Blast from the Trash: A trilogia Zelda do CD-i

em 02/02/2013

Muitas franquias geralmente têm coisas vergonhosas e obscuras no passado, mas algumas parecem ter um histórico perfeito. The Legend of Zel... (por Luciana Anselmo em 02/02/2013, via GameBlast)

Muitas franquias geralmente têm coisas vergonhosas e obscuras no passado, mas algumas parecem ter um histórico perfeito. The Legend of Zelda poderia muito bem ser uma delas, não fosse por um acordo que a Nintendo fez no fim dos anos 1980 e que garantiu que a Philips pudesse usar alguns de seus personagens em jogos para seu sistema chamado CD-i. E se é para relembrar o passado vergonhoso de Zelda, por que falar de apenas um jogo ruim quando podemos falar de três bizarrices que nunca deveriam ter existido?

Nintendo e seus “ótimos” acordos

Artigo na revista EGM sobre SNES CD
Em 1989, a Nintendo fez um acordo com a Sony para começar o desenvolvimento de um sistema baseado em CD-ROM, possivelmente chamado de “Nintendo PlayStation”, ou um sistema adicional de CD para o SNES. Mas, no meio do caminho, a Nintendo quebrou o acordo e preferiu assinar um contrato com a Philips, que faria o sistema SNES CD. Isso, como vocês podem ter imaginado, não causou bons frutos para a Nintendo já que a Sony, em vez de se lamentar pela perda do acordo, resolveu aproveitar suas ideias e lançar seu próprio console chamado PlayStation algum tempo depois. Já a Nintendo, vendo a recepção negativa do Sega CD, descartou completamente a possibilidade de um sistema de CDs para o Super Nintendo, mas o problema é que o contrato já estava assinado e como parte da dissolução do acordo, a Philips obteve licença para usar cinco personagens pertencentes à Big N, que incluíam Link, Zelda e Ganon, em jogos do console da Philips, chamado CD-i.

CD-i e seus "ótimos" jogos
Com a ajuda de estúdios independentes, a Philips usou os personagens da franquia de Zelda em três jogos de CD-i e sem nenhum envolvimento por parte da Nintendo. A Philips insistiu que os estúdios usassem toda a capacidade possível que o CD-i pudesse oferecer, já que o sistema tinha várias limitações técnicas. Então, em 1993, dois jogos foram lançados simultaneamente, Link: The Faces of Evil e Zelda: The Wand of Gamelon, e no ano seguinte o terceiro e último foi lançado, Zelda’s Adventure. Claro, poderíamos falar desses jogos separadamente, em diferentes Blast from the Trash, mas porque não jogar toda essa “genialidade” aqui logo de uma vez, não é mesmo?

Link: The Faces of Evil

Esta foi a primeira tentativa fracassada da Philips de fazer um jogo da franquia Zelda. Com um título digno daqueles filmes de ação dos anos 1980, Link: The Faces of Evil seguia o esquema tradicional onde Link salva Zelda e todos ficam felizes e até tinha o estilo side-scrolling parecido com Zelda II: The Adventure of Link. Se hoje em dia temos cutscenes de ótima qualidade e muito divertidas para nos contar histórias de forma mais dinâmica no meio do jogo, antigamente, devido aos recursos mais simples, era um pouco mais difícil de fazer algo realmente bom, mas não era por isso que era uma tarefa impossível. No entanto, esse jogo consegue ter uma das animações mais bizarras, surreais e medonhas já vistas nos videogames, e que supostamente eram para ser cutscenes legais e descontraídas e que deveriam nos contar a trama toda. Além de os personagens estarem completamente descaracterizados e com personalidades diferentes do que conhecemos, a dublagem é simplesmente medíocre, e combinada com a animação é mais do digno ser realmente chamada de trash.


Algo interessante é que esse é o único jogo que leva o nome de Link no título em vez de Zelda, e nada mais justo já que a princesa Zelda nunca fez muito para merecer seu nome em todos os jogos. Se for só porque é princesa, então eu imagino que Peach tenha sido um pouco injustiçada nesses últimos anos. De qualquer forma, em vez de finalmente estrear um jogo com seu nome e ser um grande e corajoso herói, Link parece mais um completo idiota nesse game, meio entusiasmado com tudo e sempre pedindo beijos a Zelda. Não fosse só isso, o visual do jogo não ajuda muito e torna meio difícil olhar para algum lugar que não seja suas gigantes orelhas enquanto jogamos.
Temos até que agradecer à Philips, onde mais veríamos um Link tarado assim?

Temos também o problema de que a Philips não tinha direito sobre a franquia, mas apenas de alguns personagens, ou seja, eles tinham que se virar o mais "criativamente" possível para inventar todo o resto. Para exemplificar melhor, em vez de Rupees, temos Rubies, e em vez das locações habituais, temos a terra de Koridai, que deve ser salva do mal. E acreditem ou não, mas na época de seu lançamento, este jogo foi altamente elogiado, mas é como dizem, com o tempo vem o bom senso e não demorou tanto assim para perceberem o contrário. No entanto, o melhor de tudo é que, mesmo tendo sido considerado um dos piores jogos já feito e mesmo sendo ignorado pela Nintendo, esse ainda é tido como um dos melhores jogos lançados para o CD-i... E é aí você começa a imaginar a qualidade dos outros jogos e pensa: “nossa, e como o CD-i não fez sucesso com tantos jogos ótimos?”

Zelda: The Wand of Gamelon

Como foi lançado simultaneamente com Faces of Evil, o jogo Zelda: The Wand of Gamelon compartilhava dos mesmos problemas, então não vale a pena repetir o que vocês já sabem. Para resumir, ele tinha controles problemáticos, um título igualmente estranho e as animações conseguiam ser ainda mais ridículas. Mas, temos algo nesse jogo que o diferencia dos demais da franquia toda. Sabem como as pessoas “menos atentas”, confundem o nome de Link, achando que ele se chama se Zelda simplesmente porque é o nome do jogo? Pois então, em The Wand of Gamelon não temos mais esse problema! Finalmente Zelda para de ser folgada, resolve ser útil e vai ao resgate de Link em vez do esquema tradicional. Isso poderia até parecer interessante e diferente caso o Link que ela salvasse fosse aquele que todos conhecemos e não o idiota super entusiasmado, que ainda por cima fica entediado com a paz do reino e come Octoroks em seu tempo livre. Mas isso é Philips e não Nintendo, então esse é o tipo de Link que temos que suportar.


Mesmo tendo Zelda como heroína, a premissa aqui é a mesma de sempre, nossa princesa precisa encontrar e derrotar Ganon para salvar Link e o Rei e finalmente poder estabelecer a paz em Gamelon, só não me perguntem de onde veio a ideia para um nome tão “bacana” como Gamelon. Mas assim como Faces of Evil, este jogo teve criticas positivas em sua época e apenas com o passar do tempo foi sendo ridicularizado e renegado pelos fãs da franquia e pela crítica especializada.
Zelda de vestido rosa e curto, lutando contra dinossauros... isso sim é jogo bom!

Zelda’s Adventure

Ok, se nós já vimos dois jogos que compartilham animações muito bizarras como cutscenes, então no terceiro não deve ficar tão pior... Pelo menos era nisso que eu queria acreditar. Mas não caros leitores, a Philips tinha que fazer algo pior! E o que poderia ser pior do que aqueles desenhos surreais? Zelda em live action, é claro. Sim, é isso mesmo que você entendeu, Zelda’s Adventure, que foi lançado quase oito meses depois dos dois primeiros jogos, contava com atores de verdade para as cutscenes. Eu até consigo imaginar que algo legal poderia ter sido feito em cima dessa ideia, mas acho que já vimos o suficiente para saber que a Philips não ia conseguir tal feito, e é basicamente isso, os cenários eram estranhos, as roupas eram ridículas e a atuação conseguia quase robótica e tão ruim quanto as animações dos jogos anteriores.


E em vez de seguir o modelo side-scrolling dos jogos anteriores, Zelda’s Adventure segue mais o estilo do primeiro Legend of Zelda, sendo que o jogador tem uma visão de cima para baixo. Aliás, as diferenças que temos em relação aos outros dois jogos se devem principalmente por Zelda’s Adventure ter sido desenvolvido por uma companhia diferente e que fez grandes mudanças em relação aos anteriores, o que só gerou comentários negativos na época. Novamente temos a princesa Zelda como protagonista e seu objetivo é coletar os sinais celestiais que Ganon roubou, para novamente resgatar Link e trazer uma era de luz a terra de Tolemac, e sim, a criatividade aqui foi maior do que com Koridai e Gamelon, tanto que o nome do lugar é basicamente Camelot ao contrário.
E vejam só, esse é considerado o pior dos três jogos Zelda do CD-i, e como eu espero que vocês tenham percebido, isso significa muita coisa.  Ele foi o único a receber criticas negativas já na época de seu lançamento, sendo que os gráficos foram chamados de “um dos piores já encontrados”, a atuação foi obviamente considerada amadora e sem nenhum profissionalismo e ainda havia o problema de esse jogo não conseguir processar efeitos sonoros e músicas ao mesmo tempo. Além de tudo, quando foi lançado, o CD-i já estava em fase de descontinuação pelo seu fracasso comercial e Zelda’s Adventure se tornou um produto muito raro com o passar do tempo, o que pode ser considerado como algo bom, já que sabemos que não restam muitas cópias dessa praga pelo mundo.

Triforce do mal

Acho que o mais interessante, no entanto, é pensar nas circunstâncias que levaram à existência destes jogos medíocres, afinal se não fosse pela quebra de acordo com a Sony, eles nunca teriam existido, mas o que seria do mundo dos videogames se o “Nintendo PlayStation” tivesse sido lançado? Ah, mas isso é só um Blast from the Trash descontraído, então vamos deixar essa questão para outro dia. Mas verdade seja dita, se não fosse esse acordo furado de tentar fazer um SNES CD, Zelda seria uma daquelas franquias perfeitas e intocáveis, mas até que é divertido poder rir às custas de uma tentativa tão falha de conceber não só um, mas três jogos horríveis.
Enquanto Link sempre tem dificuldades, Zelda derrota Ganon com uma varinha
O que nos leva a ver como não são apenas personagens conhecidos e uma premissa tradicional que fazem os jogos de uma franquia serem bem sucedidos, mas sim o toque especial que mistura criatividade, diversão e interação, entre outras coisas, e que a Nintendo sabe fazer melhor do que ninguém com suas inúmeras franquias que conquistam fãs ao redor do mundo há tantos anos de forma simples e carismática.

O que posso dizer então? Fiquem bem longe dessa triforce maligna de jogos se não quiserem ter um ataque de absoluta vergonha alheia com alguns dos personagens mais conhecidos da Nintendo, ou procurem por eles se quiserem se divertir com uma das coisas mais bizarras e ridículas dos videogames. De qualquer forma, boa sorte e não digam que eu não avisei.

Revisão: Gabriel Toschi

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