Análise: Dust: An Elysian Tail (PC) é uma bela e divertida aventura 2D

Criação de um único desenvolvedor, o título de visual impecável mistura os gêneros beat'em up, RPG e plataforma de ótima maneira.

em 18/03/2014
Jogos com gráficos 2D são raros nos dias de hoje. As grandes desenvolvedoras preferem investir em gráficos poligonais, cada vez mais realistas. Felizmente, os títulos de produtoras independentes não abandonaram o estilo e continuam utilizando o visual da era 16-bits, com todas as vantagens da atual tecnologia. Um destes títulos é Dust: An Elysian Tail (PC). Idealizado e desenvolvido por uma única pessoa — somente a trilha sonora e dublagem foram terceirizadas —, Dust apresenta belos gráficos em duas dimensões, em uma aventura que mistura conceitos de RPG, plataforma e ação.

Em busca de respostas

Dust é um guerreiro que acorda em uma clareira, completamente desorientado. Sem memórias, ele não sabe quem é de fato e o motivo de estar naquele lugar. Momentos depois de despertar, uma estranha espada aparece, acompanhada de um animal voador. A espada revela que seu nome é Ahrah e que veio de encontro a Dust para ajudá-lo em uma jornada já definida pelo destino. Fidget, a criatura voadora, é o guardião da espada e tem como tarefa proteger a lâmina especial. Na companhia destes aliados, Dust sai atrás de respostas sobre seu passado e seu destino no mundo de Falana.

Explorando belas localidades

Dust: An Elysian Tail é um título que mistura vários gêneros, lembrando muito o estilo “metroidvania”. O protagonista explora cenários, enfrentando inimigos e revelando segredos. A movimentação é limitada a duas dimensões e os gráficos são belos e detalhados, complementados pela ótima trilha sonora. Dust visita localidades como florestas, cavernas, ruínas e montanhas geladas, cada qual com características visuais únicas. Algo interessante é a presença de eventos climáticos como chuva e neve, que acontecem aleatoriamente durante a aventura. Essas mudanças no tempo não afetam a jogabilidade, mas têm ótimo visual.


As localidades são divididas em pequenas áreas interligadas. Cada um destes trechos tem itens a serem coletados e inimigos a serem derrotados. Como em outros jogos do gênero, certas áreas só podem ser acessadas após adquirir novas habilidades, como o pulo duplo e a rasteira. Um simples mapa ajuda a identificar regiões já exploradas e possíveis novos caminhos. Viajar entre os vários locais é fácil: ao sair de uma área, Dust escolhe o próximo destino em um mapa-múndi. Além de tentar descobrir o seu passado, o protagonista ajuda os vários habitantes do mundo resolvendo missões paralelas que, em sua maioria, consistem em encontrar itens escondidos nos cenários.

Um combate frenético 

Os locais de Falana são belos, mas o reino está infestado de monstros. Isso não é problema para Dust que é um excelente espadachim. Derrotar inimigos é simples: basta apertar os botões de ataque em sequência. Várias combinações são possíveis, bastando alternar a ordem dos golpes: Dust consegue lançar inimigos ao ar, arremessá-los e até mesmo cancelar investidas inimigas. O herói tem também movimentos de esquiva, extremamente úteis para escapar de ataques.


O pequeno Fidget também participa do combate, mas de maneira diferente. O animal consegue desferir projéteis mágicos, que sozinhos são fracos e simples. O real potencial dele só aparece quando Dust executa o ataque Dust Storm. Neste ataque, o herói gira a espada como se fosse uma hélice, atraindo para si os projéteis mágicos, multiplicando-os no processo, resultando em um ataque devastador. No ar, o ataque muda: Dust gira como uma broca, levando consigo as esferas mágicas. No percorrer da aventura, Fidget aprende novos feitiços, cada qual funcionando de maneira um pouco diferente.

Mesmo com tantos movimentos, Dust é fácil de controlar, resultando em um combate fluido e rápido. Bastam alguns minutos para entender a batalha e detonar os inimigos. Assim como em RPGs, Dust ganha experiência e sobe de nível. Quando isso acontece, é possível melhorar atributos do personagem, como força, defesa ou energia. Anéis, armaduras, pingentes e outros equipamentos podem ser comprados, adquiridos dos inimigos ou construídos e eles também alteram várias características físicas de Dust.


Crise de identidade

Mesmo contando com belos gráficos, ótimos controles e um combate divertido, Dust: An Elysian Tail tem vários problemas que atrapalham a experiência. O jogo tenta explorar vários estilos diferentes ao mesmo tempo, mas nenhum deles é desenvolvido suficientemente bem. O resultado é uma aventura que tem muito potencial, mas escorrega na execução mediana.

O primeiro problema está no desenho dos níveis. Mesmo com temas visuais diferentes, as várias localidades de Falana são muito parecidas estruturalmente e sem muita inspiração. Não existem momentos de plataforma particularmente desafiantes e os segredos são tão insignificantes que não há motivos para procurá-los. Puzzles são inexistentes e muitas das missões paralelas podem ser resolvidas coletando itens deixados pelos inimigos. A ação acaba se dividindo somente em andar um pouco e derrotar tudo o que aparecer pela frente. Algumas arenas de desafio ajudam a quebrar o ritmo, mas não são suficientes para diversificar a experiência.


O combate é preciso e divertido, mas logo cansa. O principal motivo é a falta de desafio: a maioria dos inimigos são fáceis de serem abatidos e não exigem muita estratégia, bastando usar a sequência básica para superar os combtaes, mesmo nas dificuldades maiores. O jogo tenta compensar essa simplicidade com uma grande quantidade de oponentes simultâneos, mas isso pouco muda a situação. Os chefes da aventura sofrem do mesmo mal, sendo a única diferença a quantidade de dano infligida por eles. Por conta da grande quantidade de confrontos e pelo fato de Dust não aprender novos golpes durante a aventura, a batalha torna-se enfadonha com o tempo.

Por fim, temos a direção de arte. Enquanto o protagonista Dust tem um traço interessante, o mesmo não se aplica aos outros personagens. Todos eles são simples animais genéricos de proporções humanas, de aparência similar a desenhos animados infantis. Nem mesmo os vilões escapam desse mal, apresentando aparência que pouco lembram antagonistas. Ao menos a dublagem é muito boa e ajuda a compensar estes defeitos.


Uma aventura ímpar

Mesmo apresentando alguns problemas, o título diverte. É fácil se perder nas belas localidades e nos combates intensos e rápidos, sendo a imersão reforçada pela ótima trilha sonora e trabalho de dublagem. Infelizmente, a aventura acaba se tornando repetitiva, principalmente por conta do desenho de níveis sem muita inspiração — o que dá a sensação de que todos os locais são parecidos — e do baixo desafio das batalhas. Se você gosta de jogos 2D com toques de RPG e exploração, Dust: An Elysian Tail é uma boa escolha.

Prós

  • Belos gráficos e trilha sonora;
  • Dublagem competente;
  • Combate rápido e dinâmico;
  • Controles precisos.

Contras

  • Direção de arte genérica;
  • Desenho de níveis desinteressante;
  • Jogabilidade repetitiva;
  • Baixo desafio.
Dust: An Elysian Tail — PC — Nota: 8.0
Revisão: Catarine Aurora
Capa: Vitor Nascimento

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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