Nas últimas semanas, recebemos enxurradas de
notícias de como os novos consoles estão batendo recordes de vendas em diversos
pontos do mundo. Com números surpreendentes, o Xbox One e o PlayStation 4 estão
se consagrando como os consoles de vendagem mais rápida de todos os tempos. Mas
o que isso significa? É algum demérito para outros consoles de vendagem menor?
Na verdade não.
Mercado de nicho
Os videogames foram lançados, primeiramente, como
brinquedos de luxo para crianças. Com jogos simples, e que ao mesmo tempo
estimulavam o raciocínio e divertiam, estes aparelhos rapidamente viraram
sensação entre o público jovem. Com isso, por maior que fosse o sucesso dos consoles,
eles possuíam um público-alvo muito bem definido: as crianças. Contudo, um
mercado com tamanho potencial estava se revelando, e, com o passar das gerações,
as empresas foram percebendo a mina de ouro que tinham nas mãos.
É até fácil entender o motivo pelo qual pouca gente se interessava por jogos eletrônicos |
O Super Nintendo e o Mega Drive deram alguns
pequenos passos em direção ao crescimento do público-alvo dos videogames, mas
foi com o PlayStation que as coisas começaram a mudar de verdade. Com jogos
adultos e que remetiam a experiências cinematográficas, o console de estreia da
Sony foi marcado pela mudança de escopo dos consoles de mesa, de maneira que
mais pessoas começaram a se interessar pelo produto. E com títulos como Metal
Gear Solid e Final Fantasy VII, o PlayStation logo se tornou o queridinho dos
adolescentes e jovens que desejavam experiências de temática adulta e, algo que
acabou expandindo o público interessado por games, enquanto ainda manteve o
público predominantemente infantil de outrora.
Jogos e algo a mais
O PlayStation não foi importante apenas para
mostrar que videogames não eram coisas de criança, ele também foi o primeiro
console de mesa a popularizar o conceito de videogame multimídia. Utilizando o
CD como mídia, o console permitia a reprodução de CDs de música, uma
funcionalidade muito popular para aquele tempo. Com isso, o console deixou de
ser utilizado apenas com jogos e acabou se tornando um sistema de reprodução de
áudio que utilizava-se das caixas de som do próprio televisor para reproduzir
CDs.
O PlayStation foi responsável por uma grande revolução na indústria |
Nem preciso dizer o quão interessante se tornou o
console para vários tipos de pessoas, já que todos podiam aproveitá-lo de
alguma forma, mesmo que uma delas não envolvesse videogames. A ideia deu tão
certo que esse direcionamento acabou virando tendência, e evoluiu um pouco a
cada geração (para quem diz que a Sony só sabe copiar tendências, isso serve
para mostrar que a empresa também é capaz de criá-las).
Quem nunca gastou horas ouvindo músicas em seu PlayStation que atire a primeira pedra |
Com esses movimentos, a Sony iniciou mais uma
revolução no mercado dos videogames. Se a Nintendo salvou toda a indústria nos
anos 80, a Sony foi a responsável por dar o primeiro passo para a sua expansão
nos anos 90. É claro que isto também fez com que o público mais uma vez se
expandisse significantemente, e as gerações seguintes só vieram provar ainda
mais este ponto, já que a inclusão de DVD Player, o acesso à internet e outras
inovações foram se integrando cada vez mais aos consoles, até chegarmos em
completas centrais multimídia, tal como o Xbox One.
Jogando em família
Indo por outro caminho, a Nintendo sempre foi
resistente quanto à inclusão de funcionalidades que não envolvessem jogos em
seus consoles, mas, ainda assim, a empresa veio com uma das maiores - senão
a maior - revolução já vista na história desta indústria. Sim, estou falando do
Wii. O revolucionário console da Nintendo pode não ter marcado o melhor momento
do mundo para os fãs da empresa, já que a Big N deixou o mercado de jogos hardcore
de lado em prol de jogos mais voltados à experiência casual e familiar. Mas foi
justamente essa decisão que fez com que os videogames se tornassem ainda mais
interessantes para pessoas que não estavam acostumadas a jogar.
O Wii veio para provar que qualquer um é capaz de jogar videogames desde que estes sejam intuitivos |
Podemos dizer que o Wii foi uma revolução em vários
sentidos. Em primeiro lugar, a nova forma de jogabilidade possibilitou a
criação de novos jogos jamais antes imaginados, tais como os jogos casuais
lançados aos montes para o console. E foram justamente estes famigerados jogos
que expandiram o mercado de forma inimaginável. Líder absoluto em vendas na
última geração, o Wii vendeu mais de cem milhões de consoles em todo o globo ao
longo de seus sete anos no mercado. Boa parte dessas vendas se deram por
pessoas que não costumavam jogar videogames, de maneira que o console da
Nintendo acabou se transformando em um item praticamente fundamental da sala de
qualquer família e o mais recomendado para festas e eventos sociais entre
amigos.
E o que tudo isso tem a ver com os recordes de vendas dos novos consoles?
Muita coisa! As comparações entre vendas de
consoles atuais e consoles antigos não têm o menor fundamento pelo simples fato
de que um mercado que antes era sustentado por um pequeno nicho de pessoas
agora se tornou um dos mais rentáveis do todos. A evolução dos consoles, seja
quanto suas capacidades multimídia ou mesmo pela jogabilidade simples e
intuitiva, acabou impulsionando todo o mercado, já que um console pode agradar
não só jogadores assíduos como também seus pais, avós ou qualquer pessoa que
deseja um pouco de entretenimento, seja jogando uma partida de boliche com Wii
Sports ou mesmo assistindo a algum seriado que nada tem a ver com videogames.
Esses três ainda nos darão muitas alegrias |
Este movimento, somado às geniais estratégias de
marketing da Sony e da Microsoft fizeram com que os dois consoles vendessem
como água em seu lançamento, afinal, quem não desejaria testemunhar mais uma
revolução no entretenimento caseiro, capaz de agradar a gregos e troianos?
Comparar vendas de consoles antigos com as de novos consoles é um absurdo, mas
de qualquer forma é maravilhoso saber que a indústria que tanto amamos está
crescendo e se tornando cada vez mais importante em todo o mundo. E é isso que
devemos tomar como lição, não guerras infundadas entre fãs de empresas que
esquecem que na verdade simplesmente gostam de jogar videogame.
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Daniel Machado