Seria difícil a franquia Ace Attorney conquistar tantos e tantos jogadores se ela reproduzisse fielmente a vida profissional de um advogado. Nada de processos enfadonhos, julgamentos demoradíssimos e crimes bobos, o que a Capcom fez foi criar um mundo onde os julgamentos mais parecem um circo. E já que tivemos o recente lançamento de Phoenix Wright: Ace Attorney - Dual Destines (3DS) e o hype por Professor Layton VS. Ace Attorney (3DS) é imenso, chegou a hora de relembrar os momentos mais doidos, pitorescos, tensos e engraçados que essa turma de advogados viveu. Alguma objeção?
Alerta: O texto abaixo contém spoilers de todos os jogos da série Ace Attorney. Leia por sua conta e risco
10. Pancadaria no tribunal
Quem imaginaria que, após solucionar tantos intrincados casos policiais, o grande Phoenix Wright, sua assistente Maya Fey e o cão policial Missile passariam a enfrentar as grandes estrelas da Capcom e os super-poderosos heróis da Marvel na força? Ok, ainda que seja um legítimo lutador de Ultimate Marvel VS. Capcom 3, Sr. Wright traz em seus golpes resquícios da carreira em advocacia: evidências, investigações, apontar o dedo e gritar "Objection!", ler documentos... É claro que tudo isso, por mais estranho que pareça, inflige sim dano aos oponentes.
Como em sua série de origem, Phoenix pode entrar nos modos de Investigação, Corte e Tribunal. E esses dois últimos modos nos permitem enquadrar essa participação de Wright nesse Top 10, pois até o juiz pode ser invocado para bater o martelo e nocautear todos os culpados, digo, lutadores. Curiosamente, Phoenix Wright já deveria ter sido um lutador há muito tempo: ele quase foi introduzido junto a Franzisa von Karma em Tatsunoko VS. Capcom (Wii) e seria um DLC do primeiro Marvel VS. Capcom 3
9. Tirando um veredicto da cartola
Ace Attorney: Apollo Justice (DS) introduziu mágicos como elemento substituto dos médiuns da trilogia Phoenix Wright. Embora interessantes, os truques de mágica da família Gramarye não chegavam aos pés dos fenômenos paranormais do clã Fey... até Trucy Wright utilizar o Mr. Hat. A marionete portátil tem o tamanho de um ser humano, e Trucy a esconde inexplicavelmente em suas roupas. Apesar de parecer apenas um elemento cômico, o Mr. Hat já foi crucial em alguns momentos ímpares vividos nas cortes. A filha pestinha de Phoenix já usou a marionete para simular uma tentativa de assassinato durante o julgamento.
Aquele momento em que você se pergunta se as pessoas são ou não revistadas antes de entrar na corte |
Mas a maior façanha foi ter usado o Mr. Hat para despistar os seguranças da corte enquanto seu pai escapava do julgamento que poderia ter lhe condenar culpado. Definitivamente, Trucy é a assistente que mais rendeu "trapaças" nas cortes em toda a série Ace Attorney. E olha que suas "adversárias" usam possessões espirituais, celulares capazes de recriar a cena do crime e incríveis dons de psicologia.
8. Julgamento bombástico
Só as duas últimas colocações já mostraram que as cortes da série Ace Attorney explodem em momentos tensos. Mas, em Dual Destines, a explosão foi literal, e quase aconteceu duas vezes. No primeiro caso do jogo, o crime envolve justamente a explosão de um dos tribunais. Durante o julgamento, Phoenix descobre que o culpado não foi o réu, mas o sujeito de nome nem um pouco sugestivo: Ted Tonate. Ted é um grande desarmador de bombas, mas mostra ser, também, um especialista em montá-las e acioná-las. Encurralado pelas evidências, ele ameaça mandar a corte pelos ares.
Seria muito mais interessante se o julgamento fosse nessa corte destruída |
Resultado? Todos os espectadores correm desesperados, até mesmo o promotor Gaspen Payne fica com o rabo entre as pernas e dá no pé. Apenas Wright, o juiz e Ted permanecem. Phoenix, no entanto, prova que a bomba é falsa e impede Ted de escapar. Não sei quanto a vocês, mas, ainda que eu estivesse 100% certo de que o explosivo era falso, eu não teria arriscado, já estaria a quilômetros da corte.
7. Take That! (literalmente)
Por mais que presumamos que uma corte é um local de pessoas sérias, maduras e bem comportadas, existe a série Ace Attorney para mostrar que até um bobo da corte (na verdade, especialmente um bobo da corte) pode ser um advogado, promotor, testemunha ou o que quer que seja. E não há objeções quanto a isso.
Um cafezinho para ver se acorda |
Quando a situação aperta e Phoenix expõe a verdade, acabando com toda a argumentação de seus adversários, é natural que eles tenham alguns comportamentos... indelicados. Xingar? Ficar de mal? Não exatamente. O que esses caras realmente fizeram foi tacar coisas na cara de bobo do Sr. Wright. Sawhit arremessa sua peruca ao se provar culpado e Godot lança uma xícara de café na testa de Phoenix. Mas talvez o campeão desse tiro ao alvo seja Simon Blackquill, que joga águias e cortes invisíveis nos advogados de defesa.
6. Objeção, meritíssimo!
Até onde se sabe, o juiz é a autoridade máxima nas cortes. Ainda assim, alguns promotores já ousaram impor ordens ao barbudo do martelo. Sim, já rolou de os adversários de Phoenix Wright e cia não apenas apontarem o dedo e gritarem com as testemunhas, com o réu ou mesmo com o próprio Phoenix, mas também com o juiz. O maior exemplo é o temível Manfred von Karma, o mentor de Miles Edgeworth e um promotor conhecido por nunca ter perdido um caso em (pasmem) quarenta anos de carreira. Era de se esperar que um novato atrapalhado como Phoenix fosse tomar muito sermão de von Karma, mas ninguém teria imaginado que até o juiz se encolheria perto de seus grotescos "Objection!".
"E-eu... eu disse inocente? Ora, falha minha! É lógico que o réu é culpado! |
É comum, no confronto com von Karma, ele mandar o juiz cancelar as tentativas da defesa de pressionar as testemunhas ou mesmo exigir que a corte entre em recesso por alguns minutos - algo digno do mais ilustre dos promotores da série, não? No entanto, Manfred não é o único a ostentar essa audácia. No recente Dual Destines, o promotor Blackquill também pressiona o juiz a lhe obedecer algumas vezes (mesmo que precise usar espadas e águias para isso), enquanto a filha de Manfred, Franzisa von Karma, chicoteava o juiz caso ele não fizesse o que ela queria em Phoenix Wright: Ace Attorney - Justice for All (DS).
5. Hold it! Senão, eu atiro
Calisto Yew é uma das personagens centrais de Ace Attorney: Investigations (DS), mas muitos se lembrarão melhor dela como Shih-na, a assistente do investigador Shi-Long Lang. Envolvida com um misterioso grupo de contrabando, com a identidade do ladrão Yatagarasu e com um esquema criminal de periculosidade internacional, ela pode ser considerada uma das maiores mentes criminosas da série. Quando encurralada pela primeira vez por Edgeworth, Calisto aponta uma pistola para ele no intuito de conseguir escapar impune. Mas, espera, Investigations não é o game da série que se passa fora dos tribunais? De fato, esse spin-off não tem os tradicionais julgamentos na corte, mas, neste episódio em especial, a investigação é justamente numa corte, então está valendo para o Top 10.
Uma maneira muito mais eficiente de se dizer "Objection!" |
4. A promotoria - digo, a defesa - está pronta?
O que fazer quando Phoenix Wright cai de uma ponte direto num rio de fortes correntezas e, mesmo estando milagrosamente vivo, não poderá defender sua cliente nas cortes? Muitos responderiam que convocar outro advogado seria uma boa, visto que até mesmo defensoria pública existe. Mas, em se tratando da série Ace Attorney, é lógico (ou melhor, tudo menos lógico) que inventariam alguma maluquice para contornar a situação. Miles Edgeworth decide deixar de ser o promotor almofadinha para se passar por advogado de defesa enquanto Phoenix se recupera.
"Isso, cara, tá indo bem. Não esquece da entonação no "Objection!" e de levantar bem o dedo" |
Larry Butz ainda diz que ninguém irá notar a diferença... inclusive o juiz que viu Edgeworth como promotor em todos os jogos da série, né? O pior é que tudo dá certo, e Miles tem a emblemática oportunidade de confrontar Franziska von Karma como promotora.
3. Testemunhas... irregulares
Que algumas testemunhas na série Ace Attorney podem ser doidas de pedra, todos nós já sabemos. Mas não estou falando de quem vende lanche para o juiz em pleno tribunal ou revela uma identidade secreta no meio do julgamento. Para ser "irregular" neste universo em que a loucura já é tida com normalidade, a testemunha precisa ser realmente incomum. E quem assume este posto são duas grandes "estrelas" do primeiro Ace Attorney e de Justice for All: o papagaio Polly e um aparelho de transmissão de rádio. Sim, acreditem, essas duas "coisas" foram levadas à corte como testemunhas mesmo (e prestaram depoimento, com direito a contradições).
Assassina sanguinária, manipuladora, espírito maligno? Eu? |
2. Saia deste corpo que não lhe pertece!
Mesmo que se paute muito na realidade, a série Ace Attorney constantemente coloca alguns pontuais elementos místicos na trama. O principal deles é a linhagem de médiuns da franquia, representada por personagens icônicas como Maya e Pearl Fey. Mas há também paranormalidades que são uma falácia, como os youkais de Dual Destines. Em Phoenix Wright: Ace Attorney - Trials and Tribulations (DS), no último caso, Maya Fey é possuída por Dahlia Hawthorne, que tinha sido acusada por Mia Fey de um assassinato anos atrás. Maya fez isso no intuito de impedir que Pearl o fizesse, o que pioriaria ainda mais a situação em de Phoenix e sua turma neste complicadíssimo caso.
Esperamos nunca mais ter problemas com almas deste tipo |
Tirar Dahlia do corpo de Maya envolve resolver toda a sequência de crimes e farsas que abusam da semelhança entre Dahlia e sua gêmea Iris, dos poderes místicos da família Fey, de sentimentos de vingança e de promessas de proteção. Encurralada perante as descobertas de Phoenix Wright, Dahlia abandona o corpo de Maya em um dos momentos mais emocionantes da franquia. Até mesmo o juiz precisa esquecer um pouco da realidade e acreditar que o que acontece em sua corte é, de fato, um exorcismo. Em Dual Destines, algo semelhante acontece envolvendo o youkai Temna Taro, mas não passa de uma encenação.
1. Testemunhas em fúria!
Você é uma testemunha que supostamente viu o réu assassinando a vítima. Seu álibi é perfeito e todas as evidências apontam para o acusado. Mesmo você sendo, na verdade, o real assassino, está seguro de que nenhum reles advogado de defesa conseguirá revelar seus segredos. Mas aconteceu de, sim, o tal reles advogado de defesa acreditar em seu cliente até o fim e levar você, a tão inocente testemunha, à principal suspeita do assassinato. As mãos começam a suar, tiques aparecem e o nervosismo faz você se contradizer mais e mais...
Até o último e sonoro "Objection!" lhe desestabilizar por completo e levar o juiz a acreditar que você é, de fato, o culpado. Encurralado pelo advogado de defesa e sem mais o apoio do já desistente promotor, você entra em um estado de loucura total.
Até o último e sonoro "Objection!" lhe desestabilizar por completo e levar o juiz a acreditar que você é, de fato, o culpado. Encurralado pelo advogado de defesa e sem mais o apoio do já desistente promotor, você entra em um estado de loucura total.
Como visto na compilação acima (que está repleta de spoilers), as reações das testemunhas às condenações são completamente pitorescas. E a curiosidade para saber como o culpado irá reagir talvez seja ainda maior do que efetivamente a curiosidade para saber quem é, de fato, o culpado. Há quem queime borboletas com a própria raiva, quem mais pareça se transformar em um super sayajin, quem aparentemente toma um verdadeiro choque elétrico, quem inexplicavelmente tem o cabelo arrastado por uma ventania de verdades, quem se enforque, quem arranhe loucamente o próprio rosto, quem beba desesperadamente, quem se transforme em uma cachoeira de suor, quem exploda em gritos, quem irrompa em gargalhadas... Enfim, é um prato cheio para qualquer psicólogo da vida.
Loucura, não é? Mas é exatamente esse o charme da série: a imprevisibilidade dos momentos vividos por personagens excêntricos e carismáticos. Mas e você, leitor, qual o momento mais engraçado, tenso, maluco ou inapropriado que já viu acontecer nessa grande franquia? Aponte o dedo, grite Take That! e nos diga!
Revisão: Bruna Lima
Capa: Leonardo Correia