Pequenos Espiões 3D: filme sobre videogame? Com certeza não deu certo

Dois espiões adolescentes dentro da realidade virtual de um videogame para derrotar um vilão cibernético: nós já sabemos que isso não daria certo.

em 16/03/2014
Quem gosta de jogos eletrônicos já sabe que a relação entre eles e o cinema dá certo quase nunca. Temos alguns jogos muito bons baseados em filmes, como GoldenEye 007, e outros incrivelmente ruins, como Superman 64 e (muitos) outros. O contrário também existe, onde temos filmes baseados em roteiros de determinados jogos e que, na maioria das vezes, também não emplacam. Entretanto, a sétima arte às vezes leva toda a temática dos videogames para dentro de suas telonas. Detona Ralph conseguiu fazer isso de forma satisfatória, mas desde 2003 já tentavam fazer um filme sobre videogames.

Foi nesse longíquo ano que chegou às telas Pequenos Espiões 3D: Game Over, que, provavelmente, você já assistiu várias vezes na Sessão da Tarde ou na Temperatura Máxima. Fechando a trilogia, a trama volta a trazer os agentes secretos mirins Juni e Carmen Cortez, interpretados por Daryl Sabara e Alexa Vega, em uma missão para salvar a juventude de um MMO (chamado Game Over - conveniente, não?) criado por um programador do mal. Qualquer criança ficaria animada com um enredo desse, mas quem se considera “jogador” sabe que isso não levaria a algum lugar muito bom.



A história do filme nem é tanto problema, que traz uma lição de moral baseada na importância da família e de sempre estar com as pessoas que te querem bem, ele realmente é um filme muito empolgante para crianças, principalmente com a fama que já tinha os Pequenos Espiões. O problema é a forma como eles apresentam o videogame e eu nem estou falando de um vilão usar jogos para prender adolescentes: a questão é que o Game Over não é um jogo eletrônico de verdade.

Aliás, nem personagem de jogo de
RPG Maker tem roupas assim.
Por favor, né!
O jogo pode ser, claramente, definido como um MMO, pois existem jogadores em massa, no mesmo mapa, simultaneamente. O problema é que ele é dividido em cinco fases: isso, nem os jogos do Atari eram divididos em míseras cinco fases. Além da progressão entre elas não ser muito clara (e você nem percebe como eles saíram do nível 1 e foram para o 3), cada personagem tem apenas um contador de vidas, que começa com 9 e, a cada danos sofrido, se perde uma. Tudo bem que isto simplifica muito a vida de um escritor, mas, definitivamente, nenhum jogo é assim.

É tanta coisa que não parece ser de videogame que fica difícil contar. Mapas do jogo são consideradas trapaças, isto em um jogo online, no qual, geralmente, ele fica ali no canto da tela e deve ser usado. Bônus de vida são extremamente raros e sabemos que recuperar sua vida é uma das coisas mais simples dos videogames. E, consideravelmente, para se programar um jogo como o apresentado pelo filme, onde os “jogadores” tem um nível de liberdade tão alto que o número de ações disponíveis deixaria qualquer GTA V no chinelo e seria preciso uns três teclados QWERTY ou uma lista de combinações maior que a de Mortal Kombat.

Se você quer um filme razoável de aventura ou um filme para entreter uma criança, o título pode ser considerado uma boa dica. Mas se estiver pensando em assistí-lo por causa da temática sobre jogos eletrônicos, pode esquecer. Como um filme sobre videogames, Pequenos Espiões 3D é uma ótima crítica social contra a sociedade capitalista dos anos 60.

Capa: Vitor Nascimento

sempre com projetos criativos, estranhos ou os dois ao mesmo tempo. desenvolvedor de software, game designer e escritor sobre as coisas que eu gosto.
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