O documentário de quase duas horas acompanha o trajeto supersônico dos videogames desde meros brinquedos eletrônicos até estarem incluídos em um universo totalmente novo de interações sociais. Ele apresenta os fatos mais marcantes desde o surgimento da Atari até a criação do Xbox, passando por tudo e todos, sem deixar nada nem ninguém de lado. A melhor parte é que, além da narração de Sean Astin (o Sam de O Senhor dos Anéis), o documentário conta com entrevistas e falas das mais diversas personalidades, incluindo lendas dos videogames como Hideo Kojima e Nolan Bushnell até personalidades que fazem parte do universo gamer sem necessariamente tê-lo criado, como Ernest Cline, autor do livro O Jogador Nº 1.
Do PDP-1 ao PS4
O documentário é dividido em algumas partes, incluindo História, Cultura, Futuro, entre outras. Um dos pontos mais positivos dele é a neutralidade e união entre as empresas e marcas envolvidas. A história é contada levando em consideração o grau de importância que cada produto ou empresa exerceu na história dos videogames enquanto indústria e enquanto cultura em ascenção. Como foi financiado através do Kickstarter, essa postura fica bem mais verdadeira e é notável durante todo o documentário.PDP-1: o primeiro computador com tela |
O Lendário Atari 2600 |
"Quando lembramos, não é simplesmente daquele jogo, daquele livro ou daquele filme, mas sim do que estava acontecendo em nossas vidas naquela época". Wil Wheaton (Ator, Escritor)
Somos mais do que mil, somos um
Outro fator importantíssimo dessa obra prima dos documentários sobre games é como ele mostra a importância de cada empresa na história. Sem a Atari, o mundo dos games talvez nunca teria ganhado tanta força. Sem a Nintendo, talvez nunca teríamos sobrevivido ao crash do final dos anos 1980. Sem o PlayStation, os gráficos poderiam nunca teriam dado o salto que eles deram e a imersão e competição nunca teriam adquirido tanta força. Por fim, sem o Xbox, a cultura dos jogos de PC e dos consoles nunca teriam se aproximado tanto. Cada qual na sua época, cada qual com a sua importância, todas foram essenciais, inclusive a SEGA, que aparece pouco na obra.
Além disso, o documentário também traz uma visão muito mais “humanizada” dos criadores desse nosso mundo. Ouvir Mark Merrill (presidente da Riot) dizer que jogava Everquest quando adolescente e que fez muitos amigos por lá, que Ernest Cline montava uma lan em sua casa para jogar Doom e Doom 2 com os seus amigos e ver Reggie Fils-Aime (presidente da Nintendo of America) dizendo que passava horas a fio jogando The Legend of Zelda, Mario Bros. e Chrono Trigger, além de mágico, é uma sensação muito boa de aproximação dessas figuras icônicas. Dá a todo gamer aquele sentimento de “ele fazia o mesmo que eu, que maneiro!”
Essa visão, muito bem retratada no documentário Indie Game: The Movie, foi expandida ao extremo com Video Games: The Movie. O documentário nos apresenta uma visão muito ampla e globalizada da indústria dos games. Coisas como Al Alcorn (engenheiro por trás do PONG) citar Nolan Bushnell em sua fala e, algums minutos depois, o próprio Bushnell (co-fundador da Atari) falar de Alcorn, fora outros exemplos, é muito interessante e nos mostra como as guerras santas dos consoles (termo utilizado no próprio documentário) não são tão importantes ou significantes como alguns pensam pois, afinal, o importante é jogar.
Uma injeção de nostalgia em doses cavalares
Outro fator grandioso do documentário, como já foi citado aqui, é a nostalgia que ele dá ao telespectador. Seja com os temas, seja com as imagens dos jogos, com os relatos ou com a trilha sonora impecável que inclui até clássicos como Queen e Michael Jackson; esse documentário emociona qualquer gamer com mais de 20 anos de idade, pois grande parte dessa história foi presenciada a vivida por vários de nós.
Não é todo dia que você vê o eterno Rei do Pop jogando um Sega Genesis |
"Se os jogos fossem simplesmente apertar botões para produzir respostas, não estaríamos jogando até hoje, teríamos perdido o interesse há muito tempo". Alison Haislip (Atriz - Tv Host)
Ao infinito… e além!
Não só de passado que se constrói uma história e esse documentário entende isso muito bem. Além de envolver o passado e o presente dos videogames enquanto indústria e cultura, Video Games: The Movie também apresenta as tendências para o futuro, como o próprio Hideo Kojima (criador de Metal Gear Solid) fala: “Daqui há 100 ou 200 anos, os videogames continuarão existindo”.O combo Oculus Rift + Omni é a prova de que os videogames vieram pra ficar |
Revelações da nova geração dos games como a equipe por trás da Riot (empresa criadora do League of Legends) e a mente por trás do Oculus Rift, Palmer Luckey, são mostradas e entrevistadas. Cada uma das mentes criadoras trás um pouco das suas previsões de como será o “jogar” daqui há 20, 30 ou 50 anos. Essas falas trazem a ideia de que os videogames, assim como o cinema e a música, não vão acabar, mas somente se modificar. Nossa querida mídia de entretenimento agora é um estilo que conversa com os demais,transformando-se e evoluindo, mas só irá terminar se a humanidade como a conhecemos terminar junto.
Essa é a mensagem principal do documentário no meio de tantas outras. Não é presunção alguma dizer que absolutamente todos que jogam, nem que seja um jogo de 2 Mbs no celular, deveriam assistir a esse filme. Nenhum Farm Heroes Saga, Sunset Overdrive, The Last of Us ou Mario Kart 8 seriam o que são hoje se não fossem os pioneiros do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, os fundadores da Atari ou os “magos” Miyamoto e Kojima. E isso é muito importante de ser dito.
Revisor: Jaime Ninice
Capa: Stefano Genachi