Análise: Life is Strange EP 1 — Chrysalys (Multi) mostra que alterar o passado não traz a certeza do futuro

Alterar o tempo pode ser de muita ajuda, mas pode tornar seus problemas ainda piores.

em 05/02/2015
A vida é estranha. Além de ser um bom começo para se filosofar sobre nossa existência, Life is Strange  é o nome do novo jogo da Square Enix, desenvolvido pela DONTNOD, empresa francesa criadora de Remember Me. Nessa nova empreitada, os franceses resolveram desbravar o campo dos adventures, tão famosos atualmente, graças aos jogos Telltale.  Alias, da mesma forma que a criadora de The Walking Dead, Life is Strange é dividido em episódios, sendo que o primeiro dos cinco, Chrysalis, foi lançado no dia 30 de janeiro.



A vida é só uma ilusão?

Você começa controlando uma moça, no meio de uma tempestade, que tenta buscar abrigo em um farol próximo. Porém, ao chegar perto da estrutura, percebe que tem um furacão gigante perto da costa destruindo tudo ao redor. E quando o pior está prestes a acontecer…

... você acorda na sala de aula. Seria um sonho? Pois bem, ao acordar no ambiente escolar, você descobre que o nome da moça é Maxine Caulfield, uma jovem que acabou de completar 18 anos e, depois de passar os últimos cinco anos fora, volta para sua cidade natal para cursar Fotografia na universidade local.

E essa não é uma transição fácil. Depois de tanto tempo afastada, Max parece bem deslocada do resto das pessoas, ainda tentando se adaptar a nova realidade.

A história então prossegue até nossa protagonista se deparar com um incidente envolvendo um garoto, uma garota e uma arma. Escondida, ela assiste à cena e, quando o pior está prestes a acontecer…

...você acorda na sala de aula. E é aí que você descobre que não estava sonhando. Max, de fato, havia voltado no tempo!

Max usando o poder de voltar no tempo

A vida é cada escolha que tomamos

Mecanicamente, Life is Strange traz controles bem simplificados. Mesmo quem não é habituado a jogar point and clicks não deve encontrar dificuldades em conduzir o jogo.

O grande diferencial do título é a manipulação do tempo. Em praticamente qualquer momento do jogo, você pode voltar à linha temporal para desfazer/fazer alguma coisa diferente. Apesar desse vai e vem temporal, Max mantém todas as memórias do que acontece, permitindo que ela veja uma situação, volte alguns instantes e consiga tomar alguma ação para lidar com que vai acontecer.

Isso é interessante pois permite que você, por exemplo, consiga ver vários desfechos para a mesma cena e, então, decidir com qual vai seguir em frente. Enquanto o jogador não deixar o cenário, ela pode voltar quantas vezes achar melhor.

Esteja pronto para encarar as consequências do que fizer
Esse recurso pode dar a impressão que o jogo é muito fácil. Bom, não é bem assim. Life is Strange se foca muito na narrativa e nas interações com personagens. Existe alguns puzzles, mas coisas bem simples. O que vai pegar mesmo é como você lida com as pessoas.

Sendo essa uma das propostas do título, todas as suas escolhas irão gerar consequências. Por mais que seja possível manipular uma conversa momentaneamente, não tem como ter certeza no que aquilo vai dar a longo prazo. Contudo, nesse primeiro episódio, senti que eu fiz muito mais escolhas do que lidei com essas consequências. É bem provável que, nos próximos episódios, eu seja cobrado pelo que fiz ou deixei de fazer.

É dessa forma que Max interage com o ambiente

A vida é um livro que escrevemos todos os dias

Como comentei acima, o foco do jogo é a história. São suas ações com outras pessoas e a reação delas ao que você fizer que ditarão o ritmo de todo esse primeiro capítulo. E penso eu que pelo resto do jogo também.

E é dai que vem a força do título. Max é só uma garota normal que está passando por uma daquelas fases que temos muito mais perguntas do que respostas. E quando chegamos em uma resposta, geralmente ela não vem com aquele sentimento de certeza absoluta.

Max e Chloe
Além das incertezas sobre o futuro e sobre a duvidosa carreira na fotografia, Max tem que se adaptar com a volta para sua cidade natal, bem diferente do que era quando ela partiu, ter que encarar sua melhor amiga Chloe após cinco anos sem manter contato e lidar com os mais variados tipos de pessoas na faculdade.

Todos esses problemas ajudam a nos identificarmos com Max, pois são coisas reais. São problemas que poderiam muito bem ser nossos. Bater de frente com uma pessoa folgada ou tentar ser diplomático? Buscar ajuda de um amigo para uma crise pessoal ou guardar tudo para si e evitar preocupações alheias? Se intrometer na vida de um estranho que pode estar com sérios problemas ou apenas observar uma tragédia em potencial?

A vida foi feita para ser explorarada

A construção do mundo de Life is Strange merece destaque. Desde problemas com drogas e relacionamentos familiares até piadinhas fazendo referência a O Senhor dos Anéis, o ambiente que nos é mostrado é fantástico, não por sua grandiosidade, mas por seus pequenos detalhes que o compõe. Às vezes são coisas bobas, mas que ajudam a você a simpatizar com a aventura de Max.

Consegue encontrar todas as obras mencionadas aqui?

Dentre esses pequenos detalhes, existem muitos pequenos momentos que a protagonista tem a chance de interagir. Mas eles não são jogados na sua cara, você tem que realmente ir atrás deles, explorando os mapas.

Após terminar o episódio, o jogo mostra uma lista com todos esses momentos e as porcentagens de escolha de todos os jogadores. Houve uns três ali que eu passei completamente batido. Como esses fatos menores vão influenciar o futuro, não é possível saber por enquanto.

A vida tem seus altos e baixos

Graficamente o jogo é bonito. Não espere gráficos ultra realistas, mas o estilo usado agrada bastante. A versão que joguei foi a de PC e minha máquina já tem alguns anos de vida. Mesmo assim, o jogo rodou muito bem.

Pois é, altos e baixos...
Um porém fica por conta da animação dos personagens, principalmente a facial. Parece que ninguém consegue abrir a boca pra falar. A falta de sincronia entre dublagem e movimento dos lábios é perceptível a todo momento, e quebra um pouco a imersão do jogo.

Outro problema, esse mais pontual, é a falta de suporte ao português, o que pode ser um impeditivo para quem não domina o inglês. O jogo tem muitos textos a serem lidos e sua base está nos diálogos entre os personagens. Entender o que se passa é fundamental.

Quanto à trilha sonora, ela é simpática, fazendo seu papel. As músicas que tocam ao longo do jogo acompanham o clima da narrativa.


A vida é...

Life is Strange Episode 1 — Chrysalis tem sua força apoiada basicamente na história de Max. Não existem grandes sequências de ação ou feitos heróicos, mas na verdade, elas não fazem a menor falta. Acompanhar as decisões da moça (que também são as suas) e lidar com isso são o que importa aqui.

Essa primeira parte traz muito mais perguntas do que respostas, e acaba servindo mais para nos apresentar as bases que deverão ser usadas daqui pra frente. Se bem conduzidos, os próximos episódios tem potencial para nos trazer uma bela história.

Prós

  • A premissa de manipulação do tempo usada de uma maneira interessante;
  • Explorar todo o jogo atrás de pequenos detalhes é recompensador;
  • A história do jogo pode parecer simples, mas nos leva a alguns problemas complexos na hora de lidar com outras pessoas;
  • As pontas abertas nesse primeiro episódio aumentam a expectativa para o próximo episódio.

Contras

  • Animações de personagens deixam a desejar, principalmente faciais;
  • Mesmo sendo fáceis, o jogo não te dá muito tempo pra pensar nos pequenos puzzles, apresentando logo alguma dica do que fazer;
  • Sem suporte ao nosso idioma.
Life is Strange — PC, PS3, PS4, X360 e XBO — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC


Revisão: Alberto Canen
Capa: Stefano Genachi

Formado em Game Design, desistente da Matemática Aplicada e atualmente cursando Jornalismo. Ainda aguardo o retorno triufal da Sega, fã de Metal Gear, Dark Souls e várias coisas vindas lá do Japão.
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