Análise: Vitrum (PC) inverte gravidade e deixa suas expectativas no chão

Comandando um androide, passe por fases que testam seu raciocínio e reflexos enquanto usa diversos poderes e briga contra os problemas das sequências de plataformas.

em 12/08/2014

Têm alguns games que simplesmente deixam o jogador triste. Não digo pela morte de um personagem querido ou importante, nem pelo passado sofrido do protagonista ou pelo próprio dolorido enredo em si. Não, eu digo simplesmente porque às vezes presenciamos um título com um grande potencial, que gera altas expectativas, mas falha em chegar ao seu ápice e cumprir o que prometeu. É exatamente nesse segundo contexto que se encaixa Vitrum.

Um bom conceito mal aplicado


O primeiro título da 9heads Games é uma mistura de jogo de plataforma com quebra-cabeças, uma combinação que tem se tornado cada vez mais popular, graças a representantes como Portal — jogo que claramente serviu de inspiração para Vitrum. O jogador, controlando um androide em uma fábrica abandonada, deve passar níveis que envolvem abrir portas, mover objetos e passar obstáculos. Para isso, o robô conta com ajuda de cristais que concedem poderes de uso único, os quais podem ser associados com sua mão esquerda ou direita, podendo assim carregar até dois poderes diferentes simultaneamente. Entretanto, nem todos os cristais são bons, visto que os verdes são radioativos e causam morte com o tempo e os pretos avermelhados te matam instantaneamente.


A proposta do jogo é tão simples que sequer conta com um enredo, o que acaba desestimulando aqueles que procuram algo um pouco mais profundo do que apenas uma coletânea de desafios. Em compensação, a diversidade dos cristais garante uma gama muito grande de poderes (como inverter a gravidade, criar plataformas, dar pulos gigantes, proteção aos lasers e se impulsionar horizontalmente), o que possibilitou que os desenvolvedores criassem enigmas bem variados e desafiantes. Alguns realmente te colocam para pensar, enquanto outros aproveitam mais do aspecto platformer e testam sua precisão e timing.


Seria muito bom... Se funcionasse corretamente

Infelizmente, embora conte com mais de 40 níveis com enigmas bem diferentes entre si (além de outros desbloqueáveis cumprindo certas exigências), a ambientação é muito repetitiva e pela vigésima fase o jogador já está cansado de ver os mesmos painéis acinzentados repetindo-se até perder de vista. A monotonia também ocorre nas músicas, mas de forma mais branda já que, embora tenham poucas variações, combinam muito bem com o estilo do game e ajudam a prender o jogador na atmosfera sem interromper ou atrapalhar o nosso cérebro tentando achar uma solução para aquele difícil enigma.



 Se, por um lado, os enigmas foram bem feitos e o conceito interessante (apesar de limitado), o aspecto platformer deixa bastante a desejar. Embora se entrose muito bem com as partes de puzzle e certas fases exijam que o jogador tenha maestria dos dois gêneros, a aplicação das sequências de plataformas é por vezes falha e frustrante. Sem passar uma boa sensação de profundidade, é comum pular e cair muito antes ou depois da plataforma na qual desejávamos aterrissar. Às vezes demoramos mais do que devíamos para pegar um bloco do chão ou um poder do cristal, e um certo delay entre o aperto da tecla de pulo e o personagem realizar a ação causam várias mortes desnecessárias. O que era para ser algo desafiador e instigante, por zerar seu progresso no estágio desde o começo (ou desde um dos escassos checkpoints), acaba sendo frustrante acima de tudo.

Deveria ser "Press Spacebar (and wait a little while) to jump."

Mesmo relevando as suas falhas, Vitrum ainda é um jogo um tanto cru, embora desafiador e utilizando-se de bons conceitos. Mas, considerando que esta é a primeira incursão do estúdio 9heads Games no mundo dos jogos, vale a pena ficar de olho quais outros títulos a empresa pode vir a desenvolver. Se você curte puzzles, portal ou sofre de uma abstinência de Layton como eu, o jogo, por mais frustrante que seja, até vale seus 20 reais.

Prós


  • Conceito interessante;
  • Ótimo design de puzzles;
  • Boa mescla de enigmas com plataformas;
  • Combinações de poderes geram resultados curiosos;
  • Fases criadas por usuários aumentam a longevidade do título;
  • Boa trilha sonora.

Contras


  • Dificuldade de mover o personagem apenas o tanto desejado;
  • Não produz boa sensação de profundidade, ocasionando mortes desnecessárias;
  • Problemas em geral nas seções de platformer;
  • Ambientes repetitivos.


Vitrum — PC (Splitplay) — Nota 5,5

Revisão: Catarine Aurora
Capa: Felipe Araujo

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