Game Music: A musicalidade sonhadora de Yoko Shimomura

em 08/03/2013

Poucos sabem, mas existe um elemento em comum entre Street Fighter II , Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars e Kingdom Hearts : sua... (por Farley Santos em 08/03/2013, via GameBlast)

Poucos sabem, mas existe um elemento em comum entre Street Fighter II, Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars e Kingdom Hearts: suas trilhas sonoras memoráveis. As músicas destes títulos são de autoria de Yoko Shimomura, compositora japonesa que a cada dia conquista mais espaço no coração de jogadores de todo o mundo. Shimomura só teve seu trabalho reconhecido depois de muito esforço, principalmente em uma época que games não eram levados com seriedade. Conheça a trajetória e os trabalhos dessa prolífica compositora a seguir.

Primeiros desafios: trabalhando na Capcom

Yoko Shimomura teve contato com o mundo da música desde a infância. Aos quatro anos de idade ela começou a estudar piano e seu amor pelo instrumento só foi crescendo. Decidida a trabalhar nessa área,  graduou-se em piano na Universidade de Música de Osaka. No fim do curso, Shimomura viu anúncios de emprego para empresas de jogos. Por gostar muito de games, ela decidiu se candidatar e foi contratada pela Capcom. Sua escolha não foi bem vista por sua família e professores, já que na época o mercado de jogos não era tão popular quanto hoje. Mesmo assim, insistiu em seu sonho.

Yoko Shimomura na Capcom
Na época era incomum uma softhouse contratar um profissional formado em música para trabalhar na composição das trilhas sonoras, normalmente isso era tarefa de outros membros da equipe como programadores. Shimomura acabou sendo uma pioneira nesse aspecto. Durante sua estadia na Capcom, a compositora trabalhou na trilha sonora de mais de quinze títulos, como Samurai Sword (NES), Final Fight (Arcade) e Nemo (Arcade). Ela rapidamente subiu ao posto de diretora da Alph Lyla, a equipe responsável pela parte musical dos games da companhia. O reconhecimento veio com Street Fighter II (Arcade/SNES): a compositora, sob um pseudônimo, foi a autora de praticamente toda a trilha sonora, salvo três faixas. O game foi um sucesso, assim como sua trilha sonora. A popularidade foi tão grande que a Capcom lançou uma série de álbuns com novos arranjos e versões feitas por fãs.


Shimomura não estava completamente satisfeita. Tendo como compositores preferidos Maurice Ravel e Frédéric Chopin, era natural que ela quisesse trabalhar com música clássica. O problema foi que a maioria dos jogos produzidos neste período pela Capcom focavam no gênero ação, o que não era compatível com o estilo que a compositora procurava. Quando o RPG Breath of Fire (SNES) foi produzido, ela até conseguiu trabalhar em uma música do game, mas isso não era suficiente. Sendo assim Yoko Shimomura saiu da Capcom e foi para a Squaresoft, pois ela acreditava que lá poderia trabalhar com mais RPGs e, consequentemente, mais inclinados à música clássica.

Em busca do sonho: Squaresoft

Na Squaresoft, Shimomura ficou responsável primeiramente por projetos menores. Seu primeiro trabalho foi em um RPG bem peculiar. Live A Live (SNES) era um RPG com várias histórias que se passavam em épocas diferentes. O resultado foi uma trilha bem variada, que explorava vários estilos diferentes, revelando a versatilidade da compositora. Um ano depois ela trabalhou em Front Mission (SNES), em conjunto com a novata Noriko Matsueda. Em entrevistas, Shimomura afirmou que o gênero militar do game não era seu favorito, mas que mesmo assim trabalhou com afinco. Em 1996 a compositora trabalhou no primeiro projeto importante na Square, que é considerado um dos destaques de sua carreira: Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars (SNES). Ela incorporou elementos de Super Mario Bros. 3 (NES) e Final Fantasy IV (SNES), com várias outras composições completamente originais.


Na era PlayStation, o primeiro trabalho de Shimomura foram contribuições para o game de luta Tobal No. 1 (PS). Já em Parasite Eve (PS) a compositora pôde explorar melhor a tecnologia do console, contando até com vocais de ópera. Entretanto, foi somente em 1999 que ela teve seu sonho realizado com o RPG de fantasia Legend of Mana (PS). Nele, Shimomura explorou inúmeros estilos e criou uma trilha sonora vasta e mágica. Até hoje ela afirma que este é seu trabalho favorito. Nos anos que se seguiram, participou de trabalhos menores como Chocobo Stallion (PS) e álbuns arranjados.


O reconhecimento mundial veio com Kingdom Hearts (PS2), último trabalho de Shimomura como funcionária da agora Square Enix. Em entrevistas ela afirma que se sentiu apreensiva em assumir um projeto importante como esse, pois era necessário trabalhar com algumas canções clássicas de filmes da Disney. A compositora também afirmou que utilizou muito de tentativa e erro para construir a trilha sonora do game. Após Kingdom Hearts, Shimomura passou a trabalhar como freelancer.

Independência: tornando-se freelancer

Sair da Square Enix permitiu que Shimomura explorasse outros estilos e trabalhasse com variadas desenvolvedoras. Uma de suas participações mais notáveis foi na série de RPGs Mario & Luigi para GBA e DS, na qual ela foi convidada diretamente pela desenvolvedora Alpha Team. Contudo, a compositora continuou responsável pela série Kingdom Hearts e participou de vários outros projetos da Square Enix como The 3rd Birthday (PSP), spin-off de Parasite Eve, e álbuns contendo canções da série Kingdom Hearts executadas somente no piano.

Para comemorar vinte anos na indústria, a compositora produziu um álbum orquestrado chamado Drammatica - The Very Best of Yoko Shimomura. Ela escolheu pessoalmente todas as canções que vieram de games como Live A Live, Front Mission, Legend of Mana e Heroes of Mana (DS). Somnus, canção de Final Fantasy XV (PS4/XBO), também foi incluída na compilação. A prioridade foram composições que nunca tinham sido orquestradas antes.


Seus trabalhos mais recentes são Last Ranker (PSP), Radiant Historia (DS), Xenoblade Chronicles (Wii), Super Smash Bros. Brawl (Wii) e Kingdom Hearts 3D: Dream Drop Distance (3DS).

Os vários trabalhos recentes de Yoko Shimomura

Composições ecléticas

O processo de composição de Yoko Shimomura é bem visual. Normalmente ela solicita alguma arte ou desenho do universo do game e constrói a trilha sonora em cima disso. Ela afirma também que utiliza emoções do seu cotidiano no processo, como sentimentos e paisagens vistas. Mesmo considerando Ludwig van Beethoven, Frédéric Chopin e Maurice Ravel como suas principais influências, sua música mudou com o passar dos anos, visitando estilos como rock e eletrônico, completamente diferentes da música clássica. Sua composição favorita? Dearly Beloved, de Kingdom Hearts.

Esforço recompensado

Com tantos trabalhos notáveis, é fácil perceber o motivo de Yoko Shimomura ser considerada uma das maiores compositoras no mundo dos games. O mais interessante é ver que o reconhecimento dela foi construído aos poucos, com muito esforço e dedicação, além de uma grande capacidade de adaptação. Os jogadores só têm a ganhar, pois temos a garantia de ouvir composições memoráveis nos próximos trabalhos dela. E vocês, conhecem o trabalho de Yoko Shimomura? Quais são suas canções favoritas?


Revisão: Jaime Ninice


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.