Lords of The Black Sun (PC): uma Odisséia (desastrosa) no Espaço

Conquiste o universo antes que o universo conquiste você. Ou antes que o inimigo, ou um bug ou crash faça isso primeiro.

em 01/08/2014



Vocês se lembram de Spore? Aquele jogo que, na época em que foi anunciado, prometia um mundo cheio de coisas para fazer, como criar uma criatura desde a sua origem na sopa primordial, desenvolvê-la numa sociedade industrializada e cidades enormes ao estilo SimCity, e então evoluí-la a ponto de chegar à Era Espacial, e depois disso tudo, conquistar a galáxia?

Eu lembro bem. Fã da Maxis e entusiasta de seus simuladores, fiquei completamente decepcionado com o que o jogo da EA nos apresentou. Não tiro os méritos da complexidade e da evolução do jogo, mas, pelo amor dos meus filhos, aquilo foi a maior tragédia de 2008 depois da crise econômica mundial.


Digo isso no teste de Lords of the Black Sun por que foi a primeira coisa que me veio a mente depois de horas tentando manter minha civilização espacial de pé e falhando por não saber o que fazer, e com pouca ajuda do jogo para sanar as dúvidas.

Não que ele seja ruim. Assim como em Spore, se você sabe o que está acontecendo no meio de tantos números, sistemas solares e inimigos atacando a todo instante, o jogo realmente consegue te prender por horas.

Ao espaço e avante!

Somente disponível em Early Access na Steam, o jogo dos portugueses da Arkavi lhe coloca à cargo de uma civilização na era espacial. É preciso manter a população satisfeita e trabalhando para que os conflitos com as outras raças em estágio similar estejam sob controle. Isso por que no midgame a coisa pode facilmente degringolar para um caos espacial, com frotas inteiras sendo destruídas por falta de atenção e planetas inteiros sucumbindo a tragédias naturais, ataques de piratas ou revoluções que aparecem a qualquer momento.



Com um sistema de jogo baseado em turnos e com raízes nas séries criadas por Sid Meier (Civilization e Alpha Centauri), além do próprio Spore em sua fase final, LotBS tem tudo para ser um ótimo título de estratégia espacial, com raças, mundos e sistemas de gestão únicos em cada partida. Assim como em Civilization (vou chamar carinhosamente de Civ a partir daqui), cada partida envolve um novo mapa gerado aleatoriamente, e só sabemos o que está acontecendo depois de alguns turnos explorando.

Por enquanto, há oito raças para explorar, entre elas os humanos. Cada uma tem stats únicos que se adaptam às diversas estratégias de cada jogador. Eu gostei muito dos Draakians para a minha estratégia de “fique na sua, fique rico e compre seu caminho para a vitória” que costumo usar em jogos semelhantes. Mas há uma ironia que esboça a situação atual do jogo: na história, os Draakianos são um povo do deserto, mas será necessário pesquisar a árvore de “viver no deserto” para poder colonizar planetas que possuem este bioma como proeminente.

Há duas raças exatamente iguais em números, no qual é difícil notar diferenças ao jogar com as duas ao mesmo tempo (que me detonaram juntas em uma partida), mas como ainda há muito para termos o produto final em mãos, não considero isso a maior ameaça da galáxia.

Customizando sua conquista


Uma das peculiaridades de LotBS é o sistema de personalização de naves e de pesquisas. Enquanto vai se avançando pelos mundos e embates diplomáticos com outras raças, mais perks na árvore de pesquisas vão sendo desbloqueadas e mais ferramentas podem ser incluídas em suas naves.

Sua frota pode ser um mesclado de naves específicas para um tipo de serviço, como naves-mãe especializadas em atirar à distância e outras dedicadas somente ao reparo em campo, enquanto um terceiro grupo fica na linha de frente segurando a pancada, por exemplo. Com tantos modelos e combinações que podem ser criadas, é de se esperar que a lista de construção fique cada vez maior. Também é possível marcar naves ultrapassadas como obsoletas e tirá-las de vista pelo resto da campanha.



Além da vitória militar (destruindo e conquistando outros povos até que uma só raça sobreviva no universo), é possível também ganhar através do poder da ciência, que é mais simples do que se imagina. Não é preciso ser o senhor da sabedoria e ter inúmeras perks abertas e um exército de pesquisadores fazendo hora extra no seu trabalho. Basta pesquisar o caminho até um único item da árvore Science e BA-DA-BIM BA-DA-BAM BA-DA-BOOM você ganhou o jogo.

Com o tempo, espero que mais métodos de vitória sejam adicionados, aumentando assim o leque de estratégias.

Conheça teu inimigo

Assim como em Civ e outros jogos em turnos multiplayer (com AI e/ou humanos), não gosto muito de saber com quem irei jogar antes de vê-lo em campo. Quando crio a partida, costumo escolher minha raça/civilização e deixar o computador escolher o resto dos jogadores e o mapa. Por enquanto, há apenas duas opções da formação da galáxia: uma onde todos os sistemas solares estão em um círculo com um vazio no meio (no estilo donut) e outra onde estão espalhados aleatoriamente, sem espaços para respirar.



No matchmaking, podemos colocar os valores de tamanho, quantidade de civilizações “neutras” (aquelas que não expandem e geralmente não fazem nada além de existir), piratas (similar aos neutros, mas que podem te sacanear a qualquer momento) e quantidades de galáxias. Sinto muito a falta de uma opção de deixar o computador escolher com quem irei batalhar. A falta de um sistema de equilíbrio na distribuição de recursos torna a coisa ainda mais complicada para o iniciante.

Como a geração é aleatória, nunca sabemos se iremos “nascer” em uma galáxia rica em recursos ou num verdadeiro deserto estéril cercado de piratas hostis. Começar e manter a coisa funcionando fica mais complicado e quem for novato vai aprender na porrada, ou desistir antes. Ou então começar inúmeras partidas até encontrar uma situação favorável para falhas, que muitas vezes não perdoam.

O sistema de batalha, similar ao que temos (mais uma vez) no Civ e em outros estilos de batalha com várias unidades por turno, é interessante, mas quem se entediar pelo processo pode deixar que a AI resolva os duelos. No entanto, não dá para confiar no computador: já perdi frotas inteiras em batalhas que considerava ganhas, mas que estava com preguiça de controlá-las.

No espaço, ninguém pode ouvir seus bugs

Apesar de estar “no ar” há menos de um ano, o jogo já avançou bastante em seu desenvolvimento, trazendo sempre melhorias na engine, interface e na correção de bugs. Mesmo assim, faltam coisas básicas que são cruciais para manter o jogador interessado.

Os bugs são esperados, mas apenas um me obrigou a recomeçar uma partida. Estava tudo bem com a minha expansão humana pela galáxia, até notar que não conseguia colocar um propulsor nas minhas naves. Todas as raças possuem a tecnologia aberta desde o começo, mas, por alguma graça do jogo, a humanidade ainda não sabia fazer motores, emperrando o sistema de montagem de espaçonaves e o desenvolvimento. Duas horas de gameplay foram — desculpe pelo jogo de palavras — “para o espaço”.


Outro problema que me fez ficar longe do jogo por algum tempo foi um crash no meio de uma partida onde estava dando tudo certo. O que me fez lembrar ainda mais de Spore.

Falta alguma lapidada na interface, um pouco arcaica e não tão prática. Mas o que mais me deixa incomodado é não poder dar Alt + Tab. Fico preso na janela do game até fechá-lo, usar outro programa e depois recarregar todos os loads de início, que é uma tarefa demorada.

Também reiniciei algumas vezes por pura falta do que saber o que fazer. Subitamente meu saldo positivo de +100 BC (a moeda do jogo) foi para -50, e assim continuou até eu perder todas as economias, deixar a população descontente e basicamente ser engolido pelas raças mais desenvolvidas. Mas isso é pela falta de um tutorial mais completo e menos entediante. Algo que esperamos ser superado nas fases mais avançadas do desenvolvimento do jogo.

Por fim, leve em conta que estamos falando de um Early Access. E mesmo assim, Lords of the Black Sun não está imune às críticas pelos problemas irritantes. R$ 45,99 é um valor salgado demais para os jogadores começarem a se interessar e a investir num projeto promissor, mas ainda repleto de pontas soltas.

Revisão: Jaime Ninice
Capa: Doug Fernandes

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