Um dos momentos mais aguardados de toda a comunidade gamer
está se aproximando. A atual geração de consoles está se despedindo e dará
espaço a novos consoles e novas experiências em um novo ciclo que deve durar
entre seis e oito anos. Com exceção do Wii U, lançado há quase um ano, o Xbox
One e o PlayStation 4 darão as caras no mundo dentro de poucos dias. Mas sinto
algo diferente, que nunca senti quanto a uma nova geração de consoles e que me
faz pensar se ela é realmente necessária para que a indústria continue seu
caminho.
O salto das gerações
Novas gerações de consoles sempre foram acompanhadas de
grandes novidades que justificassem um novo console em nossas salas. Foi assim
há 20 anos e deveria ser assim hoje, afinal, ninguém gostaria que o mercado dos
jogos fosse como o de smartphones, em que novos hardwares são lançados a todo o
momento. Vamos agora relembrar as contribuições de cada nova geração na
indústria dos jogos para ilustrar este movimento.
Quem já jogou Summer Games (Master System) se lembra bem da sensação incrível que o jogo passava |
No início dos anos 1990, o Mega Drive e o Super Nintendo
surgiram para suceder o NES e o Master System. A diferença gráfica era
gritante, e os consoles 16-bit levavam os gráficos bidimensionais a um novo
patamar jamais imaginado anteriormente. Além disso, a jogabilidade de ambos
representava um grande salto em relação a dos consoles anteriores, com mais
botões e mais possibilidades. Os cartuchos com maior espaço de armazenamento
possibilitaram jogos mais complexos e duradouros, atraindo muita gente ao mundo
dos videogames.
Jogos bidimensionais realmente bonitos só se tornaram possíveis a partir do Mega Drive e do Super Nintendo |
Alguns anos depois, os primeiros consoles com gráficos
tridimensionais foram lançados. Em um dos saltos mais bruscos entre gerações, o
Nintendo 64, o Sega Saturn e o PlayStation foram verdadeiras revoluções na
indústria dos jogos. Tivemos que reaprender a jogar e nos acostumar a nos
locomovermos livremente pelos universos dos jogos que agora não eram mais
simples cenários em duas dimensões, e sim grandes mundos para serem vistos de
todos os ângulos e em qualquer direção. Além disso, a introdução dos CDs como
mídia fez com que os jogos pudessem ter lindíssimas cenas pré-renderizadas,
dublagem de personagens e até mesmo narrativas que se assimilavam a filmes.
Com a aparição de gráficos tridimensionais tivemos que reaprender a jogar videogame |
A geração seguinte, do GameCube, PlayStation 2, Xbox e
Dreamcast representou um grande salto gráfico em relação à anterior, além de
introduzir o conceito de jogos online para os videogames, já que a
funcionalidade ainda era exclusiva de jogos de computador. Os gráficos destes
consoles aperfeiçoavam absolutamente tudo o que havia sido visto na época do
Nintendo 64, e os jogos se tornaram cada vez mais imersivos. Devido à complexidade
dos novos jogos, a mídia teve que evoluir mais uma vez, e os DVDs passaram a
ser maioria.
Resident Evil 4 (GC/PS2) foi um dos mais belos jogos da geração que pertenceu (e continua lindo) |
Por fim temos a geração atual, que trouxe pela primeira vez
gráficos em alta definição para os lares de jogadores de todo o mundo. A
qualidade é tamanha que mesmo após oito anos de sua estreia ainda nos
surpreendemos com a beleza e fluidez dos jogos, que em alguns casos beiram o
fotorrealismo. Mas esta geração não foi marcada apenas por gráficos belíssimos,
já que a Nintendo inovou com o lançamento do Wii e seus controles de movimento
que acabaram se tornando tendência na indústria e acarretou o lançamento de
acessórios como o Kinect e o PlayStation Move. Além disso, a internet virou
ingrediente chave dos consoles, que contam com robustas lojas online, jogatina com
pessoas de todo o mundo e até sistemas de conquistas e troféus que serviam para
alavancar a reputação dos jogadores perante a rede dos consoles.
The Last of Us (PS3) se passa facilmente por um jogo da nova geração... |
Como se pode perceber, cada geração foi marcada por algum
salto ou ruptura que a tornava completamente justificável ao consumidor. As
experiências possíveis em novos consoles não eram possíveis em aparelhos
anteriores e os jogadores precisavam reaprender o conceito de videogames para
poder se adaptar ao novo. Mas e a nova geração que está por vir?
A geração do mais do mesmo
Rede online robusta, gráficos belíssimos, jogabilidade
diferenciada. O que a geração que está por vir está trazendo de novo para o
mercado? Na minha sincera opinião, quase nada. As redes online dos novos
consoles apresentam alguns aprimoramentos em relação à anterior, sendo o maior
destaque a reprodução de jogos via stream. Contudo, além disso, nada do que foi
apresentado é realmente novo, além de interfaces diferentes e melhores que a
dos consoles anteriores.
Nova geração, mesmas experiências |
A jogabilidade também parece não ter mudado muito. Com
controles extremamente tradicionais, a Sony e a Microsoft apenas tornaram seus
controles um pouco mais ergonômicos e funcionais, algo que eles já eram nessa
geração. O Wii U ainda está tentando desbravar o mundo dos controles esquisitos
com o GamePad, que apesar de ter um grande potencial, ainda não se mostrou
completamente justificável. Além disso, o console da Nintendo conta com o
Miiverse, rede social para jogadores na qual é possível discutir jogos,
compartilhar opiniões e imagens do que há de mais legal no momento. E talvez
essa seja a maior novidade em termos de rede online da nova geração: a criação
de redes sociais nos consoles. Mas e os jogos, como ficam?
Apesar de muito legais, redes sociais não deveriam ser o foco central de nenhum console |
Os jogos, infelizmente, não parecem fazer jus a uma nova
geração. Não digo que eles são ruins, muito pelo contrário. São jogos
belíssimos e claramente bons que divertirão qualquer pessoa que decidir comprar
seus novos consoles perto do lançamento. Por ter tomado rumos diferentes de
suas concorrentes, a Nintendo debutou no mundo dos gráficos em alta definição
apenas com o Wii U, e o salto é bastante justificável, dado que pela primeira
vez estamos jogando clássicos da Big N com gráficos belíssimos e detalhados. Já
o Xbox One e o PlayStation 4 apresentam gráficos em alta definição, como os de
seus antecessores, mas com alguns detalhes a mais.
Aficionados por gráficos praguejarão toda a minha família
com o que vou dizer mas é realmente necessário desembolsar uma alta quantia em
um novo console apenas para ver sombras mais definidas e luzes mais realistas?
O que quero dizer é que os jogos iniciais dos novos consoles da Microsoft e da
Sony apresentam gráficos superiores ao dos consoles atuais, mas não tão
superiores a ponto de ser justificável a compra de novos aparelhos. De uns dias
para cá, a mídia vem liberando comparações de jogos de transição, ou seja,
aqueles que serão lançados para a geração atual e a nova, e eu não poderia
estar mais decepcionado. Tirando alguns efeitos aqui ou ali, tudo é
extremamente parecido com o que temos hoje e todas as experiências são
possíveis nos consoles atuais.
Em minha visita à BGS tive a oportunidade de testar jogos
ditos de nova geração, como Driveclub (PS4), Knack (PS4) e até mesmo o
esperadíssimo Killzone: Shadow Fall (PS4) e o sentimento de decepção tomou
conta a todo o momento. Driveclub, por exemplo, é um jogo de corrida com
interações sociais que promete gráficos ultrarrealistas, contudo, Gran Turismo
6 (PS3) também estava por lá e apresentava gráficos tão belos quanto os do jogo
para o PlayStation 4. Beyond: Two Souls, também para PlayStation 3, apresentava
gráficos melhores que os de Knack e Killzone, apesar de belo, não mostrava
algum salto gigantesco em relação aos já lindíssimos jogos do console atual da
Sony. Os multiplataformas eram ainda piores. Com gráficos levemente melhores do
que as versões atuais, os jogos não impressionavam nada e fizeram com que este
redator que lhes escreve desistisse definitivamente de um novo console, pelo
menos nesse inicio de geração.
Precisamos mesmo de jogos mais realistas? |
Mesmo assim, o elemento central dos videogames é a
jogabilidade. E o que esta geração trará de novo? Até agora nada também. Toda a
experiência de jogabilidade proporcionada nos consoles atuais foi reproduzida
para os consoles de próxima geração com gráficos um pouco melhores. Knack é um
exemplo perfeito de como os jogos não evoluíram em quase nada nesta transição,
já que o título é basicamente uma experiência de aventura e plataforma em que o
personagem deve se deslocar por cenários completamente lineares enfrentando um
inimigo aqui ou ali e resolvendo quebra-cabeças muito simples. E não me venham
dizer que o fato de ele perder peças e encolher quando leva uma pancada é algo
inovador, já que certo encanador passa por isso há mais de 25 anos.
Corredores, corredores, inimigos, corredores. Pelo menos é bonitinho |
Com tudo isso eu lhes pergunto: onde está a justificativa
para o lançamento de novos consoles? Onde está a ruptura ou grande inovação que
durante anos motivou a criação de novos aparelhos para nossas salas? Deixem o
fanatismo e a empolgação de lado e pensem bem nessa questão e talvez vocês
percebam que não há real razão além do próprio movimento quase mandatório da
indústria.
O caso Wii U
O Wii U é uma exceção a este pensamento. Como já disse, o
console é o primeiro da Nintendo a possuir gráficos em alta definição além de
uma rede online robusta. O aparelho ainda conta com um controle diferente que
poderá proporcionar experiências únicas aos jogadores. Contudo, até agora o
console não mostrou muito a que veio, mas ao meu ver, é o único que se
justifica como console de nova geração, dado o salto dado em relação ao Wii.
Ainda assim, não digo que o Wii U é o melhor dentre os três. Só estou afirmando
que ele é o único que dá um grande salto em relação ao seu antecessor, o que é
algo que a Nintendo deveria ter feito na época do GameCube e não fez. Este é
apenas um salto atrasado.
A Nintendo finalmente está recuperando o atraso com jogos em alta definição |
Geração desnecessária?
Muito cedo para dizer. Em toda geração vemos os jogos
iniciais sofrerem criticas pesadas, já que as desenvolvedoras ainda estão se
acostumando com a arquitetura dos novos consoles e tentando desenvolver jogos
que realmente valham a pena. Certamente dentro de um ano ou um pouco mais
começaremos a ver jogos que realmente se distanciem mais da geração atual e
tornem os novos consoles mais atrativos. Devido à gradual diminuição de jogos
lançados para os consoles atuais em prol dos novos aparelhos, é certo também
que a nova geração fará sucesso e marcará presença nas casas de gamers de todo
o mundo, o que é muito bom e dará andamento ao mercado que tanto amamos (eu
mesmo pretendo adquirir os consoles no futuro).
Se a Square Enix não estiver mentindo novamente, podemos esperar por um lindo novo Final Fantasy |
A única coisa que tenho certeza é que as primeiras
impressões que tive da nova geração não me empolgaram em absolutamente nada e,
pela primeira vez em toda a minha vida de jogador, não me sinto tão empolgado
com uma nova geração de consoles de mesa, pois não estou conseguindo encontrar
alguma mudança de paradigma que a justifique. E enquanto não a encontro, vou
continuar me divertindo com os incríveis e belíssimos jogos da geração atual e
do Wii U, seja lá onde este se enquadre.
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Sybellyus Paiva