Blast from the Past

Rolo to the Rescue (Mega Drive): um exemplo de como um jogo bom se esconde em uma embalagem ruim

Um elefante parte para o resgate de sua mãe. Mas, pelo caminho, há um diabólico grupo de circenses.

Criado pela Electronic Arts e lançado em 1992 para o Mega Drive, Rolo to the Rescue parecia ser tudo que um jogador nos seus dezesseis anos viciado em jogos de luta e guerra não queria ter: um elefante que parece o irmão gêmeo do Dumbo e que foram separados no nascimento, cercado de animaizinhos bonitinhos e cores, muitas cores. Por todos os lados. Até colocar a fita no console e jogá-la, poder-se-á temer que esta será uma tarde bem longa e tediosa.


Mas, não. Este jogo quebra todos os preconceitos já na primeira fase, quando um coelho começa a pular descontroladamente até cair em uma passagem secreta.

Passado o susto inicial, a segunda fase cristaliza a sensação de caos quando o mesmo coelho pula descontroladamente até cair… na água, e morrer. Sim, esse é um daqueles jogos na qual a água se parece, e age, com ácido sulfúrico. A não ser que você esteja controlando o castor usando uma boia inflável.

Um castor. Que precisa de uma boia inflável. Esse jogo é demais.

Alguns elefantes só querem ver o circo pegar fogo

O coelho talvez seja o companheiro mais perigoso que Rolo poderia querer quando se precisa montar um time de resgate. Mas não existem muitas opções quando a maioria dos animais da floresta está presa, e os outros tentando te matar. Além do roedor orelhudo saltador e do castor que não sabe nadar, há também uma toupeira e um esquilo, que podem ser considerados os únicos "sãos" em toda a aventura.

A toupeira é um escavador modelo: além de ser perito em se enfiar na terra, o mamífero é viciado em segurança, sempre usando seu EPI (Equipamento de Proteção Individual) para dar o exemplo, mas que não é seguido por ninguém - o mais próximo disso é quando Rolo usa um chapéu de caubói no mundo do velho oeste. O esquilo sobe coisas, e só não é igual a qualquer outro esquilo se não fosse pelo fato dele conseguir caminhar feito gente.

Com o time formado, Rolo passa por diversas fases separadas em mundos, organizadas em um enorme mapa, que se monta como um quebra-cabeça (achar as peças é uma diversão por si só) até encontrar a localização de sua querida mamãe. Todos os mundos possuem seu chefão: um estereótipo circense que costumamos ver nos filmes de terror que envolvem tendas e/ou palhaços.


E no meio desta jornada que pode durar dezenas de horas se aventurando por desertos, florestas, cidades e circos, você irá perder vidas, continues e até mesmo sua própria paciência. A única coisa que não falta são os pontos do score. Eles ficam espalhados por todos os lados, representados não por moedas, barras de ouro ou cifrões, mas sim por números. Quanto maior o número, maiores seus pontos. Simples como contar até dez.

Fechando-se as cortinas, o palhaço chora

Por trás da animação infantil e repleta de cores (cores por todos os lados!), há algumas nuances críticas ao modo como o homem trata a natureza. Além da escancarada denúncia aos circos que maltratam animais, enjaulando-os em pequenas celas até serem usados para o prazer de uma plateia, tem ainda a escancarada violência ao próprio ambiente (Rolo e sua turma se aventuram por ruínas em um deserto e em uma bela cidade antiga, por exemplo).


Nem mesmo o herói da fita escapa. Ele é obrigado a atacar pessoas, destruir propriedades privadas (como jaulas e circos) e até mesmo enfrentar outros animais. Uma de suas vítimas favoritas é um pequeno ouriço. Com sua poderosa tromba, o elefante pode sugar e lançar diversos objetos em seus inimigos, sejam estes inimigos pessoas, abelhas ou até mesmo em outros ouriços. Mas Rolo também consegue se redimir: eventualmente os dois fazem as pazes e se unem por uma causa maior.

Se desconsiderarmos a capinha com arte ruim, todos os elementos que prendem o jogador ao game estão presentes: música repetitiva e hipnotizante, dificuldade alta (se um inimigo encostar em um dos animais, fim) e um enredo cheio de coisas a se pensar. Rolo to the Rescue nada mais é do que o azarão surpreendente.

Revisão: Catarine Aurora
Capa: Stefano Genachi

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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