Análise: A Vítima de Ouro (PC) é um bom point-and-click brasileiro

Jogo da produtora independente brasileira Little Leds Games traz personagens carismáticos e jogabilidade simples, porém divertida.

em 03/09/2014
Você conhece os jogos da LucasArts? Os jogadores mais novos podem não estar familiarizados com a empresa, mas ela é reconhecida por ter revolucionado o mercado de adventures gráficos nos anos 1990, com clássicos para PC como The Secret of Monkey Island e Loom. Seus games eram focados na experiência do usuário, seguindo uma filosofia de que o gamer nunca deveria ficar perdido ou fazer algo que tornasse o título impossível de se finalizar — prática comum entre muitos adventures gráficos da época, como King’s Quest e Police Quest, ambos para PC. Apesar de relativamente fáceis, as obras da desenvolvedora eram extremamente divertidas, com quebra-cabeças inteligentes, excelentes histórias e personagens carismáticos.


A Vítima de Ouro, point-and-click brasileiro para computadores, tenta seguir a escola criada pela LucasArts. Em grande parte, o jogo brasileiro é extremamente bem sucedido. Porém, no meio do caminho, comete alguns erros, ficando à sombra dos clássicos do gênero.

O bom discípulo supera o mestre

Em alguns elementos o jogo chega a ser superior aos clássicos. A interface, por exemplo, é simples, bonita e de fácil uso. No lugar de uma lista de verbos, há três ações predeterminadas que podem ser selecionadas com o clique direito do mouse: investigar, pegar e interagir, simbolizados por uma lupa, mão e engrenagem, respectivamente. Isso impede que o jogador fique tentando combinações infrutíferas de verbos com objetos do cenário, situação comum com títulos antigos do gênero.

Falando nos cenários, eles são deslumbrantes, de altíssima definição e cheios de detalhes. O trabalho sonoro que os acompanha é competente, com trilhas que ditam o tom da narrativa e se encaixam muito bem com as situações e ambientes.

Os personagens foram igualmente bem desenhados. A arte, um tanto quanto caricata, é singular e cheia de expressividade. A princípio, as animações podem parecer um tanto rústicas, com movimentação meio travada, mas elas se encaixam com a direção de arte.

Mais do que bem desenhados, os personagens foram bem escritos. Carismáticos, cada um com personalidade distinta, maneirismos e formas de falar, são o ponto alto do jogo. Carinho em especial foi dado para a protagonista, Elisabeth “Lis” Fleur. Inteligente, perspicaz e engraçada, suas reações podem parecer um tanto exageradas às vezes, mas se encaixam bem nela. Uma pena que o estúdio não foi capaz de contratar atores de voz, mas é perfeitamente compreensível dado seu tamanho.

Carma

A história em que estes personagens estão inseridos, entretanto, não fica à altura deles. É extremamente simples: Lis Fleur é acusada de ter assassinado o dono de uma mansão e deve procurar o verdadeiro criminoso para se inocentar. Para piorar a situação, todos os presentes na casa possuem algum motivo para ter matado o dono.
Todos são suspeitos... inclusive a pequena Lis Fleur

A trama é claramente inspirada em romances de investigação policial, em especial nos livros de Agatha Christie. Não há muitas reviravoltas e algumas revelações súbitas ficaram um tanto quanto forçadas. Apesar disso, é uma história capaz de entreter.

Seu maior problema nem é a simplicidade, mas o ritmo acelerado. Em alguns momentos tudo parece transcorrer rápido demais. O que poderia amenizar esta sensação, fazendo com que as coisas não corressem tão depressa, seriam os quebra-cabeças e exploração — partes essenciais de todo adventure. Infelizmente, este é o ponto mais fraco do jogo.

Os puzzles são extremamente fáceis de solucionar, alguns beirando o óbvio. Nem mesmo os mais “difíceis” (comparativamente) exigem esforço mental. A pouca dificuldade, na verdade, é derivada de um problema comum aos games do gênero: saber exatamente aonde clicar. Em alguns casos (felizmente poucos) fiquei zanzando que nem um louco com o mouse pela tela, tentando descobrir exatamente que ponto exato do cenário deveria clicar. Mas uma vez descoberto com que objeto interagir, resolver os problemas é uma tarefa banal, que leva pouquíssimos minutos.

Talvez se distribuídos por um mapa de tamanho considerável, exigindo bastante exploração por parte do jogador, a simplicidade dos quebra-cabeças não seria tão notável. Não é o caso: a mansão é bem pequena, com poucas salas e cenários. Além disso, o jogo diz explicitamente aonde a protagonista dever ir e avisa quando não há mais puzzles para se resolver em determinado cômodo. São decisões interessantes que impedem que o jogador se sinta perdido, mas seriam mais bem aproveitadas numa ambientação maior.

Como resultado, temos uma experiência rápida e pequena. As investigações de Lis Fleur não levam muito tempo, sendo possível terminar o jogo em pouco mais de quatro horas.

Reparo em ouro

Apesar destes problemas, as aventuras de nossa pequena investigadora são agradáveis e divertidas. A Vítima de Ouro pode não ser o Secret of Monkey Island brasileiro, mas não deixa de ser um bom point-and-click nacional — e por seu preço extremamente acessível de apenas R$ 7,00 na Splitplay, mais do que vale a pena.

Prós

  • Ótimo visual;
  • Interface simples e de fácil uso;
  • Personagens extremamente carismáticos;
  • 100% em português;
  • Barato.

Contras

  • Quebra-cabeças fáceis;
  • Pouca exploração;
  • Curta duração.
A Vítima de Ouro — PC —Nota: 7,0

Revisão: Marcos Silveira
Capa: Felipe Araújo

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