Análise: Em Banished (PC) enfrente um inimigo diferente: a mãe natureza

Ajude um grupo de exilados a sobreviver e prosperar contra a natureza nesse simulador indie de construção de cidades

em 06/06/2014
Banished (PC) apresenta um desafio que parece fácil para um simulador sobre construir cidades: sobreviver. E seu único inimigo nessa jornada será a natureza. À primeira vista, aparenta ser algo como uma cidade de SimCity que eventualmente sofreu um terremoto ou furacão, mas aqui a natureza é cruel e bem mais difícil de ser superada.

O novo começo

Um grupo de pessoas, banidas de sua aldeia natal, vagou pelo mundo até chegar em uma região inabitada. Esse local possui diversos recursos naturais que podem ser explorados para que consigam estabelecer e liderar uma nova aldeia. Todos trouxeram alguns recursos para sobreviver inicialmente, como lenha, ferramentas, comida e roupas. O nome Banished significa banidos em uma tradução livre, coincidindo com a história apresentada.

A região isolada se situa na Europa pelo visual das construções, então espere por invernos muito frios ao ponto de matar pessoas desabrigadas. Portanto, sobreviver nesse jogo significa derrubar árvores e recolher pedras para construir novas casas a elas o quanto antes; o inverno não tarda a chegar. E mesmo dentro das casas as pessoas consumemr lenha para se aquecer no inverno. Então sua segunda preocupação de sobrevivência será produzir e estocar lenha suficiente para alcançar a primavera.

Mas de nada vai adiantar pessoas morando em casas quentinhas se elas não tiverem alimentos para se sustentar. Também será necessário criar locais para que possam caçar, plantar ou pescar antes que seu estoque inicial de comida acabe. Plantas morrem e animais ficam mais raros durante o inverno, então é importante acumular o máximo possível antes dele chegar. E como a natureza é imprevisível, o inverno pode vir mais cedo ou durar mais que o normal, complicando seu planejamento.

Se chegar até aqui, parabéns! Você passou no desafio inicial de sobreviver. Mas o jogo ainda vai trazer novos problemas. Sua população aumenta com o tempo: as pessoas adultas têm filhos, e esses filhos eventualmente crescem e também se tornam adultos. Caso encontrem uma casa vazia os novos adultos se juntam e dão origem a uma nova família, com mais filhos. Já os seus cidadãos iniciais vão ficando cada vez mais velhos e acabam morrendo por velhice, o mesmo acontece com os que vieram depois deles. Acidentes podem acontecer a qualquer momento como pessoas morrerem afogadas ou atacadas por animais selvagens. O mundo aqui é um lugar perigoso.
Winter is coming! E mesmo no outuno já começou a nevar

Microgerencie um microuniverso

O jogo vai apresentar um painel com a saúde, felicidade, número de pessoas, temperatura e estação do ano atual. Conforme o tempo passa as estações vão se alternando com diferenças na temperatura. Dias quentes são mais agradáveis e fáceis, já os dias frios influenciam a produtividade e saúde das pessoas. Outros eventos naturais também provocam consequências nas pessoas como uma chuva forte ou nevasca.

Cada casa tem uma família que pode ser ajustada individualmente para trabalhar com qualquer coisa. Ou seja, um ferreiro pode virar pescador ou um fazendeiro virar mineiro quando você quiser. É importante manter isso em vista para corrigir possíveis falhas na produtividade com o crescimento ou queda da população. Essa mesma casa precisa de recursos iniciais como comida e lenha para sobreviver, e eventualmente vai requerer ferramentas, roupas, remédios e álcool para viver melhor. E cabe a você prover esses recursos.

Nesse ponto começa o segundo desafio de Banished: o equilíbrio constante de produção. A geração de recursos que funcionava bem para os moradores iniciais provavelmente não vai sustentar o crescimento populacional se você não a fizer crescer junto. Ao mesmo tempo, várias vagas de emprego ficarão em aberto na cidade se a população não aumentar. A produção perdida dessas vagas fará falta em algum ponto. Se sair do controle pode ser seu fim. Novamente sobreviver é o desafio, ou então só restará uma cidade fantasma.


Garantir que cada família continue efetiva ao mesmo tempo que a vila como um todo siga trabalhando é mais difícil do que parece. É comum você planejar aumentar a produção em algum recurso ou tentar produzir algo diferente e o resto se desajustar. Moirrer nesse ponto do jogo é mais fácil do que em Dark Souls, por exemplo. Fiz diversas tentativas até entender o equilíbrio necessário para levar uma aldeia adiante.

Cadeias produtivas

Quanto maior sua população maiores serão as demandas. Logo pedirão cemitérios para seus antepassados descansarem, igrejas para rezarem, hospitais para os doentes e escolas para seus filhos. E aumentar a população será necessário para distribuir todos esses serviços. Assim como a manutenção de cadeias produtivas mais longas como bebidas, roupas e ferramentas. Todas são importantes para administração de um povo eficiente, feliz e saudável. Vou usar como exemplo a questão das roupas e ferramentas. Você começa com um estoque inicial de ambas, mas elas acabam por excesso de uso ou maior demanda. Então, mãos à obra!

O primeiro passo é construir os respectivos prédios para profissionais de cada área operarem. As construções nesse jogo podem ser feitas a qualquer hora, sem pré-requisitos como em muitos títulos do gênero. E em Banished não existe dinheiro, portanto o único custo para erguê-las é ter madeira, pedras, ferro e pessoas trabalhando como construtoras.

A etapa seguinte é prover a matéria-prima necessária. As ferramentas necessitam tanto de madeira como ferro para serem produzidas. Ambos recursos você consegue explorando reservas naturais no mapa desde o começo do jogo. Já as roupas podem ser feitas de couro ou lã de animais. Eles são obtidos caçando animais selvagens ou criando vacas e ovelhas. E se você não possui esses animais em sua vila vai precisar adquiri-los de um mercador.

Para fazer trocas (lembrando que não existe dinheiro no jogo) você precisa construir um porto. Nele poderá armazenar qualquer produto, de pedras a ferramentas. E assim que um barco atracar será possível trocar bens com ele. Porém o comerciante também precisa se interessar no que você tem guardado. Por isso é importante manter diferentes materiais estocados. Somente através dos vendedores você consegue animais como vacas e galinhas.
O mercador aporta buscando bons negócios

E após montar um rancho e ter pessoas cuidando dos animais você vai obter couro e lã para produzir novas roupas. Já os recursos naturais para criar ferramentas são finitos, então também será necessário ter um reflorestador e uma mina profunda operando ao mesmo tempo para manter a linha de produção ativa. Sustentar cadeias produtivas funcionando sem falhas não é nada fácil!

Voltando às possibilidades de trocas, alguns mercadores vão oferecer sementes de alimentos diferentes do que você já possuía. Apesar de caros, novos alimentos podem melhorar a saúde geral da população diversificando sua dieta e facilitando o planejamento. Cada alimento é plantado e colhido em diferentes períodos durante o ano. Com isso você mantém pessoas trabalhando e estoques altos de alimentos durante o ano todo, diminuindo seu risco com o inverno antecipado.

Além de mercadores, também é possível receber grupos de nômades. Eles pedem sua autorização para se juntar à população da vila e podem ser úteis no rápido aumento populacional se precisar aumentar sua produção. Ao mesmo tempo, nômades trazem o risco de transmitir alguma doença desconhecida e devastar sua população ao entrar em contato com ela. É um risco a ser muito bem pensado.

Ambientação climática bela e milionária

O jogo possui gráficos polidos, belas paisagens e músicas agradáveis de fundo. Menus simples que te levam onde você precisa chegar. E apesar de não ser perfeito, o visual é surpreendente se você pensar que todos os aspectos do jogo foram desenvolvidos por uma única pessoa. Luke Hodorowicz levou cerca de um ano e meio escrevendo uma engine do zero junto ao desenvolvimento dos gráficos e sons do game. E ele é o fundador e único funcionário do estúdio Shining Rock Software LLC, que responde por Banished. Uma amostra de como o empenho e dedicação em um objetivo podem te levar muito longe.

Voltando aos gráficos do jogo, tudo é bem trabalhado e polido, dos tijolos nas construções à fumaça nas chaminés. É bem visível a transição entre o inverno e o restante do ano, com tudo se enchendo de neve. Eventualmente alguns fenômenos como chuva, neve, tempestades e incêndios acontecem, também agradáveis de se ver. Banished possui gráficos abaixo da última versão de SimCity, mas também não deve ter gasto nem metade do orçamento milionário que a EA destinou ao seu famoso simulador de cidades.
De macieiras a feijões, cada cultivo tem um visual único em Banished

Cidades bonitas porém limitadas

É fácil perder horas no jogo e não ver o tempo passar. Ou voltar atrás em um jogo salvo anterior para tentar corrigir aquilo que levou à morte e o fim da vila. Como o game gera mapas aleatórios, eventos randômicos e as estações variam de duração ano a ano, Banished oferece uma experiência diferente a cada aventura. Porém o jogo não tem um conteúdo avançado muito extenso, após algum tempo você percebe que não existem mais construções ou melhorias a serem feitas e tudo que resta é continuar crescendo. Portanto logo você irá cansar de superar a magia inicial da luta contra a natureza vendo que, apesar do mapa diferente, todas as construções são iguais ao evoluir sua vila.

A Shining Rock Software prometeu novos conteúdos lançados aos poucos assim como um Mod Editor para a comunidade: caso isso vire realidade, será ótimo. Banished é uma joia bruta do gênero de simuladores de cidades que há algum tempo não apresenta nada marcante e merece ser lapidado ao máximo com mais conteúdo. Por um preço de R$ 34,99 no Steam é uma ótima pedida. Banished também pode ser encontrado na Humble Store e GOG.com por valor semelhante.


Prós

  • Agradável visual bucólico
  • Mapas e eventos randômicos
  • Temática diferente para um simulador de cidades

Contras

  • Dificuldade desafiadora logo de cara
  • Falta de conteúdo avançado


Banished — PC — Nota: 7.5


Revisão: Bruna Lima
Capa: Douglas Fernandes

é formado em Administração de Empresas pela USP, e mestre em cultura inútil pelas experiências de vida. Desde 1993 gosta de explorar o mundo dos games em seu tempo livre. Pode ser encontrado reclamando da vida no Facebook e Twitter.
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