Não existe mágica, a vantagem está no modelo. Com a distribuição digital, os custos de logística, impressão e transporte dos lançamentos caíram brutalmente, e a fácil acessibilidade da plataforma atraiu novamente para os computadores um público que já era considerado perdido. A democratização gerada pelo meio foi tão grande que até em países distantes os preços praticados passaram a ser os mesmos (ou muito semelhantes) ao valor base, definido nos Estados Unidos.
Em meio a esta situação de variedade e alta competitividade, apostar em preços mais altos por títulos de qualidade duvidosa pode parecer uma estratégia suicida... Mas é bem o que a gigante Activision vem planejando para o Brasil.
Deadpool: uma verdadeira sátira
Que o Deadpool é retardado, todos sabemos. Agora, não acredito que a inclusão de um preço absurdo seja apenas para bater com a personalidade do controverso herói. A confusão toda é a seguinte: no começo desta semana, uma das maiores reclamações dos usuários brasileiros no Steam era o preço sendo cobrado por Deadpool e Fast & Furious: Showdown.Enquanto Velozes e Furiosos custava a bagatela de 150 reais (já muito acima dos títulos mais caros do Steam, que ficam na casa dos 100), o título do mercenário tagarela estava sendo comercializado por módicos 180 reais. A nível de comparação, o mesmo jogo está sendo vendido no resto do mundo por 40 doletas – 80 reais em uma conversão simples.
É, você não leu errado, um título que não é nem AAA sendo vendido digitalmente por quase duzentos reais. Nada de caixinha especial, chaveirinho, edição de colecionador, apenas uma boa e velha piada... e a piada somos nós. Revoltados, usuários brasileiros tentaram perguntar à empresa a razão de tais valores pelo twitter, e a resposta não poderia ser mais sincera.
“Ola Renato! Os preços praticados podem e vão variar de acordo com a região e o sistema; se não gostou dos preços, só lamentamos” (ou ainda: "problema é seu" em uma tradução também sincera). Sinceramente, eu amo o personagem. Deadpool entra na lista de figuras mais marcantes dos quadrinhos, e eu realmente gostaria de comprar o jogo para garantir umas boas risadas, mas por esse valor? Jamais!
Nossas preces foram ouvidas? Claro que não
Nesta semana parece que alguém da Activision resolveu ouvir os apelos e abaixou os preços dos títulos no Steam, ainda assim, ambos custam agora R$ 99,99, 20 reais a mais que a versão americana no caso do Deadpool, e 40 reais a mais o Fast & Furious: Showdown (U$ 29,99). Tentamos entrar em contato com a Activision para saber as razões por trás desta nova postura para os preços praticados com os brasileiros e, naturalmente, não obtivemos resposta.Garantido o sagrado direito de resposta – ainda que não utilizado, posso agora praticar de outro sagrado direito: criticar.
Quem, em sã consciência, acreditou que era uma boa ideia aumentar os preços dos jogos para o público nacional? Veja, não estamos falando de impostos, nem taxas, nem problemas alfandegários. É pura e simples ganância. Os jogos não virão nem com legendas em português, aliás, digo mais, Fast & Furious: Showdown é reconhecido por sua mediocridade (0,5/10 no Metacritic) e, ainda assim, eles têm a pachorra de cobrar 100 reais. Podiam mandar um nariz de palhaço de brinde.
São ações como essa que me fazem ter medo. Mais do que problemas pontuais, são sintomas de doença, e, assim como uma infecção, posturas como essa - se não forem combatidas, podem acabar se espalhando. Imagina se vira moda vender produtos digitais a valores mais altos apenas por não sermos americanos. Um verdadeiro imposto para brasileiros.
Aliás, não se espante se os próximos grandes lançamentos da empresa derem as caras todos custando R$ 100 ou mais. Eles abriram mão do público nacional, não sabem o valor de um salário minimo e quanto um jogador brasileiro tem que ralar para comprar um game que, muitas vezes, não vale o consumo da banda larga.
Vocês são a doença, nós somos a cura
Quer a solução? Simples e pontual: não compre. A próxima vez que você ver um lançamento qualquer da Activision, simplesmente não compre. Eu posso viver muito bem (talvez até melhor), sem gastar no próximo Call of Duty, migrar para a franquia Battlefield não seria nenhum esforço, e, por mais que me pese, posso viver sem o jogo do Deadpool.
Pensando bem, eu posso viver sem a Activision. Não faço questão de dar meu dinheiro para uma desenvolvedora que só me vê como um saco de moedas. Eles vão chiar, vão falar que estão sendo prejudicados pela pirataria, vão encher os jogos de mecanismos de controle e falar que brasileiro não compra jogo, mas no fundo eles vão saber: a culpa é toda deles. Eu posso viver sem eles, e você também.
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Douglas Fernandes