Análise: Abra as portas do infernal Rogue Legacy (PC) e prepare-se para conhecer o inferno várias e várias vezes

em 07/02/2014

Misturando a jogabilidade metroidvania com o estilo de jogo roguelike, Rogue Legacy é um game brutal que lhe fará explorar milhares de vez... (por Rafael Neves em 07/02/2014, via GameBlast)

Misturando a jogabilidade metroidvania com o estilo de jogo roguelike, Rogue Legacy é um game brutal que lhe fará explorar milhares de vezes salas randomicamente construídas de um castelo. E tudo pela ganância por algumas moedas de ouro. Por dinheiro, você irá apostar a sua vida visitando cenários repletos de desafios e derrotando criaturas irritantes. E, quando digo "apostar a vida", quero dizer que, quando seu HP chegar a zero, seu personagem morrerá permanentemente e apenas um descendente dele poderá dar seguimento à jornada. Preparado para gastar dezenas de gerações de guerreiros nessa busca por ouro? Então vamos jogar Rogue Legacy.

Uma jornada de gerações

Como já dito, o sistema de Rogue Legacy é bem simples. Você, um guerreiro aleatório, deve explorar um gigantesco castelo com desafios randômicamente construídos em busca de moedas de ouro. Quando seu HP chegar a zero, você morre e deixa para seu descendente apenas a quantidade de dinheiro que conseguiu coletar. Com ela, você pode desbloquear novas habilidades para seu novo herói, aumentar seus atributos (como HP e MP) e até contratar serviços de grande ajuda (como um ferreiro e um arquiteto). Mas não ache que dá para ir acumulando dinheiro aos poucos repetindo a operação várias vezes, pois cada tentativa de enfrentar o castelo significa zerar sua conta bancária anterior.

Fora o que pode ser comprado, muito pouco pode ser controlado pelo jogador. E não me refiro apenas à arquitetura aleatória do castelo, mas também a características próprias dos heróis. Quando você vai começar uma nova jornada, algumas são dadas opções de descendentes do seu guerreiro anterior. A diferença fica por conta do tamanho, da magia especial e de outras propriedades. E algumas dessas propriedades são bem divertidas e até toscas. Por exemplo, se seu herói tiver transtorno hiperativo, ele se moverá muito mais rápido do que qualquer outro. Por outro lado, se ele tiver problemas de visão, você terá de jogar em preto e branco, com partes do cenário embaçadas e até mesmo de cabeça para baixo.

Não pode enxergar em três dimensões? Daltônico? Lá vamos nós...
Esse aspecto do game é bem interessante e criativo. Somando tudo, temos uma aventura que sempre lhe proporciona uma experiência diferente. É claro que isso pode não ser o bastante para impedi-lo de sentir-se entediado algumas vezes, já que, com aleatoriedades ou não, a estrutura do jogo é bem repetitiva. 

Dificílimo

Rogue Legacy não é para qualquer um. Trata-se de um game verdadeiramente difícil. O início é bastante frustrante, uma vez que seu personagem é simplesmente muito fraco até mesmo para a menor porção dos inimigos do castelo. Felizmente, o desafio é muito bem estruturado. Há um misto muito bom de "Oba, consegui!" com "Na próxima, farei melhor!". Isso porque, mesmo que as mortes façam seu trajeto voltar à estaca zero, o acúmulo de ouro permite que você "salve" seu progresso por meio da compra de habilidades e upgrades.

Vai demorar para você conseguir um mapa tão gigantesco, mas não custa tentar... e tentar.. e tentar...
Em outras palavras, ainda temos a brutal característica de ter que reiniciar a aventura sempre que um vacilo for cometido no campo de batalha, mas, ao mesmo tempo, há um leque de melhorias no seu personagem que estará sempre lá com você como símbolo de suas conquistas. Esse ciclo se repete exigindo cada vez mais de você, e o fato de não poder acumular dinheiro repetindo pequenas tentativas várias vezes faz com que suas metas sejam sempre maiores do que as anteriores.



Embora pareça que não, Rogue Legacy tem, sim, um final. Há chefes para serem enfrentados, um desafio final e até mesmo uma opção New Game+ (que não é apenas um mero aumento de dificuldade, mas traz novas opções). Ainda assim, é perfeitamente possível jogar Rogue Legacy sem seguir esse roteiro linear, mas apenas explorando casualmente o castelo quando lhe der vontade e ver seu personagem progredir aos poucos - embora a perda de dinheiro a cada tentativa impeça que se jogue casualmente.


Aquele momento em que você já não sabe onde está o seu personagem. Só sabe que irá morrer
Ainda assim, é recomendado jogá-lo pra valer, uma vez que, mesmo que você consiga progredir seu personagem, suas habilidades pessoais com o jogo são muito importantes. É necessário pegar o timing dos inimigos para saber a hora certa de atacá-los, entender os padrões de ataque de seus adversários e saber o que lhe espera em cada subambiente do castelo. Esse aspecto, no entanto, é um pouco prejudicado pela jogabilidade imprecisa do jogo. Os saltos dos personagens são por vezes flutuantes demais e pode ser difícil determinar o alcance dos golpes seus e dos adversários.

Aventura à frente

Assim como muitos outros jogos indie, Rogue Legacy preza por um estilo artístico retrô, com visuais bidimensionais no estilo 8 e 16-bits e uma trilha sonora igualmente nostálgica. Esse aspecto combina perfeitamente com a proposta do jogo, que consiste em dois gêneros (metroidvania e roguelike), cujas raízes nos remetem às mais antigas plataformas. Ainda assim, é fácil perceber um certo quê de genérico no visual de Rogue Legacy. Todo ele é composto por uma muito bem trabalhada pixel art, mas não traz nada de novo em questão de carisma e personalidade para nos fazer enxergar de longe e dizer "Esse é Rogue Legacy com certeza!".
É nesse momento que você para e pensa no que vai impedir que você morra na próxima tentativa
É importante notar como alguns efeitos visuais são muito bem implementados. Os problemas oculares, por exemplo, não têm seu efeito gráfico expresso por visuais pixelados, mas por efeitos gráficos bem realistas. Dessa forma, essas alterações na forma como o jogo é percebido conseguem ser muito bem colocadas na visão do jogador.

Dois dos poucos ajudantes que você terá na aventura... desde que pague por eles

A trilha sonora é interessante. Embora o estilo seja saudosista, não são músicas em chiptune, o que pode ser visto como uma tentativa de não forçar tanto a barra da moda de jogos retrô. O resultado são melodias simples, mas bem trabalhadas e que vão se alterando conforme a jornada progride. Dessa maneira, mesmo que o jogo consista em repetir uma mesma operação, as músicas conseguem dinamizar ainda mais a experiência.

Deixe o seu legado

O que faz de Rogue Legacy tão bom talvez seja o seu balanceamento preciso de desafio e recompensa. Não é um jogo que entrega tudo de bandeja - muito pelo contrário, na verdade - mas que te parabeniza na medida certa. O resultado é uma sensação de ganância por progresso tão grande quanto a por ouro. Outros motivos contribuem para fazer de Rogue Legacy viciante, tais quais o mapa sempre aleatório e os segredos escondidos (como mini-games e até mesmo palavras dos desenvolvedores). No final das contas, Rogue Legacy entra no hall dos melhores games indie por ter feito o que parecia impossível: reviver o estilo roguelike e fazê-lo acessível para os jogadores dessa geração. Jogue-se de cabeça nessa aventura, pois é viciante e recompensadora.

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Prós

  • Desafio e recompensa muito bem balanceados instigam novas tentativas;
  • Sensação de novidade e expectativa pelo desconhecido a cada tentativa;
  • Customização do personagem aliada a características toscas (e estratégias) aleatórias;
  • Trilha sonora combina nostalgia com modernidade.

Contras

  • Jogabilidade imprecisa e comandos com leves problemas de resposta;
  • Visual sem charme e personalidade.
Rogue Legacy - PC - Nota: 8,5
Revisão: Catarine Aurora
Capa: Stefano Genachi


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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