A vida fora do jogo: como os games influenciam nossas opiniões e gostos

Alguns dizem que jogos são puramente uma forma de entretenimento, mas será mesmo que eles não podem também influenciar o nosso comportamento na vida real?

em 14/04/2014
Não é muito raro vermos polêmicas envolvendo videogames. Notícias de que o assassino de um massacre vivia jogando Counter Strike, ou até mesmo do garoto que morreu por ficar 48 horas seguidas jogando World of Warcraft são um verdadeiro prato cheio para a mídia sensacionalista.


A comunidade gamer obviamente não fica calada frente a acusações de que videogames são um mal do mundo moderno. “É só um jogo, o problema é quem joga” – é o que muitos dizem. Mas vamos olhar o outro lado da moeda: será que os jogos realmente não têm sua parcela de culpa na maneira como os jogadores se comportam? Ou eles podem realmente ser instrumentos de influência?

Mudanças e contradições no mundo gamer

Um fato é inegável: quem se diverte com jogos eletrônicos hoje não pensa e age da mesma maneira dos jogadores de 10 ou 20 anos atrás. E não é necessário ter nascido no século XXI para essa regra se aplicar: quem curtiu a época do SNES e Sega Megadrive também mudou. Isso não significa que não gostem mais dos jogos lançados naquela época; apenas envelheceram, conheceram novos tipos de jogos e expandiram seus gostos.

As tendências vão mudando. Em uma hora, dizemos que uma franquia de games está muito "mais do mesmo". Quando o novo jogo é lançado, reclamamos que é muito diferente. Falamos que a indústria independente é a única que presta, apenas para meses depois comprar o novo GTA. A razão para isso provavelmente vem do fato de que somos bombardeados com muitas informações sobre nossos jogos preferidos diariamente, e isso pode causar uma certa confusão.

Mas existe uma contradição ainda maior. Desde o ano passado tem havido uma discussão entre jogadores para tentar definir se videogames podem ser considerados arte. Alguns dizem que sim, outros dizem que não. Mas ao surgir a primeira polêmica envolvendo jogos eletrônicos, todos dizem que os videogames não têm culpa nenhuma sobre o ocorrido e que um jogo não pode influenciar ninguém a fazer nada.

Esse é o maior problema. Quem acredita que games são arte tem que aceitar que eles podem chocar, serem raízes de problemas, e principalmente, influenciar nossas ações no mundo real (tanto positiva quanto negativamente), porque isso é uma característica inerente da arte. Um jogo realmente pode influenciar alguém a fazer algo de que se arrependerá posteriormente. No entanto, essa história não termina aí.
Ok, talvez isso seja exagero

O poder dos videogames

Os videogames podem proporcionar e possibilitar experiências muito positivas para as pessoas fora deles. Um exemplo bem famoso são as pessoas que passaram a se interessar por música e até se motivaram a aprender um instrumento musical após jogar Guitar Hero ou Rock Band. Ou ainda: jogos das franquias Call of Duty e Assassin's Creed têm um foco pesado em momentos históricos importantes, como as Guerras Mundiais e a Era Renascentista, e podem motivar os gamers a pesquisarem e aprenderem melhor sobre esses períodos (talvez até mesmo para compreender o jogo em sua totalidade). Ou, quem sabe, talvez até mesmo Professor Layton tenha conseguido ensinar uma ou duas coisas sobre ser um verdadeiro gentleman para alguém.

Brincadeiras à parte, esses são alguns exemplos do verdadeiro poder dos videogames. Não servem apenas para nos entreter – o que acontece neles pode se refletir na vida real. Eles têm essa característica justamente por nos imergir em universos diferentes, onde vivemos outras realidades, mas no fim não podemos ficar ali para sempre. Como consequência, acabamos transmitindo o que vemos e aprendemos lá na nossa vida cotidiana.


Outro ponto que é importante destacar é de que enquanto o fato de que os games influenciam nossas vidas é verdade, essa "influência" nem sempre é a mesma, e pode ocorrer em graus diferentes. É uma situação comparável a quando as pessoas assistem a uma palestra. Algumas não entendem nada, outras esquecem o que ouviram no dia seguinte e outras pesquisam o tema abordado mais a fundo. Basicamente, todos são diferentes: um jogo com muito sangue e violência chocará alguns e trará pouco impacto para outros.

O jogo termina e a vida começa?

Como jogadores de videogame, devemos estar conscientes dessa influência que os jogos eletrônicos podem exercer, para então conseguir discernir o que pode ser positivo e o que pode ser negativo. Fazer isso é bem mais difícil durante a infância e adolescência, e por isso os casos de violência com jogos envolvendo essa faixa etária são mais numerosos.

Talvez o que dê aos jogos uma imagem ruim seja o fato de que casos positivos os envolvendo recebam pouca ou nenhuma atenção da mídia. É muito mais fácil atrair audiência demonizando os jogos ao invés de ressaltar seus aspectos positivos. Falar que o garoto de 11 anos que matou os pais jogava Assassin's Creed atrai mais atenção do que falar sobre o pai que usou Call of Duty para ensinar história para o filho.

Essa é a essência dos games. Não podemos negar a influência que eles exercem em nossas vidas, ainda mais atualmente. O que podemos fazer é sempre manter um olhar crítico sobre o que jogamos para poder trazer as lições positivas que aprendemos neles para nossas vidas. No fim, a vida real continua, mas o jogo nunca termina de verdade.


Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Stefano Genachi

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