O que temos hoje
Uma "googlada" rápida mostra um pouco sobre esta ideia que tive ao ver o pobre diabo da partida Brasil x Croácia marcando um pênalti para o tropeço do Fred na grande área. Os três primeiros resultados na busca davam em jogos institucionais bobos. Caso consiga sobreviver ao loading eterno, O Football Referee aponta os lances e o jogador precisa decidir o que aconteceu. O campo está nas condições adequadas? Foi mão? Foi na bola? No final os resultados apontam se você é bom o suficiente para o serviço.Além do valor educativo, já que é preciso saber muitos movimentos dos bandeiras, quantidades de apitos para um lance e outros paranauês, o jogo é formato campanha: as partidas vão se tornando mais importantes — segunda divisão, amistoso internacional, e por aí vai — e mais difíceis. Mas não tive paciência com os loadings demorados e os gráficos decepcionantes. Parei no amistoso.
Já o Referee Challenge, o segundo resultado da busca consegue ter gráficos piores. Seu replay é nulo: recomeça o mesmo jogo, com os mesmos lances, tudo de novo. Mas vale a pena para melhorar a pontuação e a memória.
O que poderíamos ter
Penso em algo como um game de futebol padrão. Contendo gráficos e uma física padrão FIFA, mas com a câmera sempre focada no juiz — primeira ou terceira pessoa, sem choro —, e direito ao ponto eletrônico com o quarto árbitro, que poderia sugerir algumas apitadas. Talvez, só para facilitar a vida, um botão dedicado ao efeito slow-motion, para o jogador ter mais tempo para decidir o que fazer. Mas isso só seria permitido no nível normal.Como os bandeiras também estariam propensos a errar,o jogador precisaria montar um time balanceado de assistentes. Talvez um sistema de evolução de personagens e uma loja para comprar personalizações de uniformes, para os desenvolvedores ávidos por monetização.
Coloque algumas piadas internas do universo futebolístico (um retrato da mãe do juiz no bolso, junto aos cartões?) e pronto. A justiça foi feita para o homem. Ao invés de ficarmos aporrinhando o juiz, entenderemos como a vida deles é dura. Ou que o salário é tão ruim que não ficamos tão abalados quando aquele patrocinador corinthiano oferece um fim de semana em Parati, com tudo pago. Um sistema de “moral” indicaria o quão bem visto o juíz é perante a sociedade. Os paparazzi sempre estão por perto na hora daquela saída suspeita do jatinho do magnata.
Quanto mais corrupto, menos confiável, e menores serão as chances de alguém acreditar nas três apitadas de encerramento de jogo, enquanto o Benzema fazia o sexto tento da França sobre a Suíça. Ou só foi distração do Bjorn Kuipers. De qualquer forma, foi hilário.
Imagina que gostoso dar aquele cartão vermelho para o Zidane em 2006
Os cartões, o spray de tinta, o apito e o relógio que aponta quando a bola entra no gol seriam as suas únicas armas. Uma bronca ao grupo de jogadores insatisfeitos com a falta não deu muito certo? Um ou dois cartões amarelos resolveriam o assunto. Tomou uma xingada de um polonês e, sem querer, você sabe um pouco do idioma? Vermelho nele.Gerenciar o uso dos cartões seria essencial. Muitos cartões fariam com que o jogo ficasse entediante, ou violento demais, assim como muitos apitos e poucos lances de vantagem deixariam a fluência da partida parecendo um Irã x Nigéria.
Voltando ao primeiro jogo do Brasil nesta Copa, imagina a situação: não foi pênalti (reconhecemos). O replay ressoa na cabeça do japonês nas noites mal dormidas; sua moral certamente o impedirá de apitar uma final num futuro próximo. Menos jogos para participar significa menos dinheiro no final do mês, e o juiz tem uma mãe para consolar.
Afinal, o jogo deve ser bom. Aquele jogo onde todos — do gandula ao dirigente — vibram loucamente. Quanto melhor o jogo, mais moral para o juiz, e mais oportunidades de trabalho virão. Por fim, quem nunca quis estar em uma grande final, mesmo que para isso precise dar alguns pênaltis a mais ou favorecer o campeão atual, que curiosamente é o time favorito do presidente da entidade, que por grande ironia do destino, também paga o seu salário?
Essas polêmicas e situações inusitadas, que colocam o jogador para decidir qual caminho tomar na pele do árbitro, seriam o suficiente para que um dos personagens mais odiosos dentro das quatro linhas comece a ser reconhecido? Sinceramente não sei. Deixo a pergunta livre para você, amigo leitor. O quê mais poderíamos ver em um simulador de juiz de futebol?
Revisão: Jaime Ninice
Capa: Doug Fernandes