O ponto de vista das produtoras
Segundo as produtoras, o problema dos jogos usados se dá quando, a partir do momento em que um game é revendido, a receita gerada pela venda do mesmo não é repassada para elas. Se o mesmo jogo é revendido cinco vezes, ela deixa de gerar receita cinco vezes. Em caso de jogos novos, o valor perdido é muito alto, pois um jogo com apenas algumas semanas é revendido com uma diferença mínima ao seu valor cheio. Assim, é uma conta muito simples: se X pessoas compram o jogo usado, a produtora deixa de lucrar X vezes o preço cheio (se todos comprassem novos) ou X vezes o preço de revenda.Jogue mais por menos. |
Outra forma encontrada foi a criação do online pass, em que é cobrado apenas uma taxa para a utilização dos serviços on-line, sendo justificado como forma de manter os servidores ativos para novos jogadores e, de quebra, desmotivando possíveis compradores de jogos online, já que, em teoria, o passe mais o preço do jogo usado daria o de um jogo novo. Outros adicionam o modo multiplayer para dar uma sobrevida, aliando-o a achievements/trophies, assim alguns acabam segurando aquele jogo por muito mais tempo do que o fariam normalmente.
Apesar de haver outras formas, essas são as mais utilizadas atualmente. Do ponto de vista das produtoras, todas fazem sentido e ajudam a aumentar a rentabilidade dos seus títulos. Mas, e do ponto de vista dos jogadores? Além de não fazerem sentido, acabam estragando a imagem de uma franquia e/ou produtora.
O buraco é mais embaixo
Jogos que foram feitos pensados no modo singleplayer acabam sofrendo no seu modo campanha devido a um multiplayer mal implementado e de péssimo gosto, cuja única intenção era segurar ainda mais o jogador. DLCs que já existem no disco e que são vendidos como algo novo penalizam os compradores originais, que pagaram por um produto incompleto, apenas para serem vendidos como se fosse novidade alguns meses depois. Passes de DLCs acabam alavancando a produção dos mesmos sem, no fim, entregar um produto de igual qualidade e que, por muitas vezes, é extremamente curto. Um exemplo é o season pass de 30 dólares do Assassin's Creed 3 (metade do preço do jogo) que lhe dará pouco mais de quatro horas de jogo adicional. Tudo isto em uma tentativa de evitar que o jogador venda seu jogo usado, mas o tiro acaba saindo pela culatra, irritando a base de consumidores.A triste realidade |
Também não foram os jogos usados que fizeram Resident Evil 6 fracassar, com sua estratégia de ser totalmente ação e nenhum susto. Mais uma vez, os fãs foram ignorados. Também não foram os jogos usados que fizeram Aliens: Colonial Marines ser um fracasso, mas sim a ingerência de um estúdio que não soube controlar suas terceirizadas. Também não foram os jogos usados que transformaram outras franquias de sucesso em fracassos de venda, e sim suas produtoras com sequências insólitas, que estavam atrás de uma grana fácil com nenhum conteúdo em troca. Aliado a isto, temos o fato de conhecermos o modus operandi de algumas produtoras. Por que comprar um jogo da Capcom hoje se daqui a menos de um ano teremos uma versão Super, Gold, etc. que contém todos os DLCs anteriores?
Estratégia de sucesso! |
A utopia da redução de preços
Já os defensores acreditam que, com a restrição dos jogos usados, teríamos jogos mais acessíveis, cujo preço poderia cair para 50, 40 dólares. Não só isso, mas com uma rentabilidade certa, eles poderiam se tornar mais ousados, baixando o preço de seus jogos no fim do ciclo para valores próximos ao do Steam. Se funciona lá, por que não funcionaria nos consoles, correto? Errado! Até mesmo no Steam, os jogos são vendidos a um preço inicial de 60 dólares. A diferença é que, em um curto período de tempo, os jogos têm seus preços reduzidos de acordo com a falta de demanda, sempre tentando deixar o jogo em voga. Isso se deve, em muito, a ser um processo estritamente digital, em que os dados de venda são instantâneos, ajudando na tomada de decisão sobre cortar ou não o preço em tempo real.Gráfico da compra de jogos. Apenas 13% compram usado. |
Linha do tempo dos jogos mais vendidos nos Estados Unidos |
Jogo bom é aquele que não se vende
Enfim, em muitos mercados, os jogos usados ainda são importantes, não só para os jogadores, mas também para as produtoras que possuem os seus jogos ou franquias divulgados no boca a boca. Toda a conta das produtoras faz sentido quando se deseja proibir os jogos usados, mas antes disso é preciso melhorar sua gerência, ouvir a base de fãs e, principalmente, deixar de ser mercenários, criando DLCs que façam a diferença por um preço justo e entregar um produto final digno do valor que se cobra.Jogo bom é aquele que guardamos na prateleira, que queremos exposto em nossa coleção. Esses sempre darão lucro. O lixo, a gente passa para frente, rezando pela alma do pobre coitado que irá jogá-lo e se arrepender em seguida.
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Douglas Fernandes