Manual do mestre: como construir um vilão de RPG

em 09/05/2013

Sendo parte de um dos gêneros mais amados do mundo dos games, os RPGs são largamente caracterizados por figuras atípicas. De heróis de ca... (por Unknown em 09/05/2013, via GameBlast)


Sendo parte de um dos gêneros mais amados do mundo dos games, os RPGs são largamente caracterizados por figuras atípicas. De heróis de cabelo espalhafatoso, a armas de utilidade duvidosa, o fato é que apesar da extrema caricaturização dos personagens, eles costumam fazer a cabeça de muitos jogadores. Como nenhum bom RPG está completo sem um grande vilão, resolvemos montar este guia, para que você possa construir seus próprios vilões em casa.

Aviso: é tudo clichê (e contém spoilers)

Devemos lembrar que esta não é exatamente uma crítica, apenas uma constatação. Grandes jogos conseguem ser impactantes, mesmo quando impregnados por modelos já desgastados. Passada a fase de aceitação deste fato, você está pronto para prosseguir com este manual do mestre.

1 – Comece pelo visual

Roupas, cabelo, espada, asas...
Esta regra - que aparentemente vale para todos os personagens de RPG – é bem simples. Quanto mais badass seu vilão, melhor. Utilize cores agressivas como o preto ou o vermelho sangue para pintar uma roupa descolada. Lembre-se, esta roupa, assim como seu vilão, deve ser totalmente cool e descolada. Grandes armaduras não fazem o perfil de grandes vilões, muito pelo contrário, os caras de armadura costumam ser apenas fantoches ou subalternos na cadeia de comando.

Lembre-se também de pensar em um cabelo realmente diferenciado, de alguma cor que o destaque da maioria, e que esteja sempre ondulando com o vento em todas as cenas que ele aparecer.

Por último, ainda na parte do visual, lembre-se de equipar seu vilão com uma arma que combine com sua personalidade, e seja tão grande – ou ainda maior – que a arma do protagonista do jogo. Afinal, com grandes armas vêm grandes responsabilidades.

Grande exemplo a ser seguido: Sephirot - Final Fantasy VII (na verdade, este poderia ser o grande exemplo de praticamente todas as categorias, mas para dar uma maior variedade, optamos por incluir outros grandes nomes da vilanice).

2 – Defina suas habilidades

Obviamente, um grande vilão também deve vir acompanhado de grandes poderes. Pode ser que seu vilão seja algum escolhido de alguma divindade, ou talvez fruto de mutações genéticas, ou mesmo portador de algum grande artefato mágico. O fato é que estas habilidades devem ser sempre infinitamente superiores àquelas dos heróis, e seu vilão deve sempre mostrar que pode destruir o mundo na hora que ele bem entender.

Na lista de referências para habilidades tirânicas, podemos incluir: voar; regenerar; invocar seres de outras dimensões; manipular reis e sábios; transformar-se em algum elemento; reviver; cortar montanhas; transformar-se em uma criatura gigante, ou ainda fazer tudo isso ao mesmo tempo.

Um bom exemplo para seguir pode ser o Magus - Chrono Trigger. O fato de que ao entrar no grupo ele perde grande parte de seus poderes, deve ser considerado um extra, visto que demonstra o grande poder que advém do simples fato de ter convicções malignas.

3 – Defina sua história

B-b-b-b-bad to the bone
Freud já diria, é tudo problema de pais ausentes. O fato de seu vilão ser repugnante e repulsivo deve sempre vir explicado por algum trauma de infância. Talvez ele tenha perdido os pais, ou a esposa, durante a guerra; talvez toda sua vida pré-vilânica tenha sido uma grande farsa implantada em suas memórias ou ainda tenha ficado louco ao receber alguma modificação em seu corpo (essa desculpa serve pra muita coisa).

Não importa, o fato é que estas convicções devem ser fortes o suficiente para resistir a qualquer discurso moralista do mocinho. A partir do trauma, defina o legado de seu vilão, de como ele deixou de ser um grande herói para tornar-se o carrasco que é.

Um bom exemplo: Grahf - Xenogears
Segundo colocado: Saren - Mass Effect


4 – Todo grande vilão tem um grande plano ou uma grande missão

Mesmo que este plano seja simplesmente erradicar toda a vida do mundo ou dominar todos os cristais mágicos para adquirir o poder para dominar o mundo (que na prática ele já tinha dominado... mas enfim), alguns grandes vilões também se aproveitam do grupo, manipulando os heróis para atingir seus nefastos objetivos.

É realmente importante frisar que este grande plano ou grande traição deve ser completamente explicada momentos antes do combate final, enquanto o herói estiver preso em alguma posição de derrota iminente, para que haja tempo de este ser salvo pelos outros mocinhos.

Fonte de inspiração para qualquer um: Zanza - Xenoblade Chronicles
Menção honrosa: Dagran - The Last Story

5 – Um grande exército para um grande vilão

Não importa se o objetivo assumido de seu vilão é destruir o mundo, este deve ter ao seu dispor um grande exército para apoiar sua malevolência. Na hora de idealizar o exército ideal, pense no universo de seu jogo e escolha qualquer coisa (qualquer um serve, mesmo que não faça sentido), ignorando qualquer objeção óbvia que um ser humano normal teria em servir a alguém cujo objetivo é acabar com toda vida no universo.

Se optar pelo exército de monstros, evidencie que estes monstros são inteligentes antropomorfizado-lhes (ou seja: dotando-lhes de diversas características humanas).

Devemos lembrar que este exército deve servir de contraste para o grande vilão. Se este pode destruir o universo com um estalar de dedos, suas tropas devem ser fracas o suficiente para perder todas as batalhas, ainda que sejam quinhentas criaturas contra três heróis.

Digno de nota também é o fato que, diferente do vilão, estas tropas devem estar sempre trajando armaduras, evidenciando o fato de serem fracas e não poderem sobreviver apenas com uma roupa colada.

A bola da vez: Kefka – Final Fantasy VI

6 – Elabore um discurso grandiloquente

Essa regra é, talvez, a mais importante, visto que muitos dos grandes vilões se ocultam até o final do jogo, para aparecer, revelar que eram os grandes inimigos todo o tempo, e que suas motivações servem a um “bem maior” ou uma vontade superior.

Na elaboração do discurso, vários artifícios podem ser usados para dar a devida imponência ao personagem. A utilização do plural, para falar de si como uma entidade coletiva; a utilização de termos ou citações filosóficas (que não necessariamente façam algum sentido); ou ainda a inserção de risadas e trejeitos psicopatas a cada frase, para demonstrar o lado insano do personagem.

Nesse sentido, tenha certeza de garantir um bom tempo de fala a cada aparição do vilão, para que o jogador possa compreender perfeitamente a magnanimidade de tal criação, e solidarizar-se com os motivos, ou a situação mental do tirano. Faça também com que o grupo questione seus próprios motivos após um destes grandes discursos motivacionais, a fim de evidenciar o grande dualismo presente na complexa personalidade de tal criatura.

Seguir como inspiração: Kuja – Final Fantasy IX


"Why should the world exist without me? That wouldn't be fair. If I die, we all die! "

Toques finais - amarrando as pontas

Agora que você já definiu os parâmetros essenciais de seu grande vilão, basta inserir alguma música apoteótica, emprestar algum nome mitológico (que não precisa ter nenhuma relação com o jogo) e amarrar algumas pontas soltas. Acredite, é mais fácil do que parece, os fãs do gênero não costumam dar muita bola para erros de continuísmo ou qualquer coisa assim. O que vale mesmo é garantir que seu vilão tenha um visual bacana, poderes incríveis e motivos confusos o suficiente para passar como um grande ser incompreendido.

Brincadeiras a parte, o fato é que todos gostamos de um bom RPG, mas isso não muda o fato que o esteriótipo dos personagens merece uma renovada. Gostou do guia? Aproveite para nos contar um pouco sobre seus vilões favoritos (ou não), na seção de comentários ai embaixo!

Revisão: Jaime Ninice
Capa: Diego Migueis

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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