Quem viveu a década de 90 lembra: toda criança sonhava em comprar uma fita que viesse com algum bonequinho. Ganhar um jogo novo era quase como um ritual: abrir a caixinha, olhar as cores e ilustrações do manual, muitas vezes esperando terminar a bendita ceia de natal para podermos ligar nosso console e explorar aquele novo mundo. Mais do que isso, muitas vezes ficávamos com vontade de trazer algo daquele mundo para o nosso: um boné de treinador Pokémon, as luvas do Ryu ou qualquer outro acessório de alguma personagem.
Com o passar do tempo e envelhecimento do consumidor de jogos, surgiu então um novo mercado para acessórios inspirados em games. Lojas vendendo bonés do Mario, pokébolas, pessoas procurando trilhas sonoras… Tudo uma enorme oportunidade comercial, esperando para ser explorada.
O surgimento dos "colecionadores"
Com essa natural expansão do mercado de games surgiu uma grande lacuna para itens premium: jogadores um pouco mais velhos dispostos a pagar mais caro somente para ter uma edição diferenciada. Para estes a quem já não bastava mais a cópia do jogo, é incluso um CD de trilha sonora, um case em aço inox, um bonequinho articulado, uma réplica da arma do protagonista em tamanho real, um livro de arte e mais uma coleção de figurinhas.
Todos sabemos a verdade: colecionadores o caramba! Assim como eu e você, a grande maioria vai tratar tais produtos como jogos normais, deixar o boneco em posições constrangedoras, riscar o CD de música tentando escutá-lo no carro e perder algumas das figurinhas. O artbook com sorte sairá ileso. Mesmo assim, gostamos de acreditar que deixamos de ser apenas jogadores e passamos a ser colecionadores. Além de soar bem, isso até nos ajuda a justificar aquela enorme pilha da vergonha de títulos adquiridos e jamais terminados.
Quem não quer? |
Apesar de tudo, pode-se dizer que o modelo é extremamente interessante. Enquanto o consumidor se diverte e realmente acredita que cada um daqueles itens valeu os trocados a mais investidos, para as empresas é uma ótima oportunidade de estender seu produto como marca, criando um mercado para brinquedos, livros e até roupas girando em torno das séries.
Edição limitada?
Sejamos sinceros: não exatamente. Ainda que alguns jogos e itens como as edições de luxo de Xenoblade e Ni No Kuni sejam realmente difíceis de se arranjar, a grande maioria está tão disponível quanto as edições convencionais, podendo ser encontradas lacradas e por um ótimo preço no eBay, Amazon ou alguma outra loja online. A verdade é que o número produzido é tão grande que ele está ao alcance de todos, ainda que seu nome indique o contrário.Contrariando qualquer bom senso, certas empresas (cof cof cof EA) ainda têm a pachorra de criar e cobrar absurdamente caro por edições limitadas digitais, jogos que acompanham DLCs… Acho que podemos deixá-las de lado pelo bem deste texto.
Edição limitada de Ni No Kuni esgotou em menos de uma semana. |
Com grandes conteúdos vêm grandes preços
Naturalmente que com o acréscimo de quinquilharias nas edições, o preço dos jogos sobe exponencialmente (ainda mais quando falamos do nosso país). Enquanto alguns títulos apresentam pouca diferença nos valores, algumas edições de luxo como as de Uncharted 2: Among Thieves, Fallout 3 ou o absurdo Grid II — cuja edição de colecionadores trazia como brinde um carro de verdade — chegam a custar milhares de dólares. Produtos para quem quer queimar dinheiro, quase que literalmente.Quem aceitaria pagar 11 mil dólares (aproximadamente 44 mil reais se viesse para o Brasil com todos os impostos) por uma cópia de Uncharted 2? Acredite, tem quem pague e, embora este público seja infinitamente pequeno, ele é um grande recurso de marketing na promoção dos jogos, afinal, quem não fica babando ao ver uma edição como essa?
Vale a pena?
Sejamos sinceros: se você apenas curte jogar e não quer ser imediatamente rotulado por seus familiares como viciado, não. Se você não gosta de extras como bonequinhos e trilhas sonoras, não. Se tudo que você faz é jogar o modo online de Fifa, não. Já para todas as outras pessoas espetaculares como os leitores do Blast, certamente.
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Douglas Fernandes