo seja simples ao ponto de não compensar a estrutura desbalanceada de jogo. E isso é até meio frustrante, uma vez que, como veremos a seguir, o universo de Fire é absolutamente carismático e instigante. Uma pena que só exploramos superficialmente, seria muito bom poder conhecer mais seus personagens, enredos, mitologia...

Um mundo que dá vontade de clicar

Fire é mais um dos títulos que renova a beleza e o carisma de visuais bidimensionais. Tudo no jogo é intrigante graça a seus gráficos muito bem constrúidos, com animações igualmente orgânicas, efeitos visuais ótimos e composições que por vezes necessitam de mais de um cenário para serem vistas por inteiro. O carisma, então, é uma característica fundamental do título. Nesse aspecto, só há elogios a Fire.
Clicar no cenário só não é mais viciante do que a substância que Ungh consome nessa parte do jogo
O único ponto negativo é que nem todos os elementos do cenário são clicáveis. Isso torna mais objetiva a resolução dos enigmas, mas também tira um pouco da diversão que alguns point-and-clicks, como Freddi Fish, têm. Isso até distoa um pouco da personalidade de Urgh. O jeitão ingênuo e curioso do neandertal casa tão bem com a proposta de descobrir a reação de cada mínimo detalhe do cenário, mas nem sempre há essa opção. A trilha sonora também é muito boa. As canções normalmente trazem temas ambiente, até para não comprometer o raciocínio, mas que são muito bem feitas.

O fim da busca

Após algumas horas desbravando o universo pré-histórico de Fire, dá para sentir o quão inteligente, bem polido, bonito e interativo ele é. Embora nem todos os aspectos do jogo sejam excelentes, é um point-and-click interessante, afinal, a escassez de títulos desse tipo é alta. Mesmo com os enigmas inconstantes em qualidade e nível de dificuldade, falta de interação com alguns elementos do cenário e enredo simples até demais, Fire ainda assim diverte, instiga a criatividade e raciocínio lógico e impressiona com seus visuais 2D. Disponível por R$19,90 na Steam, Fire é uma boa pedida para fãs do gênero, mas com certeza não é a melhor dentre elas.

Prós

  • Enigmas combinam criatividade e experimentação com raciocínio e planejamento;
  • Universo carismático;
  • Cenários, personagens e animações bidimensionais muito bem feitos;
  • Trilha sonora num tom ótimo para o tipo de jogo;

Contras

  • Nem todos os enigmas seguem uma boa progressão de dificuldade ou têm o mesmo nível de inventividade e originalidade;
  • Os cenários não são tão interativos quanto poderiam ser.
Fire — PC — Nota: 7.5
Capa: Daniel Serezane

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