Análise: Lovely planet (PC) é uma fofura frenética

O jogo indie da QUICKTEQUILA exagera tanto no visual inusitado quanto no gameplay acelerado e difícil.

em 07/08/2014

Em quesitos de gameplay, Lovely Planet (PC) tem todas as características de um FPS de velha guarda, nos moldes dos clássicos de PC Doom e Quake. O jogador controla um personagem rápido, capaz de saltar o dobro de sua própria altura, através de níveis frenéticos com foco no tiroteio e sem a menor preocupação com gerenciamento de munição, cover ou camping. A trama pode ser resumida em “ande, mate, fim”.


Mas basta uma rápida olhada para perceber sua maior diferença: a estética. Ao invés de usar os gráficos para exibir violência crua, detalhada e gratuita, Lovely Planet é… fofo, colorido, feliz e várias outras palavras bonitinhas — uma completa inversão do encontrado em jogos de tiro dos anos 90. Em todo lugar há flores, coraçõezinhos e arco-íris.

A música segue o mesmo estilo. Composta pelo talentoso Calum Bowen, parece saída diretamente de um shojo (animação japonesa voltada para meninas) dos anos 80 e se integra perfeitamente à direção de arte.

Essa estética inusitada acaba sendo o grande chamariz do jogo, sendo a primeira coisa a chamar a atenção. Entretanto, não passa de um artifício. É agradável, divertida e bem humorada, mas o game não se resume a ela. O grande destaque do título é seu gameplay frenético e impiedoso.

Um jogo sobre pular e atirar

Lovely Planet resume-se a matar todos os inimigos e chegar até o final do estágio. O jogador tem em sua posse uma arma com munição infinita e os inimigos morrem com apenas um tiro.

Essa premissa extremamente simples, no entanto, é usada com grande efeito no decorrer dos 5 mundos e 108 níveis. Ao poucos, novos desafios vão sendo adicionados. Primeiro, mais inimigos. Depois, projéteis teleguiados. Em seguida, alvos móveis, plataformas que desaparecem com o tempo, minas terrestres…

Quando menos se espera, esses elementos se acumulam de forma quase maçante e o teclado e mouse (ou controle, se você for masoquista) começam a ser trucidados pelo apertar frenético de botões. Ritmo e precisão se tornam essenciais para sobreviver os níveis mais avançados. Reagir rápido não é o suficiente: é preciso decorar os níveis, o posicionamento dos alvos e até mesmo a frequência com que os inimigos atiram e atacar antecipadamente. Tentativa e erro são as palavras-chave.

A dificuldade elevada é mitigada pelos ciclos de iteração curtos. Os níveis são pequenos, durando menos de trinta segundos cada um, logo não se perde muito tempo tentando inúmeras vezes. O título acaba lembrando Super Meat Boy (Multi) nesse sentido: fases que exigem precisão sobre-humana, mas que são curtíssimas, então podem ser repetidas indefinidamente sem cansar até que o jogador chegue à perfeição.

Para auxiliar essa tarefa, o game conta com um ótimo feedback visual e sonoro. Cada morte tem um som ou animação diferente. O jogador sabe claramente como e porque morreu: se foi acertado por um inimigo, se não atingiu um alvo no tempo certo, se pisou onde não deveria…  Isso é essencial para se saber o que está fazendo errado e melhorar a cada nova tentativa.

Simplesmente passar pelos níveis já é um feito de se admirar, mas o jogo recompensa aqueles que decidem fazer um esforço extra. Cada fase possui um tempo considerado ótimo, além de medirem quantos tiros o jogador errou. Vencer o estágio com 100% de precisão e num tempo menor que o indicado garante estrelas e conquistas. Platinar o título não é uma tarefa para meros mortais.

Além disso, o game registra o recorde mundial de cada fase. Sua física simples e inimigos telegrafados são extremamente apropriados para que usem e abusem dos sistemas do jogo, poupando o máximo de milissegundos possíveis.

Nem tudo é tão amável

Infelizmente, a não ser que o jogador seja um speedrunner, o título tem pouco fator replay. Mesmo com sua dificuldade elevada, é possível terminar Lovely Planet em pouco mais de cinco horas. Há alguns segredos em determinadas fases, mas mesmo eles não são grande justificativa para retornar ao jogo.

Não obstante, é uma experiência desafiadora, que com certeza agradará os jogadores que querem testar suas habilidades com jogos de tiro. Só tome cuidado para não vomitar arco-íris.

Prós

  • Direção de arte inusitada e divertida;
  • Trilha sonora viciante;
  • Rápido e frenético.

Contras

  • Curto, com fator replay limitado àqueles que gostam de fazer speedruns;
  • Pode causar ragequits e quebra de teclados, mouses e controles.

Lovely Planet — PC — Nota: 8.0
Revisão: Marcos Silveira
Capa: Stefano Genachi

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