Dark Souls: o desejo obsessivo por Humanities

Todas as maldições de Lordran giram em torno deste pequeno item.

em 16/07/2014
Lembro-me perfeitamente da primeira vez que segurei uma Humanity em minhas mãos. Havia acabado de escapar daquele lugar maldito, trazido pelo grande corvo. Um corpo jazia em cima de um poço com os membros superiores pendendo para baixo. Em sua mão direita, um objeto brilhava. Senti um breve calor na cicatriz que trago junto ao peito. Não entendia direito o que estava acontecendo. Um sujeito perto da fogueira apenas me disse algo sobre dois sinos. Antes, Oscar havia falado de uma profecia do morto-vivo salvador. Olhei fixamente para a fogueira. Ela me chamava. Seria eu o escolhido?

Do sino mais alto ao sino mais baixo

“Se a alma é a fonte de toda a vida, então o que distingue a humanidade que trazemos consoco?” (Excerto da descrição do item Humanity)
Estava em Undead Burg quando usei uma Humanity na fogueira pela primeira vez. Em um momento eu havia deixado de ser vazio. Senti a vida retornar ao meu corpo e as memórias de uma trajetória humana perderem um pouco sua nebulosidade. Apenas para ser esmagado pela grande clave de Havel e retornar à fogueira vazio novamente. Meu caminho certo seria a loucura?
Contudo,descobria um pouco mais a cada momento destes estranhos itens. Podia acumulá-los, uzá-los para recobrar minha vida; até a próxima morte;, ou para aumentar a força da fogueira. E como era bom aumentar a força delas. Descobri, também, que enquanto humano, fendas no espaço-tempo se abriam e eu podia chamar guerreiros para me ajudar. Foi assim que chamei Solaire pela primeira vez no topo da igreja. Vencemos as duas gárgulas com certa facilidade, e pude completar o primeiro passo de minha jornada. Mas, qual era ela exatamente?

Enquanto desviava das rajadas de lava e fogo da sinistra mulher-aranha, pensava nas semelhanças e diferenças entre as almas que eu carregava e as humanities. Algo de familiar existia entre elas, ao mesmo tempo em que uma distância abismal as separavam. Depois de cortar algumas das pernas de Queelag e estocar minha espada em sua cabeça, completei o segundo momento da minha missão ao tocar o segundo sino. Antes de retornar ao templo, no entanto, encontrei mais uma estranha criatura.

Queelan, mais uma das filhas da bruxa de Izalith, necessitava guturalmente de humanities. Sua cegueira a impedia de identificar quem trazia o item para ela. Talvez por um senso de justiça que ainda me mantinha ligado à sanidade, resolvi, sempre que possível, trazer algumas para a sofrida mulher. Por que todos desejam humanities? Por que tudo gira em torno disso?

Guiado por serpentes

“ Quão peculiar é o fato de que os humanos não acharam uso para humanity até que se tornaram mortos-vivos” (Excerto da descrição do item Rite of Kindling)
De volta ao templo, enquanto sentia o bafo nojento de Frampt, perguntava-me se aquela serpente realmente estava me dando respostas de alguma coisa. Era eu mesmo o escolhido. Com isso em mente,seria meu papel ir buscar a bacia das almas em Anor Londo? O que me aguardaria na antiga cidade dos deuses? Algo, (além do bafo), fedia...

A cidade dos Lordes guardava muita coisa, mas não tantas respostas. Escapei com vida daquele mundo maldito que fica dentro do quadro. Venci tantos desafios e, mais uma vez, com a ajuda de Solaire, consegui vencer o carrasco e o matador de dragões. Quanta dor para uma só luta. A partir daí, com a bacia das almas, eu poderia viajar entre fogueiras e, principalmente, recolher as almas dos lordes para poder chegar à Gwyn, finalmente. Toda a conversa de sua filha não me convenceu muito.
Foi, porém, o Abismo que me trouxe mais respostas, e tantas outras perguntas. Por que aqueles reis foram trancados lá? Como se tomou a decisão de inundar a cidade de New Londo? A resposta era o próprio Abismo. Algo inexplicável, que se expandia trazendo o fim de toda a vida. De toda mesmo? Encontrei-me com mais uma serpente, logo após vencer os quatro reis de New Londo. Kaathe contava uma história bem diferente da outra serpente primordial. A era da escuridão seria a única coisa que nos aguardava. Nela, os homens poderiam se desligar da opressão dos deuses e seguir com a vida. Suas intenções eram pouco claras, assim como o desejo coletivo e desesperado de todos pelo mesmo item: Humanity.

O que nos torna humanos?

“O antigo Manus foi claramente humano, alguma vez no passado. Mas, tornou-se o pai do Abismo após sua humanidade se descontrolar” (Excerto da descrição do item Soul of Manus)
Quando enfrentava o necromante Pinwheel, sentia-me cada vez mais confuso. A última espadada cortava o crânio de meu inimigo, e ele não parava de dizer “me desculpe”. O detentor do Rite of Kindling, rito responsável por muitas batalhas e tramas em Lordran. Rito responsável pela fortificação das fogueiras através de humanities. Rito que prolongaria a era do fogo, ou que nos relegaria a uma necessidade eterna de humanities?
As resposta só surgiram quando fui para Oolacile. A dor de vencer o brilhante guerreiro Artorias que enfentrou o Abismo e sucumbiu foi tão grande quanto as inúmeras dores causadas pelas sucessivas derrotas contra Kalameet, o dragão negro. Mas, nenhum dos dois me dariam respostas conclusivas. Apenas Manus, o pai do Abismo. 

Cada vez que chegava mais próximo de Manus, mais e mais seres estranhos surgiam. Seres exatamente na forma de humanities. Maiores ou menores. E deixavam cair o item de forma muito mais frequente que os ratos do esgoto ou as donzelas deformadas de Seath, o nojento dragão ancião. Estariam mais próximas as respostas?

Vencer Manus foi exaustivo. Uma das mais longas e cansativas batalhas. A vitória veio apenas pela ajuda do pequeno lobo Sif. Quando o pai do Abismo caiu, o Abismo não caiu com ele. Já estava feito. O quê exatamente? Ao segurar a alma de Manus, tudo ficou mais claro. Aquela era a Dark Soul, a alma encontrada pelo Furtive Pigmy na era dos anciões. O pequenino e tão facilmente esquecido. O pai de todos os homens.

Teria sido acordado de seu sono pelo povo de Oolacile por qual motivo? Foi torturado e humilhado de tal maneira que sua alma se descontrolou, partindo-se em inúmeros pedaços e gerando as humanities. O grande pecado de Oolaciel tornou-se a grande maldição do mundo. E não há volta. O descontrole de uma grande alma só pode trazer a desgraça. Foi assim com Manus, e foi assim com a bruxa de Izalith, que criou a cama do caos e os demônios.

As humanities e seu sentido para o mundo

Tudo gira em torno das humanities a partir do momento em que Manus passou a existir; a partir do momento em que os mortos-vivos apareceram; quando o Abismo começou a se estender. Para tudo,precisa-se delas, porque são exatamente o resultado do pecado original. Ou teria sido o pecado original ter vencido os Dragões e trazido cor e movimento ao mundo?

A era da escuridão é iminente e inexorável. A dor de uma jornada inútil invade meu peito vazio enquanto o corpo de Lorde Gwyn está ao meu lado. Agora olho para a primeira chama. Qual atitude devo tomar? Fortalecê-la novamente e postergar o inevitável? Ir embora e abraçar a era da escuridão? Apenas me levanto e dou o primeiro passo.

Revisão: Jaime Ninice
Capa: Stefano Genachi

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