Theme Hospital foi a cura dos simuladores nos anos 90

Gerencie um hospital neste simulador que não deve nada aos simuladores atuais.

em 21/09/2014

Nesta época de simuladores de cidades, prisões, cabras, cirurgiões e por aí vai, poucos se destacam pela qualidade, prezando apenas pelo absurdo e pelo diferente. Antigamente, tínhamos bem menos opções de simulações disponíveis. Além da série SimCity, um dos pioneiros do gênero, tínhamos sandboxes com temas mais razoáveis, com parques de diversões ou zoológicos. E tínhamos este, de hospitais.


Muitas pessoas já passaram por um médico da zuera. Aquele cara com 20 anos de residência nas costas, que conhece todas as piadas da área na ponta da língua e que jamais perde uma oportunidade de usá-las. Aquele senhor que, indiferentemente do problema que você tenha, sempre lhe trata com bom humor e o faz dar risadas. Theme Hospital é exatamente este médico. Ele transforma a sensação muitas vezes séria que um hospital passa e o transforma em um jogo divertido.

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Lançado em 1997, Theme Hospital foi mais um jogo que tentava seu lugar ao sol frente a outros lançamentos similares em sua época, juntamente com Theme Park (dos mesmos desenvolvedores) e SimCity 2000. O objetivo principal é construir e manter um grande hospital, comprando os equipamentos, expandindo o complexo e contratando funcionários.

Pode parecer simples, e nas primeiras fases do jogo, realmente é. Os pacientes vão aparecendo com diversas doenças, e sua equipe deve dispor do maquinário e da capacidade de lidar com eles, enquanto as enfermeiras administram as medicações e os faxineiros mantêm o local limpo e com os equipamentos funcionando em dia.


O que destaca a temática do que temos na vida real é a abordagem do jogo com o assunto. Ao invés de termos doenças que podem causar certo horror a alguns jogadores, geralmente damos risadas com as situações. A doença que mais me lembro é a das cabeças infladas: o paciente chega com a cabeça inchada como um balão e o médico precisa simplesmente colocá-lo numa espécie de calibrador (desses de encher pneu no posto de gasolina), estourar a cabeça do pobre visitante com uma agulha e depois enchê-la novamente. Tudo isso feito em poucos segundos.

Temos também problemas crônicos envolvendo línguas compridas e invisibilidade. Imagine só: "doutor, minha esposa falou que estou sumindo da vida da família…", "certo, dirija-se à sala de medicamentos e tome essas pílulas".

Não há uma sensação de horror ao ver um paciente morrer na fila de espera ou devido a um procedimento mal feito. A primeira morte sempre é uma surpresa, mas a visita da senhora de capuz negro é um ótimo sinal para repensar algumas estratégias.

Brincando de médico

Além do desafio de posicionar bem os equipamentos e manter um número suficiente de facilidades e máquinas disponíveis para seus pacientes, é preciso também gerir bem os funcionários. Cada médico, enfermeira, recepcionista e faxineiro possuem seus atributos e exigências salariais, que podem aumentar dependendo da demanda da função ou da vontade do funcionário.



Um excelente médico, com capacidades para cirurgias e que ainda pode ensinar os novos médicos, pede um investimento bruto, e aquele doutor seboso que acaba de se formar numa faculdade misteriosa no Caribe pode ser uma pechincha, mas o risco dele causar mais problemas do que soluções aos pacientes é alto.

Alguns médicos também possuem capacidades exclusivas, como ser mestre em operações, ou habilidades com psicologia, e montar uma equipe completa pode demorar muito tempo. Tempo que às vezes é pouco quando se tem um hospital lotado. Há certas fases em que há poucos médicos capacitados para se contratar, e é necessário esperar que um dos novatos ganhe experiência suficiente para começar a treinar os recém-chegados, o que prolonga o gameplay de forma positiva, já que o desafio está justamente se virar com o que tem em mãos.

Histórias do pronto-socorro

Durante as ampliações e construções em Theme Hospital, alguns desafios surgem na recepção. Como em uma série com jalecos brancos, emergências dramáticas e corridas contra o tempo, um surto de alguma doença ataca nas proximidades e lhe perguntam se seu hospital pode receber as vítimas. Elas chegam de helicóptero e o jogador possui pouco tempo para curar toda a leva. Consiga curá-las no tempo proposto e uma boa grana lhe espera como recompensa. Falhe e seu hospital perderá reputação.



Também podem acontecer surtos causados pelo surgimento de uma super bactéria. Deixe as condições sanitárias saírem um pouco do controle e em pouco tempo você terá que lidar com uma contaminação em massa. E como Murphy e suas leis sempre dizem: a coisa só piora. Agentes sanitários podem vir a qualquer momento para inspecionar as denúncias e lhe darem uma boa multa como punição, e geralmente essas multas são o suficiente para levar qualquer administração para a UTI.

Estes desafios estimulam o pensamento rápido e decisões de última hora, o que às vezes pode fazer com que o jogador volte a uma fase para ver os resultados usando uma estratégia diferente.

Por ser um jogo de quase vinte anos, que usava o arcaico MS-DOS para rodar, a interface sem teclas de atalho e com poucas opções de jogo pode incomodar aqueles ávidos por menus recheados de configurações. Aos interessados por um desafio retrô, preparem o leito: há horas de gameplay a sua espera.

Também é uma experiência única: apesar de Theme Hospital ter feito um sucesso enorme em sua época, nenhuma sequência foi criada.

Revisão: Luigi Santana
Capa: Felipe Araújo


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