Square Enix em meio a problemas e desafios: a história da Square (2008-2013)

em 29/05/2013

Após contar a história da Square através de seus jogos e suas parcerias, chega o momento de entendermos o atual estado da empresa. Para al... (por Pedro Vicente em 29/05/2013, via GameBlast)

Após contar a história da Square através de seus jogos e suas parcerias, chega o momento de entendermos o atual estado da empresa. Para além da aquisição da Eidos, a Square Enix encontrou grandes dificuldades nesta geração dos games que vem chegando ao fim. Uma série de games que não empolgaram, junto com outros que venderam menos que o esperado, alguns que mais parecem projetos eternos, e muita dificuldade financeira, marcaram a trajetória da Square nesses anos.

O caminho da Square Enix

De 2008 a 2013, a Square Enix publicou uma boa quantidade de títulos provenientes de seus estúdios próprios e parceiros. 2008 trouxe uma tentativa da empresa de popularizar o Xbox 360 no território japonês, assim como vender no mercado norte-americano. Movimento não só realizado pela SE, ao considerarmos os JRPGs exclusivos de outras empresas que chegaram ao X360 (Lost Odyssey, Magna Carta II, Blue Dragon). No caso da Square Enix, os lançamentos para o console foram Infinite Undiscovery, desenvolvido pela Tri-Ace, e The Last Remnant, desenvolvido por um dos times de produção da própria Square. O primeiro, recebeu críticas variadas com uma tendência negativa e vendeu pouco mais de 300 mil cópias. O segundo também não foi bem avaliado pelos veículos especializados, mas conseguiu aproximar-se de 600 mil unidades vendidas.

Infinite Undiscovery, mais uma game com o jeitão Tri-Ace de ser
O PSP recebeu um port do segundo game da série Star Ocean. Second Evolution recheou ainda mais o já vasto game. O grande lançamento para o portátil da Sony foi o game Dissidia Final Fantasy, um jogo de luta trazendo heróis e vilões da aclamada série. O game conseguiu alcançar a marca de um milhão de unidades vendidas e recebeu uma continuação em 2011, Dissidia 012 Final Fantasy, que obteve bons reviews e vendeu bem no Japão. O PSP ainda recebeu outros dois jogos da Square Enix. O primeiro, The 3rd Birthday, lançado em 2010 no Japão e 2011 no Ocidente, marcou o retorno da série Parasite Eve. O segundo, publicado apenas no Japão em 2011, Final Fantasy Type-0, faz parte da mesma compilação do FFXIII e foi sucesso de vendas e de crítica, ainda que não tenha alcançado o nosso lado do mundo.

Em relação ao Nintendo DS, a Square investiu em alguns ports e remakes (Chrono Trigger, Dragon Quest V, Dragon Quest VI). A novidade ficou por conta de mais um jogo da série Valkyrie Profile, Covenant of the Plume (2008); um RPG tático bem macabro que expandiu ainda mais o universo da franquia. Dragon Quest IX, primeiro título da linha principal da franquia a ser exclusivo para um portátil, apostou em uma maior interatividade e em aspectos online. Mesmo com as mudanças, o jogo reafirmou a adoração dos japoneses pela série, recebendo críticas positivas e vendendo muito bem, principalmente em terras nipônicas. Essa primeira incursão online da franquia evoluiu e se tornou um projeto ousado em Dragon Quest X, um jogo para Wii lançado em 2012 (publicado para o Wii U em HD) que transformou a jogabilidade da série e apresentou um MMORPG, que se não vendeu bem para os padrões da série, conseguiu altos números para os padrões dos MMOs.

O MMORPG Dragon Quest X

Os caminhos da principal franquia

Apesar da grande concorrência dentro e fora do próprio gênero, a Square Enix conseguiu emplacar seus dois títulos da franquia Final Fantasy para o PS2. Com o advento da nova geração, milhares de fãs ficaram na expectativa de como prosseguiria a série. Em um primeiro momento, Final Fantasy XIII sairia apenas para o PlayStation 3 (o que aconteceu em 2009), mas o título foi logo anunciado e publicado também para o Xbox 360 no ano seguinte. O jogo conseguiu realizar um projeto gráfico grandioso, como era de se esperar em se tratando de FF, e, para além disso, trouxe toda uma sólida e bem executada mitologia e ambientação para a nova aventura. O game possui forte centralidade nos dilemas e dramas das personagens mediante o fardo que carregam.Já a parte da jogabilidade acabou assustando muitos fãs. Além de um sistema de batalha completamente diferente dos anteriores, a linearidade do jogo, até Gran Pulse, também soou como ponto negativo para muita gente. Eu, particularmente, não gostei do sistema de batalha, além de achar o desenvolvimento dos personagens e os diálogos bobos, característica que se manteve, para mim, no sucessor Final Fantasy XIII-2. Os dois games juntos chegaram próximos à marca de 10 milhões de unidades vendidas, sendo quase 7 milhões referentes apenas ao Final Fantasy XIII. O décimo terceiro título da franquia aguarda, ainda, o lançamento de seu terceiro capítulo, Lightning Returns: Final Fantasy XIII.


Outra série toma a dianteira

Claro que a série Final Fantasy ainda é o carro-chefe da empresa, mas outra franquia conseguiu agregar uma base grande de fãs, sem descuidar da qualidade de seus jogos. Estou falando de Kingdom Hearts, que teve seu universo expandido ainda mais. Para Nintendo DS chegaram Kingdom Hearts 358/2 Days e Re: Coded, enquanto o PSP recebeu o jogo Kingdom Hearts Birth By Sleep. E, por fim, o Nintendo 3DS agregou à sua biblioteca de jogos o excelente Kingdom Hearts 3D: Dream Drop Distance. Todos esses games conseguiram trazer novos elementos à narrativa e ao mundo da franquia, assim como fazer belos trabalhos gráficos e de jogabilidade. Kingdom Hearts é uma série vasta, que cresceu bastante e que, até mais do que o próprio Final Fantasy, deixa muitos fãs ávidos pela próxima instalação da franquia.

Kingdom Hearts 3D é um belíssimo jogo de 3DS
Falando no 3DS, a Square Enix publicou dois distintos jogos em 2012 para o portátil. Heroes of Ruin, um RPG de ação que obteve análises medianas e não emplacou muitas vendas. O outro título, parte das comemorações de 25 anos da franquia Final Fantasy, foi Theatrhythm Final Fantasy, um game que misturou as fantásticas músicas da série com uma jogabilidade viciante. É um deleite para os saudosistas de plantão, assim como para fãs de jogos de ritmo. Outro game que pintou para o 3DS, mas só no Japão, foi Bravely Default: Flying Fairy, que foi bem recebido na terra do sol nascente e aguarda sua publicação no Ocidente.

A chegada da Eidos

A partir de 2008 a Square Enix começou seu flerte com a Eidos e, em 2009, 100% da empresa já estava em posse da Square Enix, com isso, a empresa japonesa realiza uma tentativa de diversificar suas publicações e garantir fatias nos mercados oriental e ocidental. Dessa nova fase surgiram quatro jogos. Deus Ex: Human Revolution (2011), um jogo que foi muito bem avaliado em toda a mídia especializada e conseguiu ultrapassar a marca de 2 milhões de unidades vendidas. Sleeping Dogs (2012) desenvolvido pela United Front Games, trouxe algumas mudanças à antiga série True Crime. Além de contar com uma narrativa bem interessante, o jogo também se apoia em seus elementos de jogabilidade sólidos e bem executados. Com bastante coisa pra se fazer no mundo aberto de Hong Kong, o game não faz frente aos jogos da Rockstar, por exemplo, mas é um bela pedida para os fãs do gênero.

Hitman: Absolution (2012) é outro game com muitos fãs aqui no Brasil. A mais nova incursão da série conseguiu realizar uma boa adaptação do Agente 47 ao PS3 e X360. Com belos gráficos e missões diversas, o jogo deixou boa impressão e um gostinho de continuação, e atingiu a marca de 3,5 milhões de cópias vendidas. Por último, mas não menos importante, o tão esperado reboot Tomb Raider, desenvolvido pela Crystal Dinamics e publicado em 2012, já vendeu mais de 3 milhões de unidades e recebeu críticas muito positivas. O "novo começo" de uma das mais famosas heroínas dos games conseguiu bastante notoriedade e se firmou como um ótimo game.

Dinheiro na mão é vendaval

Mas, mesmo com sólidas vendas e boa aceitação com o publico, a Square Enix ficou decepcionada com as vendas desses jogos da antiga Eidos. Além disso, seus próprios jogos já não vendem tão bem como outrora, quando o custo e tempo de produção de um game eram menores, o que resulta em problemas financeiros. A Square Enix está cheia destes, e seus problemas e prejuízos se refletem na forma como a empresa é conduzida. Recentemente, o presidente Yoichi Wada renunciou e cedeu lugar a outro. O diretor da Square Enix América também foi substituído por outro executivo.

O que aconteceu com seus RPGs, Square?

A discussão da crise, ou não, dos JRPGs (e do mercado japonês de games como um todo) é vasta e geraria uma outra matéria. No entanto, podemos refletir aqui sobre algumas causas que podem residir no interior deste processo.
  • O mercado de JRPGs saturou. Depois de toda uma era de ouro do gênero, "liderada" pela Square, fica cada vez mais difícil trazer algo novo aos fãs. Os clichês, tanto de narrativa quanto de jogabilidade ou ambientação, se tornam cada vez mais comuns. A criação de um sistema de batalha e de uma estória chamativos esbarram em várias questões, como o saudosismo de muitos jogadores e a própria saturação da estética e atmosfera dos games em questão.
  • Outros gêneros cresceram e também são capazes de contar boas estórias. Ao longo das gerações, outros gêneros de jogos começaram a criar mundos e narrativas tão interessantes, ou mais, que a dos RPGs, que até então detinham o título de "contos e fantasias do mundo dos games" (cabe ressaltar que isso se deu nos consoles. Nos computadores os sensacionais adventures cumpriam esse papel com maestria). Títulos como Metal Gear Solid, Grand Theft Auto, Call of Duty, God of War, etc, agregam aos seus gêneros cada vez mais elementos narrativos, sejam eles épicos, "realistas", críticos ou satíricos. Outros games, como Heavy Rain, conseguem trazer uma narrativa que prende o jogador como os bons RPGs faziam.
  • O próprio gênero sofreu mudanças e têm novos atores. A "ocidentalização" dos RPGs nos consoles também é um fator a ser apontado. Na atual geração de consoles jogos como Oblivion, Skyrim, Fallout e Mass Efect são os RPGs lembrados pelos jogadores, aqueles que dominam a atenção da mídia, das premiações e a própria atenção dos gamers. Demon´s Souls e Dark Souls, RPGs vindos do Japão, não só trazem elementos ocidentais e europeus em seu mundo e narrativa, como criaram sistemas de batalha e de jogabilidade muito mais próximos aos padrões dos Role Playing Games ocidentais. Com jogaços desse calibre, o próprio fã de RPG pode desviar sua atenção dos jogos desenvolvidos pela Square Enix. 

Chegando aos 30 com muito amargor

A Square chegará aos seus longos 30 anos em setembro. Após ter sido protagonista durante anos, ela corre um sério risco de se tornar uma empresa menor. Seus jogos e sua principal franquia não empolgam como antigamente e não são mais os grandes atores dos games e consoles, ainda que realizem um importante papel. Muitos problemas financeiros, trocas de direção e grandes desafios pela frente pressionam a empresa. Games como Final Fantasy Versus XIII e um Final Fantasy para a nova geração, assim como Kingdom Hearts e Dragon Quest, ainda conseguem causar expectativa, mas são nomes deixados de lado em relação aos games de empresas como Nintendo, Ubisoft, Rockstar, Naugthy Dog, Quantic Dream, etc.

E esse Versus aí, sai ou não sai?
Quanto ao futuro, temos de concreto o anúncio de um canal que exibirá as novidades da empresa direto da E3. Novidades, garantem funcionários, que serão muitas.

E você, o que espera da Square Enix para a nova geração? Que títulos gostaria de ver? Concorda com os pontos levantados sobre a "crise dos JRPGs"? Que outros fatores você apontaria?

Revisão: Alan Murilo
Capa: Douglas Fernandes

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