Análise: Em J.U.L.I.A.: Among the Stars (PC), a culpa não é das estrelas

Enfrente os enigmas do universo em busca de respostas sobre o que aconteceu com sua tripulação em um adventure cativante.

em 30/11/2014
Ser astronauta é o sonho de muitas crianças por aí. Mas tenho certeza que elas não contam com a ideia de que podem ser congeladas em uma câmara de criogenia e acordadas muitos anos depois, abandonadas no espaço e sem saberem o que aconteceu. Esse é o dilema de Rachel Manners e o início de J.U.L.I.A.: Among the Stars, adventure lançado para PC pela desenvolvedora tcheca CBE Software.

Ao infinito e além

Falar muito sobre a história deste jogo é tirar boa parte da graça dele, já que é a trama um dos pontos mais fortes do título. Então, vamos para uma sinopse no estilo “contracapa de DVD”: você toma o papel de Rachel Manners, uma astrobióloga que fazia parte de uma importante missão espacial terrestre para procurar vida em um outro sistema solar, muito semelhante ao nosso. Por algum motivo, ela foi congelada em criogenia e acordou vários anos depois, sem saber o que aconteceu com todos os demais tripulantes. Nas únicas companhias da inteligência artificial da nave, J.U.L.I.A., e da sonda robô Mobot, você deve explorar esse estranho conjunto de planetas e descobrir a verdade por trás de tudo isso.

Se você está esperando que elas serão contadas em flashbacks animados, com dublagem impecável e tudo mais, o título alcança a verossimilhança de outra forma: o jogador conhece a história ao deparar com pistas — geralmente escritas — dentro dos vários cenários. Muitas das informações podem ser encontradas dentro dos sistemas das naves perdidas nos planetas e, principalmente, em diários eletrônicos (chamados de datapads) dos ex-tripulantes. Ainda é possível realizar missões extras, os Mind’o’Matic, nos quais deve-se completar um mapa mental com as sequências de fatos ocorridos em cada local. Aliás, as falas dos três personagens são dubladas; nada que ganhe destaque, mas cumpre seu papel.

Tanto texto para se ler leva a uma outra questão, que pode ser um problema ou uma solução: como o jogo só está disponível em inglês, você terá muita coisa para ler nesta língua. Se você é uma pessoa que já domina esse idioma ou deseja aprender, Among the Stars será tranquilo. Se você não chega nem perto, é recomendável você escolher outro jogo (ou pedir para o seu amigo traduzi-lo inteiro pra você).

Uma jogabilidade das galáxia

Podemos resumir a parte jogável do título em duas funções: explorar cenários e resolver puzzles. Quanto ao primeiro, as mecânicas são muito bem feitas. Poucos ícones são mostrados na tela (além da HUD) para indicar objetos clicáveis e, basta interagir com um que sua importância para a trama acaba aí, ele não fica mais disponível, afunilando a busca pelo prosseguimento da história. Além disso, existem elementos para auxiliar: um botão aponta todos os objetos da tela e outro abre um registro completo de informações relevantes coletadas e missões a se completar.
Aqui os botões fazem sentido! É esquisito pensar que existem tantos botões nos cantos da tela (e várias interfaces para puzzles) em um jogo que você explora planetas e não circuitos de computador. Mas existe uma explicação dentro da história para isso: Rachel é a única sobrevivente e não pode sofrer riscos. Logo, todas as explorações são feitas por meio de Mobot e o que se vê na tela, na realidade, é a tela que Rachel vê ao usar o robô. Agora você entende porque usar um painel de controle de microfone em meio a uma floresta alienígena, não?
Os puzzles são os que fazem o diferencial na jogabilidade. Eles quebram muito bem a “monotonia de jogabilidade” da exploração, são, em sua maioria, divertidos e têm uma curva crescente de dificuldade. Alguns desafios padrões podem ser observados em meio a todos: a mesa de montagem das melhorias de Mobot (o Workbench), possivelmente o enigma mais criativo do jogo; várias passagens que é preciso montar quebra-cabeças de imagens (que ficam repetitivos com o tempo); e o hackeamento das senhas dos datapads, que mostra um dos primeiros problemas de jogabilidade do game: este e alguns outros são baseados em pura tentativa-e-erro, cansando após um tempo.

Outros puzzles, por sua vez, precisam de posições muito específicas de certos objetos, como alavancas e botões. E isto seria fácil se a resposta do jogo para o mouse não tivesse muitos defeitos, que complicam muito a sua vida. Cheguei ao ponto de estar enchendo um tubo com uma porcentagem específica de gás, saber esta quantidade e demorar dez minutos porque eu nunca conseguia chegar nela pelos botões, sempre passava ou faltava. Ou então quando você precisa contar uns dois segundos antes de apertar no próximo dígito da senha de um datapad.

O espaço é lindo, sério

Se Yuri Gagarin, Neil Armstrong ou Marcos Pontes falar que o universo é realmente lindo, acharei que todas as suas viagens foram uma farsa e eles estavam apenas jogando J.U.L.I.A.: Among the Stars. Todos os gráficos são muito bem acabados e realmente bonitos, com uma riqueza de detalhes muito grande e, para fechar o pacote, algumas cutscenes na troca de planetas que enchem os olhos.

A trilha sonora, infelizmente, não ganha o mesmo destaque do visual. As músicas são bem calmas e dão apenas uma base para os efeitos sonoros, que, juntos, dão um ar de mistério a praticamente todos os cenários do título. Assim, cumpre seu papel, mas não é aquilo que ficará na sua cabeça como outros jogos.

Descubra os segredos do universo

J.U.L.I.A.: Among the Stars apresenta uma jogabilidade boa na maioria do tempo, um visual muito bonito e é fortemente recomendado para todos aqueles que procuram descobrir os segredos de uma trama ou ainda se quer aproveitar um bom adventure a moda antiga, com muito texto para aproveitar. Mesmo custando R$36,99 (um preço meio alto para um título com esta quantidade de conteúdo), vale a pena esperar uma das promoções da Steam e pegar o jogo.

Prós

  • Enredo cheio de mistérios e descobertas com boa verossimilhança;
  • Missões extras para fixar a história;
  • Se você sabe/quer aprender inglês, muitos textos nessa língua;
  • Mecânicas de exploração polidas e bem executadas;
  • Puzzles divertidos e alguns bem criativos (como os do Workbench);
  • Visual muito bonito e detalhado.

Contras

  • Se você não gosta de inglês, muitos textos nessa língua;
  • Alguns puzzles são totalmente baseados em tentativa-e-erro;
  • Resposta do mouse é lerda e falha em muitos momentos.
J.U.L.I.A.: Among the Stars — PC — Nota: 8,0
Revisão: Catarine Aurora 
Capa: Stefano Genachi

sempre com projetos criativos, estranhos ou os dois ao mesmo tempo. desenvolvedor de software, game designer e escritor sobre as coisas que eu gosto.
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