A relação entre o jogo RIOT, a Primavera Árabe e as manifestações no Brasil

em 26/06/2013

Com base nas manifestações populares que tem ocorrido pelo mundo , uma desenvolvedora de jogos indie sediada na Itália criou o jogo... (por Amèlie Poulain em 26/06/2013, via GameBlast)


Com base nas manifestações populares que tem ocorrido pelo mundo, uma desenvolvedora de jogos indie sediada na Itália criou o jogo RIOT. Ainda sem data de lançamento, RIOT alcançou mais que o dobro do seu objetivo no site de financiamento coletivo IndieGoGo. O pedido, no entanto, era um tanto modesto: 15 mil dólares. Até mesmo os 36 mil alcançados podem ser considerados pouco dinheiro, mesmo comparando com outros jogos indie.

Dentre os gastos relatados na campanha havia viagens dos desenvolvedores para áreas onde estavam acontecendo manifestações importantes, como Grécia e Egito. Os produtores conversaram com locais e procuraram compreender a experiência deles. Na época, as manifestações no Brasil não haviam começado. Será que nosso país poderia ter sido sede do laboratório deles? Um diferencial nós temos: a população é enorme.

Imprensa vs. redes sociais


A imprensa tem sempre um papel muito importante em qualquer movimentação popular, mas ela deve ser sempre questionada, a princípio pela impossibilidade em se abordar todos os aspectos de uma questão e pela dificuldade em ser imparcial quando se fala de qualquer tema. No Brasil, a imprensa teve seu papel muito questionado. As grandes empresas foram acusadas de mostrar manifestações enaltecendo a bagunça nas ruas e o transtorno que causou a quem não estava participando do movimento. Os jornalistas menores e as pessoas que publicavam em seus blogs e redes sociais foram acusados de serem desinformados e sem foco. Isso é importante porque gera um desconforto nas pessoas que, desconfiadas da mídia, buscam mais de uma fonte de informação, amplliando assim horizontes e diminuindo preconceitos.


Os criadores de RIOT disseram em entrevista ao Kotaku que não concordam com a maneira que a imprensa faz a cobertura de protestos pelo mundo. "Não é raro ver a mídia exagerando sobre o assunto que estão cobrindo, ou dando uma perspectiva completamente diferente dos fatos puramente objetivos". No entanto ela aparece no jogo sendo "importante para divulgar notícias aos manifestantes, instigando ou desmotivando-os a enfrentar a polícia".

Na mesma entrevista citam também a Primavera Árabe como inspiração para o desenvolvimento do jogo, "porque foi a primeira revolução que se conectou com todo o resto do mundo usando apenas redes sociais, ao invés de emissoras de TV e jornais". No Brasil as redes sociais pipocaram de informações sobre a movimentação, das mais distintas opiniões. As pessoas tiveram acesso a sites e blogs com informações variadas, além de coberturas feitas por amadores que postavam nas redes sociais suas fotos, vídeos e experiências. O monopólio da informação saiu das TVs e jornais impressos.

Objetivo: imparcialidade


Enquanto na vida real em geral só se pode vivenciar plenamente um lado da questão, em RIOT será possível viver tanto como manifestantes quanto como policiais. A ideia dos desenvolvedores é ser o mais imparcial possível para que o jogador possa ter a experiência de participar ativamente dos dois lados e assim poder formar algum tipo de opinião.

RIOT tem um visual pixelado, escolha estética que tem dois motivos. O primeiro é uma influência de Sword & Sorcery. O segundo está relacionado aos objetivos práticos do jogo: é interessante não caracterizar demais os personagens. Assim os jogadores criam suas próprias ideias de como eles são.


Os desenvolvedores afirmam que a intenção de RIOT é ser imparcial. Não existe uma mensagem específica a ser passada. Assim como os personagens não são caracterizados, o jogador pode ser manifestante ou policial. O obetivo é claro: mostrar as duas perspectivas e incitar mais uma reflexão do que uma resposta pronta.

RIOT é um jogo de estratégia em tempo real. Os manifestantes não podem necessariamente vencer a polícia e o objetivo principal não é a violência. É preciso resistir, avançar e divulgar a causa. Por outro lado os policiais têm seus próprios objetivos como personagens jogáveis. Detalhes da jogabilidade ainda são escassos, no entanto. Mas sabemos que a proposta inclui compreender os sentimentos, motivações e estratégias dos dois lados da questão. Não existe uma mensagem específica a ser passada. É esperado que o próprio jogador forme suas opiniões.


E você, leitor, o que acha? Qual o papel das manifestações em nossa sociedade? Será que o jogo será tão intrigante e questionador quanto promete? É possível ser imparcial e apresentar apenas fatos? 

Revisão: José Carlos Alves 
Capa: Doug Fernandes

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