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League of Legends: O caminho para se tornar a lenda das lendas

O crescimento do e-esporte no Brasil embalado pelo fenômeno League of Legends e o sucesso de seus atletas profissionais.

em 26/02/2015

Um ambiente escuro quase que por completo, iluminado apenas pelos celulares dos fãs eufóricos na ansiedade do que está por vir. As luzes do palco começam a acender em azul e vermelho, o som grave de violoncelos tomam todo o local. A atenção de todos é atraída pela música de uma orquestra, que logo em seguida é substituída pelo som frenético de uma banda de rock. De repente, uma fumaça branca no centro do palco e um breve silêncio que logo se transforma em aplausos e gritos entusiasmados. A taça do campeonato surge prateada, grande e imponente.


Essa poderia ser a descrição da cerimônia de abertura da decisão de um grande evento esportivo, mas na verdade é da CBLol, a final brasileira de League of Legends, que aconteceu dentro de um Maracanãzinho lotado. O complexo esportivo que já sediou diversas modalidades e competições foi transformado em um caldeirão gamer, com o confronto entre as equipes CNB e-Sports Club e a KaBuM. As sete mil pessoas presentes e outras 116 mil acompanhando pela web, vibraram e comemoraram o feito inédito da vencedora KaBuM.


KaBuM erguendo o troféu após vencer a final da CBLol
“Essa final vai marcar para o resto da vida, estava acontecendo o sonho de todo jogador de League of Legends do Brasil. Entrar naquele estádio e ver o número de pessoas nos assistindo foi um pouco assustador e muito motivador, tivemos jogadores que se emocionaram e mal tinham palavras para descrever o que passamos, foi realmente incrível”, conta o ex-jogador da KaBuM e atualmente manager da equipe, Bruno Lima ou “Bit”, como é mais conhecido no universo de Lol.

Do passado ao presente

Até chegar ao momento de lotar um estádio com fãs entusiasmados, o e-sport teve que percorrer um longo caminho. Esses games não são novidades e ajudaram, por exemplo, a popularizar as lan houses no Brasil. É difícil encontrar alguém que não virou noites jogando Counter Strike, Ragnarök e, mais atualmente, Dota 2 e League of Legends.

Mas o início desse fenômeno é bem anterior às jogatinas nas madrugadas. Tudo começou em 1972, quando um pequeno grupo de estudantes da universidade Stanford, na Califórnia, teve a ideia de criar a primeira ‘Olimpíada Intergaláctica de Spacewar’, um pequeno jogo de computador em que duas equipes com cinco integrantes controlavam naves que deveriam lutar entre si e fugir de uma estrela no centro da tela circular de 10 polegadas.

A partir de então, os campeonatos progrediram junto com a evolução dos jogos, criando uma cultura, os gamers que não apenas jogam, mas transformam isso em um esporte. A paixão que levou milhares de pessoas ao Maracanãzinho exemplifica esse crescimento. Marc Merril, presidente da Riot Games, produtora de League of Legends, comparou o momento de estar em uma arena de e-sport lotada a uma procissão religiosa. Para ele, é incrível a comoção gerada, pois era fácil de duvidar que esse tipo de entusiasmo fosse capaz de fazer pessoas gastarem seu dinheiro para viajar milhares de quilômetros para ‘apenas’ assistir outras pessoas jogarem videogames.

Espectadores atentos vendo a final da CBLol dentro do Maracanãzinho
League of Legends é um MOBA que figura entre os títulos favoritos do gênero. Pela sua jogabilidade relativamente fácil e de rápida compreensão, atrai jogadores casuais, muitos dos quais sonham em um dia chegarem ao nível profissional. O reconhecimento financeiro também é outro atrativo desse universo, por exemplo, o CBLoL, em 2013, ofereceu mais de R$100 mil aos participantes da competição. Outro dado é que, neste ano, Lol foi o jogo que mais lucrou entre os MMO’s, tendo arrecadado 946 milhões de dólares.

Não é apenas um jogo

Fazer da diversão um esporte foi algo que a CNB e-Sports Club percebeu ser possível logo em 2001, quando foi criada a equipe de Counter-Strike batizada de ‘Canibais’, que depois deu origem à CNB. “Há alguns anos, acreditamos que competir em jogos eletrônicos se tornaria um dos esportes mais assistidos do mundo. Percebemos que mais do que um interesse em jogos eletrônicos, os integrantes da equipe tinham o sonho de ganhar dinheiro jogando videogame”, afirma Carlos ‘fury’ Junior, diretor financeiro da CNB. 

Para se tornar um jogador profissional, é preciso dedicação, inteligência no jogo e um pouco de sorte. Bruno “Bit” descreve como recrutam jogadores: “É preciso se destacar de alguma maneira para que consigamos enxergar seu potencial. Ter um ranking alto ajuda, pois frequentemente estarão em partidas contra os nossos jogadores, podendo nos impressionar de alguma maneira. Outro jeito bem comum é se destacar por times menores em campeonatos amadores”. 

Equipe da CNB eSport alinhada para começar uma partida
Mas, para quem acha que jogar profissionalmente é apenas ligar o computador e fazer a magia acontecer, está enganado. Os treinos são puxados e contínuos. Na KaBuM as seções de treinamento duram em torno de 8 horas, com horário especifico das 14h às 22h, em grupo contra outras equipes e treinos individuais fora do horário estipulado. Já a CNB imprime as mesmas oito horas de treinos, de segunda a sexta, no alojamento da equipe, onde os jogadores praticamente moram. 

Disponibilizar toda a estrutura para os gamers só é possível com patrocínio, Carlos destaca que o número de audiência que sua equipe alcança é o maior atrativo para os patrocinadores. “Hoje, temos números tão interessantes quanto clubes tradicionais de outros esportes, nosso público é muito segmentado o que contribui na exposição dos nossos parceiros”, diz.

Em contraponto, Bruno destaca a importância do atleta para o patrocínio: “Nós fazemos acordos entre membros, administração e os donos do KaBuM para uma avaliação do jogador. Pois, além da qualidade do jogo, também pesquisamos sua imagem, exposição entre o público e sua postura em eventos. Tudo isso é muito importante, já que representamos muitos patrocinadores”, conta. 

Jogadores profissionais de Lol têm salários que giram entorno de R$3 mil mensais. Os treinos, a estrutura e o patrocínio são todos voltados a um único desejo: o mundial. “No CBLol, eu estava torcendo para a CNB e agora no campeonato mundial eu realmente torci para a KaBuM”, confessa Paulo Cavalheiro, jogador e torcedor, que retrata o sentimento de todos os fãs. Com a conquista do nacional, estava a KaBuM a um passo de se tornar uma lenda. 

Um David x Golias digital

Após a etapa nacional, a KaBuM tinha que superar outro obstáculo para ser a primeira equipe brasileira a disputar o mundial, vencer a PEX Gaming, campeã da América Latina. O desafio foi superado, com os brasileiros vencendo com um expressivo 3 a 0 e, assim, carimbando seu passaporte até Cingapura. Com isso, os jovens jogadores, todos entre seus 17 e 25 anos, debutariam contra os gigantes internacionais. O sorteio os colocou no grupo D, contra times de ponta pela frente. A equipe Alliance (1° lugar na Europa), Cloud 9 (2° lugar na América do Norte) e Najin White Shield (3° lugar na Coreia). 

A falta de experiência acabou pesando para a equipe brazuca, que acumulou cinco derrotas e viu a Nejin White Shield e a Cloud 9 passarem no seu grupo. “O primeiro jogo eu achei que eles estavam nervosos, mas depois assistindo às outras partidas, o único pensamento que me ocorria era ‘Meu Deus…’”, comenta Paulo sobre as reações que teve assistindo as partidas pelo Twitch. 

Pedro "Irelia" Marcari comemorando um grande lance
Mas, mesmo eliminada, a equipe brasileira conseguiu tirar um coelho da cartola e venceu a poderosa e favorita Alliance, acabando eliminando-a da competição. “Conseguimos mostrar para o mundo que os times brasileiros realmente têm um nível alto, podem fazer boas partidas e até vencer times de fora”, enfatiza Bruno, que ainda destaca seu nervosismo por não estar mais jogando. “Quando se é jogador, o tempo voa durante uma partida, porque em poucos segundos uma jogada pode mudar tudo, mas vendo tudo isso de fora parece uma eternidade”, explica. 

A vitória sobre a Alliance não foi apenas marcante para os brasileiros, mas foi considerado “a mais emocionante da competição” pela Riot. ‘Bit’ se diz feliz por ter feito parte da historia e enxerga mudanças para o futuro. “Para nós, foi um reconhecimento muito legal, nunca imaginava que aconteceria depois de ter perdido as cinco primeiras partidas. Sei que o que fizemos irá motivar todos os times, pois mostramos que o Brasil tem potencial para disputar campeonatos lá fora e isso aumenta a confiança do cenário”, comemora. 

Ano novo, cenário novo

Se o ano de 2014 foi o ano em que o país todo descobriu a força do e-sport, 2015 começou muito bem encaminhado. A Riot anunciou a construção de um estúdio em São Paulo para transmitir as partidas do CBLol online oficialmente pelos seus canais no Twitch, You Tube e também na Azubu Tv. 

O local foi feito com os moldes dos outros estúdios pelo mundo, tendo duas cabines equipadas para as equipes, área separada para entrevistas e conversas contendo também duas mesas para narração e análises das partidas. 

O torneio deste ano conta com oito  equipes: a CNB eSports foi totalmente reformulada, jogadores de longa data deixaram a equipe, foi apostado no ex-treinador Kalec e aberto inscrições para novos jogadores. Com as mudanças e um novo patrocínio da Kyngston, a equipe passou a se chamar "CNB HyperX". 

Taça do mundial de League of Legends
A atual campeã KaBuM também sofreu mudanças, alguns jogadores deixaram a equipe por tempo indeterminado, passou a se denominar KaBuM Orange, já que sua 'irmã' mais nova, criada em agosto, juntou-se à competição nacional, a KaBuM Black. As duas equipes podem se enfrentar em fases que se afunilam. 

Ainda compõem o cartel as rivais paiN e Keyd Stars, INTZ Team, Jayob eSports e Dexterity eSport. Em agosto teremos mais uma finalíssima do torneio com as duas melhores equipes que terão o privilegio de disputar a partida novamente em um grande palco do esporte nacional, desta vez o e-sport irá entrar em campo no estádio do Palmeiras, a Arena Alianz Park em São Paulo. Assim como em 2014, quando fãs lotaram o Maracanãzinho, agora poderão invadir terras paulistanas. A capacidade será para 12 mil pessoas e a premiação para o campeão de R$150 mil. 

Para que os fãs não percam nada que vem acontecendo no torneio nacional, a Riot mais uma vez pensando no potencial que os brasileiros vêm apresentando, lançou um aplicativo para celular para ser acompanhado no melhor esquema “minuto a minuto” as partidas do campeonato. Este app já pode ser baixado para Android e iOS.

Já em andamento, a CBLol deste ano promete mais surpresas e uma emoção maior do que o torneio do ano passado. E com o reconhecimento mundial que o Brasil passou a ter, esperamos que a lenda das lendas seja brasileiro.

Revisão: Alberto Canen
Capa:  Felipe Araujo

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