Foi o que fez a Pixel Heart Studios, desenvolvedora mobile, com o seu survival horror Vanished, que é quase inteiramente jogado utilizando apenas nossa audição. Na tela de seu celular ou tablet, aparecerão apenas algumas informações básicas, como a barra de vida e de experiência do protagonista, enquanto todo o resto do ambiente é explorado com o uso de nossos ouvidos. O game precisa ser experimentado com fones, e com o cuidado de não deixar o volume muito baixo, ou terá dificuldades para jogar.
Utilizando o velho pretexto do personagem sem memórias que acorda num lugar escuro (aqui, dizer que é escuro não basta, pois o jogo se passa em um ambiente totalmente desprovido de luz), o jogador é incentivado a explorar o cenário enquanto procura a fonte de um som mundano: pode ser uma sirene, uma mulher falando, um sino badalando ou qualquer outro barulho que numa situação normal passaria desapercebido. Mas como fazer isso sem poder ver nada (recomenda-se jogar com os olhos fechados, inclusive, para uma maior imersão)? Simples, segure o celular na vertical e toque na tela: você perceberá pelos passos que o personagem está andando para frente. Para mudar a direção da caminhada, gire o aparelho para os lados. É assim também que se identifica a direção da fonte do som que você está buscando, pois ele fica mais forte quando o celular está apontando para ela e aumenta a intensidade à medida que o personagem se aproxima. Chegar até a fonte do som é o objetivo de cada nível.
Para azar do protagonista, ele não está sozinho em meio a escuridão: eventualmente cruzará com monstros ou entidades, que podem ser identificados pelo áudio de sua aproximação e por uma vibração no celular quando estão perto. Essas criaturas atacarão assim que estiverem próximas o bastante, e cabe a você tentar fugir ou lutar balançando o aparelho. Derrotá-las fornece pontos de experiência que são responsáveis pelo upgrade da arma do jogador, que começa munido de uma faca.
São propostas muito interessantes, mas infelizmente com uma implementação que deixa muito a desejar. A história é bem simples e básica, resumindo-se a um narrador que comenta sobre o personagem a cada transição de fase. O mundo onde se passa o jogo, com seus sons limitados aos passos do jogador, o foco do barulho que estamos perseguindo e alguns monstros, passa uma impressão de vazio: não a de solidão, abandono ou desespero, e sim a de que não há nada muito interessante por lá. As próprias lutas contra as entidades, que parecem surgir na forma de uma espécie de inseto ou de ogro, são desagradáveis: quando você percebe a aproximação, precisa tentar parar na frente do inimigo e então começar a chacoalhar seu celular e ter sorte para acertá-lo. Em todo caso, os níveis são sempre iguais, então é possível decorar a posição dos monstros.
Outro ponto que poderia ter sido melhor trabalhado é a interação com o jogador. Um game com essa mecânica sonora poderia fazer grande proveito da tecnologia do “som 3D”, que usa um fone de ouvido e diferentes intensidades de áudio para enganar o cérebro, fazendo parecer que os barulhos estão vindo de várias posições e distâncias. Seria uma forma bem mais interessante de representar o cenário, como pode ser visto no vídeo abaixo, e liberaria os sensores de movimento do celular para um controle mais natural do personagem, sem precisar ficar girando o aparelho a todo momento.
A maior falha de Vanished, contudo, é não deixar o jogador tenso ou assustado. Dificilmente você tomará um susto, mesmo com um ou outro fantasma gritando repentinamente, e isso é um problema grave para qualquer game que se diz um survival horror. No fim, o grande mérito do jogo é apostar numa jogabilidade diferente que com sorte será melhor aproveitada no futuro.
Prós
- Mecânica diferente e curiosa.
Contras
- Cenários e história muito simples;
- Batalhas chatas;
- Um jogo de terror que não dá medo.
Vanished — iOS/Android — Nota: 5.0
Revisão: Alberto Canen
Capa: Douglas Fernandes