Todo gamer está familiarizado com o termo “chefão”. É quase obrigatório que um jogo tenha um inimigo maior e mais poderoso que todos que apareceram antes, normalmente representando o desafio final da aventura. Muitos desses acabam entrando na memória dos jogadores, seja por seu carisma, antagonismo ou só por serem estressantes e difíceis mesmo. Há, até mesmo, títulos que possuem chefões e nada mais, como é o caso de Shadow of the Colossus (PS2), um dos mais famosos e aclamados por público e crítica.
De tão comuns e intrínsecos aos jogos modernos, muitos não pensam em suas origens. Phoenix, um clássico de arcades, foi provavelmente o primeiro jogo comercial a apresentar o que hoje chamamos de “chefão” — numa época em que o termo sequer existia.
Vejam o que a Centuri chocou…
Phoenix é um shooter espacial fixo, similar a Space Invaders e desenvolvido pela Amstar Electronics (localizada em, vejam só, Phoenix, Arizona), em 1980. Sua jogabilidade é reminiscente de outro clássico para arcades da época, Galaxian. Assim como seu primo japonês, os inimigos não têm formação fixa, movimentando-se pela tela e atirando-se contra o jogador.Da esquerda para a direita: Space Invaders, Galaxian e Phoenix |
Mas a diferença mais importante está na variedade que o game possui. Enquanto seus rivais se limitavam a repetir os mesmos desafios apenas com velocidade maior, Phoenix era dividido em 5 rounds, cada um com suas diferenças.
Os rounds 1 e 2 não fogem muito do padrão de Galaxian, com inimigos pequenos mudando de formação continuamente e tentando eliminar o jogador com táticas kamikaze. No primeiro, os inimigos são amarelos, no segundo, rosas, além de mais agressivos e rápidos — em compensação, a velocidade de tiro também aumenta.
Nos rounds 3 e 4, é que começam a se notar algumas diferenças. Estes estágios iniciam com ovos flutuando, que se chocam em aves alienígenas — as fênixes que dão nome ao jogo. Fazendo jus às aves míticas, acertar as asas dos inimigos é inefetivo, visto que elas se recuperam rapidamente. Apenas um tiro certeiro bem no meio pode destruí-los. Atirar nos ovos antes que se choquem também é possível, mas seus movimentos erráticos e tamanho diminuto tornam a tarefa difícil.
O quinto e último round é o mais importante e marcante. É nele que enfrentamos a Nave Mãe, um dos primeiros bosses dos videogames. Para vencer o chefe, o jogador deve destruir o escudo que cerca a nave e atingir o alienígena no centro — um único tiro é o suficiente para derrotá-lo. A tarefa não é tão simples quanto parece: o escudo precisa de vários tiros para ser destruído e o chefe é escoltado por uma formação de aves parecida com a dos rounds 1 e 2.
Phoenix também foi um dos primeiros jogos de arcade a usar o áudio de forma atmosférica. Os intensos gritos das aves inimigas ao terem suas asas decepadas com certeza ficaram na memória dos jogadores da época.
Das cinzas
Phoenix logo recebeu vários clones, alguns dos mais famosos sendo Griffon, Falcon, Condor e Pheenix (será que eles nem tentavam esconder?). Outros jogos copiaram igualmente algumas ideias de Phoenix, como a variedade de rounds e, em especial, a Nave Mãe — Gorf, outro clássico de arcades lançado no ano seguinte, também era dividido em 5 rounds com uma grande nave protegida por um escudo no último.Em 1982, foi feito um port do game para Atari 2600. Apesar dos gráficos justificadamente inferiores, o port foi extremamente fiel ao arcade, transportando a mesma jogabilidade e, o mais importante, o desafio final. Muitos anos depois, em 2005, o título foi relançado para PS2, Xbox, PSP e PC como parte da coletânea Taito Legends, que reúne vários outros clássicos de arcade como Space Invaders e Bubble Bobble.
Olha esses gráficos fantásticos do Atari 2600! |
Mesmo sem uma miríade de relançamentos, é um jogo que vale a pena buscar. O chefão de Phoenix pode não ser o mais desafiador, mas sempre estará marcado na história como um dos primeiros.
Revisão: Catarine Aurora
Capa: Sybellyus Paiva