Resolução de Ano Novo: "Este ano eu fui um gamer melhor?"

Um ano após uma antiga promessa, hora da avaliação e de descobrir se minha conduta foi de acordo com as minhas expectativas.

em 31/12/2014
Resoluções de Ano Novo nunca são fáceis de se realizar. É muito fácil fazer uma promessa no ritmo da virada, onde a empolgação sobra e a emoção transborda, mas não é tão simples de cumprir quando o calor do momento já passou. É natural do ser humano ter muito peito para se comprometer a algo e não ter muita empolgação para cumpri-la. Contudo, eu fiz um esforço esse ano. Nesta mesma data, em 2013, fiz uma promessa de me tornar um gamer melhor, e eu realmente tentei. Mas, vamos admitir: 2014 foi um ano bem difícil para seguir à risca tudo aquilo o que prometi.


Propaganda eleitorais bem
inesperadas rolaram esse ano.
Por exemplo, eu quis muito evitar entrar em zona de conflito por questões de ideologia e favoritismo, mas aí tivemos um ano de eleição. Parece que isso aflorou o instinto de militante dentro de cada cidadão que encontrei Brasil afora, dentro ou fora da internet. Enquanto isso pode parecer irrelevante quando se fala de jogos, quando se já está dentro da briga, você não quer sair. Para muitos, esse ano foi inteiramente sobre discussões, disputas e desavenças, com um 3D não muito agradável para qualquer assunto, e, claro, mais um incentivo às Console Wars, que já permeiam nossa não-muito-amistosa base de fãs a entrar em mais e mais conflitos.

Este que vos escreve, mesmo, fez um esforço para evitar comprar determinadas brigas, já que as redes sociais se tornaram um campo de batalha inóspito para a racionalidade. “Intolerância” se tornou o sobrenome de milhões de pessoas, e qualquer assunto era motivo para briga. Céus, vi pessoas discutindo ao ponto de chegar em ofensas, numa conversa comparativa sobre as versões de Pokémon, enquanto outros não mediam palavras para atacar quem preferia PlayStation 4 acima de Xbox One. Experimentasse dizer “qual o problema de gostar dos dois?” para ser o novo alvo dos duros verbetes usados de munição pelas duas facções. É aí que nos lembramos de não alimentar os trolls.

Resumo da base de fãs neste
ano. E em todos os outros.
O mais engraçado é que essas mesmas pessoas que defendiam com unhas e dentes seus consoles viravam a casaca quando algo era feito do seu desagrado, como um certo multiplataforma que ficou de fora do seu console favorito, ou uma exclusividade temporária que dará à concorrência meses de antecedência para aproveitar a jogatina. Neste instante, a empresa era a pior do mundo, e por isso que as outras eram melhores em administrar seus recursos. Essa hipocrisia, induzida por insatisfação, apenas comprova palavras que recitei nas minhas promessas de outrora: nunca estaremos satisfeitos com o que temos, então o melhor é se habituar a isso e saber tirar o melhor de cada oportunidade. Ao menos isso eu acho que fiz bem.

Ter plena ciência de que algo nunca será plenamente perfeito me permitiu crescer muito nesse ano, tanto na vida gamer quanto jornalística, e até pessoal. Isso me deu a oportunidade de enxergar determinadas situações sobre um novo ponto de vista, ser mais analítico com questões em que precisava ser mais frio e evitar criar uma série de conflitos por conta de opiniões divergentes. Claro que isso não me livrou ainda de ouvir críticas construtivas e destrutivas quando tomei algumas decisões, mas fico satisfeito de saber que, pouco a pouco, aprendo a hora certa de falar e de ficar calado. Existem contras que foram feitos para ser enaltecidos e outros que falam por si só, e o mesmo vale para os prós. É tudo uma questão de olhar mais com a mente, e menos com o coração.

Supostamente, essa a causa
original do #GamerGate.
Mas não, é muito mais fácil incitar a discórdia e buscar motivos para picuinhas. Como disse antes, esse foi um ano de intolerância, e isso foi transparente em muitos setores da indústria dos jogos. Vejam como exemplo o caso #GamerGate, que saiu de sua tumba em 2013 para criar um tormento completamente contrário à proposta original do movimento. O nome repercutiu nos eventos que gravitaram em torno da feminista Anita Sarkeesian, num caos tomado por violência verbal, ameaças de estupro e ataques terroristas. Em uma oportunidade futura, tentarei dissertar mais sobre esse movimento, mas tomo como foco agora o uso excessivo de força e de opressão. O que está acontecendo com os jogadores?

E isso tudo apenas agravou a minha situação nos esforços de manter-me fora de grandes discussões, porém, nem mesmo as grandes empresas de jogos cooperaram dessa vez. Nunca escondi que sou um grande fã da Ubisoft, mas 2014 foi um período negro para a empresa francesa; marketing demais e produtos de menos reinou em diversos jogos dos últimos períodos, cite-se como exemplo Watch Dogs. Ou o que houve foi uma pressa insistente em criar o melhor produto antes e conquistar os corações (e carteiras) dos jogadores depois, fazendo com que nascessem atrocidades como Assassin’s Creed Unity. O título recebeu uma atualização de remoção de bugs e defeitos com pouco mais de 6 Gb. Gente, isso não é uma atualização, é um novo código-fonte.
Mas foi por uma causa justa.
Foi bom esse ano eu ter aprendido a ver as coisas de diferentes pontos de vista, pois isso me permitiu que tirar os óculos de fanboy e de nostalgista para poder enxergar com mais verdade essas situações. O que tento fazer agora é mostrar para os outros que eles também não precisam dessas lentes ofuscando sua visão. Devendo assim, aceitar que as coisas não são o mar de rosas que muitas vezes enxergamos nos nomes que admiramos. Eu tento fazer isso desde a minha última resolução, mas foi só depois de perceber que a minha própria visão parecia embaçada que me senti apto a ser o oculista dos outros.

Não quero que esse texto se torne uma demagogia forçada, não estou dizendo que sou perfeito, mas, sim, que talvez eu tenha encontrado a estrada dos tijolos de ouro que podem me levar para um maior esclarecimento. Pode ser que isso acabe me jogando em uma vala ainda mais funda? Pode sim, mas considerando que 2014 foi um ano de esclarecimento e evolução para mim, prefiro crer que esteja, ao menos, na direção certa. É só eu não ferrar com tudo no ano que está por vir.

Não podemos apenas jogar
e aproveitar uns com os outros?
Feito o desabafo, acho que já passou da hora de fazer novas resoluções, bem como de renovar as velhas. Eu quero que o próximo ano me permita conhecer um pouco mais sobre cada assunto que quero discutir, e que impeça meu ego de falar mais alto quando ver algo que eu não concordo. Uma briga e uma dor de cabeça nem sempre são o preço justo para bater de frente com alguém. Não sou o senhor da verdade e duvido que um dia serei, então devo reconhecer que não vou conseguir fazer todo o mundo pensar da mesma forma que eu – já que também sou humano, passível de erros.

Da mesma maneira, espero ter bastante calma e paciência quando for a hora certa de discutir e ensinar. Um professor não se classifica somente pelo seu conhecimento, mas também por sua capacidade de transferir sabedoria. Espero poder ser um bom professor, mesmo para aqueles que não me veem como educador, e que eu não vejo como aluno. Se todos reconhecerem suas posições como mestre e aprendiz para cada ponto da vida, creio que só tenhamos a ganhar a cada novo passo, rumo em direção a evolução.

Torço para que as empresas de games aprendam com os erros e fracassos passados para serem um pouco melhores nos períodos que estão por vir. A verdade é que nenhuma delas jamais será perfeita e agradará gregos e troianos. Mas não cometer deslizes básicos que vão desanimar ambas as regionalidades já é um excelente começo para a estrada do sucesso. Engraçado que eu me sinto muito insignificante ao dizer algo assim; sou apenas um jornalista de jogos de 21 anos, enquanto alguns de meus objetos de trabalho já estão há mais de 100 anos brigando pela sua fatia no mercado. Ou o meu ego que é tão grande, a ponto de me julgar digno de fazer uma crítica a elas, ou são elas que não estão conseguindo acompanhar o ritmo frenético da evolução?

Falta pouco para termos
imersão total em games.
Mas estamos prontos
para isso?
Uma coisa é fato: todos estamos caminhando para melhorar. Olhem em volta, vejam a curva exponencial do progresso tecnológico e social. Não é à  toa que entramos em conflitos quase todos os dias. Mesmo os mais liberais estão tendo dificuldades para acompanhar a maneira com que a humanidade corre para uma nova fase, e não é de se admirar como os mais conservadores relutam em aceitar isso. A prova derradeira disso é que eu estou falando de jogos aqui, e você, provavelmente, já leu alguma destas linhas com efeito para outras áreas da vida.

A minha promessa derradeira é de continuar em 2015 o que eu já comecei em 2014. Acredito que o amadurecimento me tornou, neste ano, um gamer melhor. Entretanto, sei reconhecer que ainda estou longe do ideal, e não devo perder o ritmo agora. Uma ação de cada vez, continuarei dando meu máximo para compreender mais os que estão ao meu redor, ter um maior respeito pela opinião alheia e saber quais lutas valem a briga e quais valem o silêncio.

Fica aqui o meu desejo de que esse texto não tenha sido inútil para você que me acompanhou, seja somente nesses últimos 15 parágrafos, seja em todos esses 366 dias. Torço para que todos tentem encontrar o seu centro e os seus objetivos, e que achem força para continuar com suas Resoluções de Ano Novo nos meses que estão por vir, que só tendem a ser cada vez mais frenéticos. Não tenham medo de defender o que acreditam, mas estejam abertos para aprender algo novo. Essa é a melhor maneira de ter certeza que, quando se perguntarem, no próximo ano, se são gamers melhores, poderão responder que não...

“Este ano eu fui uma pessoa melhor.”

Revisão: Jaime Ninice
Capa: Sérgio Estrella

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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