Discussão

Orgulho e preconceito na comunidade gamer

Faz tempo que não falamos de preconceito nos jogos. Com toda euforia com o lançamento da nova geração, parece que vivenciamos um período ... (por Unknown em 03/11/2013, via GameBlast)

Faz tempo que não falamos de preconceito nos jogos. Com toda euforia com o lançamento da nova geração, parece que vivenciamos um período de paz e felicidade, contudo, a confusão com o preço nacional do PlayStation 4 acabou caindo em sites internacionais, e revelou de brinde uma situação não exatamente inusitada, mas sim vergonhosa: muitos estavam comemorando a falta de acesso dos brasileiros ao console.

Um preconceito velado

Gostamos de acreditar que vivemos em um mundo civilizado. Regidos por belos ideais de cidadania, seguimos a vida pensando na beleza da igualdade, da fraternidade, da inclusão social e de todos aqueles outros nomes bonitinhos que você já leu em alguma aula de história. Ainda assim, não conseguimos dar bola para qualquer catástrofe que acontece fora, chamamos americanos de imperialistas, chineses de comunistas e detestamos dividir qualquer coisa com eles, mesmo em jogos digitais. No fundo, somos hipócritas: justiça para os que são como eu, o resto que se dane.

Pior é o brasileiro se juntando a farra...
Ainda assim, este preconceito segue escondido, mascarado pela moral, só dando a cara quando a oportunidade se apresenta, e é demonstrado no momento em que culpamos a vítima por sofrer a injustiça. E pior, quando as próprias vitimas concordam.

Eles não gostam de nós

A verdade é que todos temos algum preconceito, e nos games a comunidade brasileira é mal vista pelos jogadores de outros lugares do mundo. Os motivos são os mais variados, seja por muitos jogadores não falarem inglês, por alguns jogadores brasileiros gostarem de sacanear ou simplesmente por não jogarmos "bem como eles". De fato, ainda que gostemos de acreditar que somos bons jogadores, em se tratando de jogos online, brasileiros ainda são iniciantes.

Para contornar o problema, é cada vez mais comum dividir os jogadores em servidores regionais. Espalhados ao redor do mundo, estes servers menores, além de garantir a qualidade de conexão de cada país, seguram também a comunidade como uma unidade fechada. Americanos, russos, chineses, europeus e sul americanos, cada um no seu cantinho e, ainda assim, normalmente quando comentamos nossa nacionalidade em um servidor alheio somos hostilizados. De modo análogo, detestamos ver pessoas de outras etnias em nossos servidores, mesmo que eles sejam de algum país vizinho.

Comportamento tóxico

No fundo, detestamos o diferente. Gostamos de acreditar que, como jogadores, somos todos parte de uma grande família gamer mundial, mas basta o primeiro estrangeiro fazer algo de diferente que as acusações começam. Morreu de bobeira? brasileiro burro. Montou seu char com uma build diferente? Americano bizonho. Seu time está perdendo? Culpa do russo ali que não sabe jogar em equipe. É sempre mais fácil achar culpados do que admitir que a partida não está pra nós, que o outro time está superior ou que aquele PVP não deu muito certo.

Brasileiros têm defeitos? Certamente. Somos famosos por mendigar trocados em jogos online, por conversar em Português esperando ser respondidos e até por sacanear partidas apenas pelo huehuehue, mas, quem não tem? Além do mais, a situação está mudando. Com o aumento no número de jogos online e o desenvolvimento da comunidade, está nascendo para os jogadores brasileiros a noção de comunidade e de regras de comportamento. Quem acompanhou a expansão dos jogos online nota a diferença dos tempos de The Fourth Coming e Tibia para os dias atuais.

As coisas vão mudar

Pessoalmente, eu acredito na mudança. Ainda que os dias hoje sejam de preconceito, vai chegar a hora do pessoal aprender a conviver com as diferenças. Com um mundo tão conectado, não faz sentido isolar jogadores em ilhas pessoais, quando poderíamos estar convivendo e jogando em mundos muito maiores.

Por enquanto, resta para nós tentar fazer a nossa parte. Evitar espalhar confusão e tentar, quando possível, mostrar que o jogador brasileiro também deve ser respeitado. Afinal, compartilhamos todos do mesmo hobby, e é maravilhoso fazer amigos de jogatina de qualquer pais.

Capa: Daniel Machado
Revisão: Vitor Tibério

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google