Antes de começarmos, que tal reprisarmos os capítulos anteriores?
Parte 1: O jogo que quase me enlouqueceu
Parte 2: Eu nunca desisto
Parte 3: O dia em que eu virei um cheater
Recomeçando
1º de Maio de 2014, feriado do Dia do Trabalhador. Eu acordei cedo naquele dia, por volta das 13h00. Depois de almoçar, senti vontade de voltar a jogar La-Mulana, após três meses distante dele. Não sei o que deu em mim, eu simplesmente quis. Talvez tenha sido alguma inspiração divina, sei lá. Então, eu reinstalei o jogo na minha máquina, porque, como eu disse anteriormente, só de raiva por não conseguir atravessar um determinado obstáculo, eu mandei o jogo ir catar coquinho e o desinstalei do meu cliente Steam. Mas desta vez seria diferente, eu estava preparado.Ao invés de continuar a campanha de onde parei, primeiramente eu procurei no youtube por um speedrun desse título. Speedruns são como competições, em que jogadores habilidosos tentam chegar ao final do jogo no menor tempo possível. Eu encontrei um vídeo de um rapaz que conseguiu a façanha de terminar esse game em 1h47min. Eu estava com quase três horas de jogatina e ainda não havia completado nem 10% do jogo! Ou esse cara é uma máquina ou tudo que ele faz na vida é jogar La-Mulana, porque não é possível! Enfim, a minha tática seria imitar os passos desse jogador, fazer exatamente o percurso que ele fez, ignorando inimigos, apenas se focando no objetivo de terminá-lo. Porém, é claro, como eu não tinha as mesmas habilidades gamísticas do autor do speedrun, eu deixei ativado o Cheat Engine para tornar o personagem imortal, evitando assim contratempos como game overs constantes. Depois de todos esses preparativos, recomecei uma nova campanha.
Logo em seguida do Gate of Guidance, o primeiro cenário, o autor do speedrun começou a fazer um caminho totalmente diferente do meu! Inclusive, acessou áreas que eu nem havia passado em minha primeira gameplay. Eu entendi de imediato o que ele estava fazendo, ele estava deixando os chefes para o final e priorizou em coletar os itens e armas, inclusive os Sacred Orbs. Assim como os Rare Candies em Pokémon, os Sacred Orbs aumentam seu nível instantaneamente, além de acrescentar atributos de força ao Professor Lemeza. Eu, tal como um mímico que brinca de imitar os outros, passei a executar cada passo desse jogador. Se ele ativava um pedestal, eu ativava também. Se ele pausava o jogo, eu pausava também (acreditem, existem alguns puzzles que exigem que ou você fique parado por alguns segundos, ou que pause o game em determinados locais). Meu guia, por assim dizer, ignorava os inimigos, apenas matava aqueles que ficavam no caminho, diferente de mim que “limpava” a tela desesperado para conseguir experiência e aumentar de nível. Vamos ver no que isso vai dar.
Eu tenho pulo duplo!
De volta ao Temple of Moonlight. Muitas coisas haviam ficado para trás na minha primeira visita. Para começo de conversa, logo no início havia uma parede quebrável que levava a uma sala secreta e eu nem fazia ideia que esse local existia. Aqui adquiro um machado, uma das armas mais úteis do jogo, que, apesar de lento, executa um ataque vertical que causa bastante dano. Continuando no Temple of Moonlight, nos deparamos com um subchefe, Anubis. Assim como Argus, o gigante dos mil olhos, Anubis era invulnerável aos meus ataques. O objetivo aqui era regressar até a Mulbruk e conversar com ela para recebermos o Book of the Dead, que anulava a invulnerabilidade do totó. Após derrotá-lo facilmente (já que eu também estava invulnerável), eu recebo um item novo: o Serpent Staff. Justamente o item que eu estava procurando para poder derrotar o Argus. De volta à superfície então.Empunhando o Serpent Staff, eu consigo derrubar o Argus com três ou quatro machadadas. É impressão minha ou depois que passei a seguir o speedrun o jogo começou a ficar mais fácil? Que seja, com a queda do gigante, mais um item é liberado para mim, a Feather (Pena). Simplesmente ela me permite dar pulos duplos! Este item me facilitou e muito a minha travessia pelas fases.
Outra vez no Temple of Moonlight. Lembram daqueles cinco baús que eu não fazia a menor ideia de como abri-los? Bem, basicamente eu precisava usar o Hand Scanner e escanear determinados pontos da fase, ou seja, a decoração de fundo do cenário. Com isso, quatro pedestais aparecem e ao ativá-los posso abrir os baús normais, que, por sua vez, destrancam o baú de tesouro contendo o Fruit of Eden. Com posse deste item, nos encaminhamos para o Eden, aquela sala nevoenta que era um beco sem saída. Agora apareceu um pedestal para ser ativado. Ao ativá-lo, o cenário revela a sua verdadeira forma: Gate of Illusion. Até me assustei quando aquela música macabra começou a tocar.
Um lugar além da imaginação
O Gate of Illusion é simplesmente o pior cenário para se explorar em La-Mulana! É um emaranhado de becos sem saída, buracos invisíveis no chão, paredes falsas e warp points, portais que te teletransportam para outros cantos do cenário. É impossível você atravessar essa área por conta própria, sem alguma referência, porque este lugar é absurdamente confuso e os quebra-cabeças daqui são praticamente ilógicos! Para a minha sorte, eu tinha uma orientação através do vídeo de speedrun, caso contrário eu jamais teria passado da primeira sala.Até agora, ao escrever este Blast Log, eu estava seguindo o modelo de detonado, descrevendo os locais que eu percorria, os trechos nos quais eu tive mais dificuldade e os chefes e subchefes que enfrentei. Nesta segunda jogatina, ao alcançar o Gate of Illusion, eu passei a não fazer a mínima ideia do que eu estava fazendo e do porquê eu fazia determinadas ações. Cheguei ao ponto de não me importar mais com esse jogo. Eu apenas imitava o que aquele outro jogador, mais habilidoso, fazia. Eu parei de prestar atenção nos nomes dos cenários, dos inimigos, na lógica dos puzzles e nem me importava mais em saber para que serviam os itens que eu encontrava… Eu apenas queria zerar este jogo! Eu constantemente teclava Alt+Shift, intercalando a janela do jogo com a do vídeo do youtube. E assim, às cegas, fui avançado minha campanha que agora estava chegando perto de seu ato final. Contudo, para não ficar chato, eu vou narrar minha empreitada contra os chefes restantes, porque essa é uma das poucas coisas interessantes que este game tem a oferecer. Tive, é claro, que encarar novamente Amphisbaena, Ellmac e Bahamut, mas estes eu deixarei de fora, pois já os vimos anteriormente.
Muito cacique para pouco índio
Viy, o guardião de Inferno Cavern, um bicho esquisito, cheio de tentáculos e que solta um Kamehameha pelo olho. A dificuldade fica por conta do chefe ficar escalando verticalmente pela sala, obrigando-me a ter que subir pelas plataformas para tentar escapar dele. A única forma de derrotá-lo é usando as armas secundárias, uma vez que ao tocar na criatura é morte certa. Essa luta durou quase meia-hora, foi um combate ferrenho, mas venci a cebola caolha pelo cansaço.Sakit, o guardião de Mausoleum of the Giants, é uma espécie de robô gigante revestido com uma armadura de pedra. Ele era lento, seus ataques eram fáceis de evitar, exceto quando ele arremessava seu punho preso a uma corrente, mas essa era a minha deixa para contra-atacá-lo. Nada muito desafiador aqui.
Palenque, o guardião da Chamber of Extinction, um alienígena motoqueiro futurista. Essa batalha lembrou aqueles joguinhos de navinha da velha guarda. Era complicado de se desviar de seus ataques que preenchiam quase a tela inteira. Pensem em um sujeito apelão! Além disso, era difícil de acertar seu único ponto fraco, a testa, por causa das carenagens de sua motocicleta voadora que o protegia. Mas Palenque logo encontrou seu fim pelas minhas mãos.
Baphomet, o guardião de Twin Labyrinths, o capiroto em pessoa. Além de possuir duas formas distintas, cada uma com seus ataques próprios, ele ainda chamava inimigos menores para ajudá-lo. Sua primeira forma, quando ele ficava sentado, foi fácil de sobrepujar, mas ao se transformar e ficar voando pelo cenário, desaparecendo e reaparecendo constantemente, deixaram as coisas um pouco mais interessantes, mas nada que um pouquinho de persistência não se resolva.
Tiamat, a guardiã do Dimensional Corridor, uma gigante com um olhar de namorada neurótica. Enfrentá-la não foi o maior dos meus problemas, o que mais me deu trabalho foi o fato de que, para que eu pudesse invocá-la, eu precisava derrotar 11 subchefes espalhados pelo Dimensional Corridor. 11 subchefes em sequência! Enfim, passado a pior parte, derrotá-la não foi muito complicado. Essa batalha me fez lembrar os chefes da série Mega Man X, com inimigos gigantescos que ocupavam toda a tela e que desferiam golpes variados, dos quais tínhamos que aprender os padrões. Com a derrota do penúltimo boss, chegou a hora de encararmos o final.
Mamãe já vem
O True Shrine of the Mother, um lugar nada agradável para se dar uma voltinha. Um labirinto orgânico, cheio de tentáculos gigantes (ou raízes, eu não sei o que era aquilo) que bloqueavam meu caminho. Aqui, além de muitos inimigos hiperativos e sedentos de sangue, havia também espinhos em muitas salas e armadilhas escondidas em todo o canto. Mas é aqui que eu iria me deparar com o último chefe: The Mother.Na história de La-Mulana, A Mãe seria uma deusa que teria dado à luz oito crianças, ou descendentes, sendo que a humanidade seria a oitava. As ruínas seriam o seu sarcófago, onde seu corpo e espírito aguardariam pelo dia em que ela seria despertada de seu sono. Bem, minha gente, esse dia chegou. Para ser sincero, chamá-la para a briga é mais complicado do que enfrentá-la, isto porque é necessário realizar vários puzzles para poder invocá-la. É quase uma receita de bolo: derrotar os oito guardiões, encontrar os quatro selos-chave (Origin Seal, Birth Seal, Life Seal e Death Seal), despertar os Quatro Filósofos, tocar os Mantras na ordem correta (eu não vou nem explicar esse puzzle), visitar cada área do jogo pelo menos uma vez, pegar o remédio amarelo na Tower of Ruin e usar uma arma chamada Key Sword para ativar seu Ankh… ufa! Depois de tudo isso, vem o momento decisivo.
Lutar contra um chefe com várias formas é como lutar contra vários chefes em sequência. A primeira forma é a mais simples, bastava atacar a escultura em formato de rosto e desviar das bolas de fogo que ricocheteavam nas paredes. Na segunda forma, Mother assume uma silhueta feminina que fica voando de um lado para o outro. Mas a terceira forma, minha nossa, essa me deu medo! Ela assume a figura de uma mulher esquelética segurando um bebê medonho. É, parece que encontrei a mãe do Giygas, de EarthBound. Ao derrotar sua forma macabra, ela vira um olho com três tentáculos e a movimentação do Professor Lemeza faz parecer que ele está debaixo d’água. Na quarta e última forma (até que enfim!) ela volta a ter uma silhueta humana, menor desta vez, mas, para compensar o tamanho, ela passa a copiar todos os ataques do chefe. Depois de muito empenho, paciência e dedicação ela sucumbe…
Grand Finale
Demorou. Não foi fácil. MAS FINALMENTE EU ZEREI! Espere um momento… oh, não! Surge uma contagem regressiva de cinco minutos na tela, eu preciso sair das ruínas! Pernas pra que te quero! Não dá para se teletransportar, muitos inimigos para atrapalhar o caminho e o tempo está se esgotando. Consigo chegar até o Gate of Guidance, mas… a entrada está bloqueada! E agora?! Faltando menos de um minuto, eu corro desesperadamente até a sala da Mulbruk e juntos nós saímos por uma passagem secreta aos fundos de seu quarto. Agora sim, posso respirar aliviado. Terminou. Enfim, terminou. Aprecio os personagens correndo por um vale e ao fundo há um belíssimo nascer do Sol. Os créditos sobem. Lemeza, Xelpud, Mulbruk, e os NPCs, todos nessa volta olímpica após se alcançar a glória. Acabou. Depois de todas as dificuldades que eu passei, de toda a dor de cabeça que este jogo me proporcionou, eu só tenho uma coisa a dizer…Eu te odeio La-Mulana. Eu te odeio.
Revisão: Catarine Aurora
Capa: Stefano Genachi