Análise: Oceanhorn (PC) é uma aventura divertida, porém simples

Embarque em uma jornada por um grande oceano nesse título indie claramente inspirado em Zelda.

em 16/03/2015

The Legend of Zelda é uma série que serve de inspiração para inúmeros jogos, afinal, explorar mundos repletos de segredos e personagens carismáticos é uma atividade muito divertida. Oceanhorn: Monster of Uncharted Seas é um desses títulos que usa as aventuras de Link como inspiração. Lançado inicialmente para iOS e agora adaptado para PCs, essa aventura tem um vasto oceano que lembra principalmente The Wind Waker (GC/Wii U). Será que as inspirações foram suficientes para construir uma experiência memorável?

Um jovem em busca do pai

Arcadia é um mundo que atualmente é só a sombra de um passado glorioso. Ao invés de grandes continentes, este lugar é composto de várias ilhas. Um jovem garoto é um dos habitantes desse mundo. Ele vive em uma pequena ilha em companhia de um eremita — sua mãe já faleceu e seu pai desapareceu no mundo.

Tudo muda quando o rapaz descobre que seu pai sumiu por tentar derrotar uma grande criatura maligna chamada Oceanhorn, sendo que existe a possibilidade de que ele ainda esteja vivo. Sendo assim, o garoto sem nome sai em uma jornada pelos mares a fim de tentar encontrar seu pai, entender o que aconteceu com Arcadia e descobrir os mistérios por trás de Oceanhorn.

Explorando um mundo de ilhas

Oceanhorn é um título de aventura e ação, inspirado fortemente por jogos da série Zelda. O herói é munido de espada e escudo e tem que explorar várias ilhas para prosseguir na história. Os locais estão repletos de segredos para serem encontrados e inimigos para serem derrotados, além de cavernas e calabouços. Conforme avança, o protagonista adquire novos equipamentos, como arco e flecha, feitiços e uma bota que permite realizar saltos — a posse desses itens possibilita alcançar novas localidades.

Para viajar pelas ilhas, o herói conta como um barco, lembrando muito a ideia básica de The Legend of Zelda: The Wind Waker (GC/Wii U). Mas ao contrário da aventura de Link e King of Red Lions, em Oceanhorn você não pode explorar o mundo livremente: o barco se move automaticamente para o local desejado. Outro ponto interessante é que as ilhas precisam ser descobertas previamente, seja conversando com habitantes, investigando placas ou até mesmo lendo mensagens em garrafas. Em todas as minhas viagens, eu tentava explorar todos os cantos dos cenários para tentar encontrar novas ilhas.

Explorar as ilhas de Oceanhorn é uma atividade divertida. É interessante vasculhar todos os cantos em busca de itens e segredos. Além da recompensa em forma de objetos, o título incentiva a exploração por meio do sistema de experiência: o personagem recebe pontos e adquire níveis, que dão algumas vantagens para o herói. A maneira mais fácil de adquirir experiência é derrotando inimigos, mas a melhor maneira de subir de nível é completando as missões. Inúmeras tarefas opcionais estão disponíveis, como “derrote três inimigos simultaneamente” ou “nade por 500 metros”. Algumas são bem simples e outras são bem desafiantes. Em inúmeros momentos eu parei o que estava fazendo só para tentar completá-las.

Aventura de ótimo visual

Oceanhorn chama a atenção pelo seu visual: o mundo tem cores vibrantes, as ilhas são bonitas e com muitos detalhes. Graficamente o jogo é competente, por mais que alguns objetos sejam simples e apresentem texturas medianas — não dava para esperar algo muito complexo de um título que foi lançado originalmente somente para iOS, por mais que esteja bem melhor que a versão mobile. De qualquer maneira, o visual é bem agradável.

A parte sonora conta com composições tranquilas e memoráveis, sendo um dos grandes destaques do jogo. Infelizmente as composições de Nobuo Uematsu (de Final Fantasy) e Kenji Ito (de Secret of Mana) que apareceram na versão de iOS não estão presentes na adaptação para PC. Por conta do número menor de faixas, algumas músicas são repetidas durante a aventura.

Uma infinidade de caixas, botões e alavancas  

Com bom visual, ótima música e uma infinidade de lugares para explorar, Oceanhorn tinha tudo para ser uma experiência ótima, mas o jogo peca justamente no mais importante: o design pobre da aventura.

O primeiro ponto problemático são os puzzles (se é que dá pra chamar disso). Eles consistem basicamente em apertar botões, empurrar caixas e acionar alavancas. Acontece que é tudo muito fácil e simples de resolver. Encontrou uma porta fechada? Basta procurar nas proximidades por um botão ou alavanca para abri-la, simples assim. A solução de todos esses enigmas é praticamente igual — contei nos dedos as vezes que precisei utilizar algum dos equipamentos ou feitiços. Esse padrão simples se repete por toda a aventura e se torna cansativo rapidamente.


Outra questão fraca é a direção de arte e ambientação. O visual do título é ótimo, mas tudo é sem inspiração: os temas dos locais são genéricos (florestas, desertos, ilhas tropicais); os inimigos consistem em besouros e caveiras muito comuns do gênero; a trama é muito básica. Para piorar, a variedade de locais e inimigos também é bem reduzida, fiquei com a sensação de estar explorando praticamente os mesmos locais sempre.

Por fim, Oceanhorn tem baixo desafio. Os inimigos são derrotados muito facilmente, itens como corações e bombas aparecem com abundância e morrer é praticamente inofensivo — o personagem reaparece na última porta atravessada, com a energia quase completa. Uma exceção são os confrontos com os chefes, mas pelos motivos errados: são batalhas difíceis por conta do dano infligido por esses inimigos e não pela complexidade desses combates.


É realmente uma pena que Oceanhorn tenha tomado como inspiração de Zelda somente o visual e deixado de lado outras características importantes como os puzzles inteligentes e universo inspirado. Talvez a simplicidade se justifique por conta dele ser uma adaptação de um jogo lançado originalmente para smartphones (é fácil ver as limitações impostas por ter uma tela sensível a toque como meio padrão de controle). Os desenvolvedores até fizeram modificações na versão de PC — uma pena que aparentemente foram alterações pequenas.

Potencial mal aproveitado

Oceanhorn tinha tudo para ser uma aventura memorável, mas o resultado é um jogo mediano. Gostei muito do visual, da música e do extenso mundo repleto de segredos — foi muito divertido explorar cada cantinho de Arcadia. Entretanto me senti frustrado e decepcionado com a extrema simplicidade dos puzzles, o baixo desafio e temática genérica. É possível sim se divertir com Oceanhorn, só não espere uma experiência profunda e recompensadora.

Prós

  • Mundo extenso e repleto de segredos;
  • Ótimo visual;
  • Bela trilha sonora.

Contras

  • Direção de arte pouco inspirada;
  • Puzzles muito simples;
  • Pouca variedade de desafios e inimigos;
  • Baixo desafio.
Oceanhorn: Monster of Uncharted Seas — PC — Nota: 6.5
Revisão: Alberto Canen
Capa: André Akama

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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