Criado pelo francês por trás da série Alone in the Dark, Frédérick Raynal, a série Little Big Adventure nasceu em 1994 através da já falida Adeline Games. Também conhecido pelo nome de Relentless: Twinsen’s Adventure aqui no ocidente, o primeiro jogo da série foi lançado antes desses grandes avanços tecnológicos do setor computacional, contando apenas com cenários isométricos. Por esse motivo, e motivado pelo sucesso do primeiro game, surge em 31 de maio de 1997 a sequência Little Big Adventure 2: Twinsen’s Odissey, lançada no Brasil completamente traduzida e distribuída pela revista CD Expert em 14 de julho do mesmo ano.
Uma estranha presença
Twinsen’s Odyssey partia exatamente do ponto que Relentless foi deixado: no primeiro jogo, Twinsen recebeu a tarefa divina de Sendell, a deusa do planeta Twinsun, para salvar seu mundo das mãos do tirano FunFrock. De prisioneiro político, Twinsen acabou por realizar a profecia da deusa e se torna um mágico herói, salvando seu planeta, seu povo, e sua namorada Zoe desse perigo.A jornada de Twinsen’s Odyssey nos explicava, logo nos momentos iniciais, a pacífica vida que Twinsen levava com sua namorada depois dos eventos do primeiro jogo. Além de ter o reconhecimento de seu povo diante do feito com uma estátua construída em sua homenagem e um museu detalhando o percurso da sua aventura, Twinsen e Zoe estavam esperando um filho.
Logo o merecido descanso do herói de Twinsun seria interrompido por uma tempestade bem suspeita |
O herói de Twinsun decide procurar medicamentos para seu amigo ferido, mas logo se depara com o problema maior: A tempestade parecia não ter fim, e seria necessária a ajuda de um dos Magos do Tempo de Twinsun para dispersar toda a chuva.
Depois de salvar o zelador do farol em uma das cavernas da ilha, Twinsen conseguiu reverter o clima chuvoso sobre a cidade, apenas para se deparar com a chegada de estranho seres chamados Esmers, que se autoentitulavam “amigos” em busca de socialização e conhecimento, o que não parecia muito convincente…
Personalidade instável
Como a implantação de controles de câmera pelo mouse era algo bem avançado para a época, Twinsen’s Odyssey se restringia a utilizar apenas o teclado em seus controles. Uma das maiores restrições, especialmente para o gênero de aventura, entretanto, era a falta de sensibilidade analógica no movimento do herói. E isso Twinsen’s Odyssey resolveu de uma maneira bem simples e elegante.A série Little Big Adventure contava com a função Painel de Comportamentos. Ativada pela tecla TAB, você podia trocar entre quatro diferentes “emoções” que refletiam na maneira do personagem agir.
- Normal fazia com que Twinsen andasse sem pressa e garantia um maior controle diante dos seus movimentos, apesar de pular apenas verticalmente. Alguns objetos só podiam ser usados nesse modo.
- Esportivo permitia que Twinsen se alongasse e se exercitasse, tornando-o ofegante. Nesse modo, ele podia correr e pular horizontalmente, cobrindo distâncias e superando buracos e obstáculos. Com os enormes cenários do jogo, era a melhor opção para explorar as redondezas.
- Agressivo colocava Twinsen em guarda, demonstrado por seus grunhidos bravos. Pressionar o botão de ação nesse modo (Barra de Espaço) não o faria pular, mas sim desferir um soco. Era possível dar bofetadas na maioria dos habitantes de Twinsun, mas grande parte deles não costumava deixar barato.
- Discreto era um modo que simulava o pressionamento leve dos controles analógicos. Nesse modo, Twinsen andava lentamente na ponta dos pés, com acordes sonoros acompanhando cada passo cauteloso que ele dava. Isso era útil durante situações de fuga ou discrição.
Uma das peculiaridades da série era oferecer diferentes emoções para se adaptar à qualquer situação |
Carisma de outro planeta
A característica mais marcante da segunda aventura de Twinsen era, sem dúvida, os engraçados diálogos e as situações divertidas das diferentes raças e tipos de personagens do jogo. Diferente do primeiro jogo, a narração dessa vez foi caprichada e marcava tanto os momentos mais inusitados da jornada quanto os momentos mais sombrios e tenebrosos. De um certo ponto, a antítese de valores que o jogo apresentou lembrava bastante o que se costumava ver na série Earthbound, da Nintendo: Uma perspectiva de vida inocente e ingênua assolada por um mal pavoroso e oculto bem maior do que se pode imaginar, e que só o jogador pode compreender sua gravidade através das pistas que o jogo deixa passar.A trilha sonora composta pelo compositor Philippe Vachey auxiliava bastante no processo de ambientação narrativa do jogo, mudando de acordo com a situação e a localidade que o herói estava.
As cutscenes em CG pré-renderizadas, uma novidade na época, eram impecáveis e seu cuidado técnico impressiona até hoje.
A dublagem dos personagens, apesar de um pouco amadora, era carregada de personalidade e atuação, o que lembrava a dublagem de desenhos infantis. De fato, Twinsen’s Odyssey era uma ótima alternativa para as crianças que almejavam um jogo repleto de aventura e exploração numa época em que jogos como Doom estavam em alta e reinavam no mercado. Com um tom pacífico e educativo, a aventura de Twinsen ensinava que a perseverança e a justiça sempre vencem o mal e resolvem todos os enigmas.
Pequena aventura, grande planeta
A parte mais divertida da nova aventura de Twinsen era explorar os imensos cenários que, apesar de não serem tão numerosos, escondiam diversos segredos em várias construções, estabelecimentos e calabouços diferentes. Pode-se dizer que era uma tentativa de origem do tipo de jogo “open world” que se espremia dentro das limitações dos PCs da época.Confira todos os lugares que você podia explorar não só em Twinsun como também em outros planetas:
- A Ilha da Fortaleza era a ilha nativa de Twinsen e Zoe e se chamava assim por ter, no primeiro jogo, uma imensa fortaleza fortificada, da qual apenas suas ruínas estavam presentes em Twinsen’s Odyssey. Nela podiam ser encontrados o porto que liga essa ilha às outras do planeta Twinsun, o farol e a Ilha da Cúpula da Ardósia, que precisa ser visitada para que Twinsen conclua um dos testes da Escola de Magia.
- A Ilha do Deserto da Folha Branca era, em Twinsen’s Odyssey, a maior ilha acessível do jogo. Nela estavam localizadas a Escola de Magia, necessária para curar Dino-Fly, um autódromo para usar o carro em corridas, além da base secreta Esmer, disfarçada de clube recreativo.
- A Lua de Esmeralda era a única lua de Twinsun e recebeu esse nome por ser esverdeada e, com a ajuda do grobo Jerônimo Baldino, Twinsen se aventurava na base lunar dos Esmer, descobrindo que eles pretendiam impulsioná-la contra Twinsun.
- O planeta Zeelich era a casa da raça Esmer e tinha um solo bem instável e vulcânico. O planeta era separado em duas camadas diferentes: somente algumas ilhas que superavam a primeira camada, acima da altura da lava, eram acessíveis e usadas como moradia por algumas raças. Na camada superior, além da fumaça tóxica dos vulcões, outras cidades se assentavam no alto das montanhas.
Muito além de uma simples aventura, Little Big Adventure 2: Twinsen’s Odyssey foi um passatempo imperdível com sua história leve e carismática, além de seus mistérios divertidos e curiosos. Existia muito mais do que se pode ver para fazer em Twinsun e demais localidades e viajar entre elas constantemente, em busca da solução de seus problemas era o mais próximo de um Zelda que os jogadores de PC podiam ter em 1997.
Apesar de alguns rumores de 2011 que o produtor Frédérick pretendia lançar uma nova sequência da série, a falência da Adeline Games deixa poucas esperanças quanto à uma possibilidade remota dessas, mas para os mais entusiastas, ainda existe a opção de adquiri-lo através do site de jogos antigos gog.com.
Revisão: José Carlos Alves