As especificações dos consoles através das gerações

em 03/02/2013

“Minha bola é maior que a sua." “Meu carro atinge 100 km/h em 8 segundos". “Recebi um aumento no mês passado". Desde que o ... (por Unknown em 03/02/2013, via GameBlast)

“Minha bola é maior que a sua." “Meu carro atinge 100 km/h em 8 segundos". “Recebi um aumento no mês passado". Desde que o capitalismo é capitalismo, ou talvez até antes disso, a humanidade sente necessidade de quantificar e comparar objetos. Admita, até você fez isso, quando falava para o seu primo que o seu boneco do Ranger Vermelho era melhor do que a pipa dele. Com os videogames, os haters e os fanboys degladiam-se em comparações de gráficos, processadores e bits, numa medida exasperada para “provar” que a empresa do coração é a melhor. Mas o que isso tudo vale?

Comparar por quê?

Podemos dizer que onde existe concorrência, há comparação. Tão logo existam dois produtos que competem pelo mesmo mercado, é inevitável que haja esse embate. Mais cedo ou mais tarde ele virá à tona. Preto ou branco? Guaraná ou Coca-Cola? Pelé ou Maradona? Nintendo ou Sega? Xbox ou PlayStation? Males do capitalismo e da livre competição.

Vamos direcionar o texto para os consoles, assunto no qual você deve estar mais interessado. Desde os longínquos anos 70, época em que os videogames não eram tão populares, já havia a disputa entre o Odyssey Magnavox e o Atari 2600. Nessa época, eu não era nascido, e você possivelmente também não e, mesmo assim, a concorrência pela maior fatia do mercado já era assustadora.

A briga dos consoles é quase igual...
Naquela época, os videogames ainda possuíam um projeto muito rudimentar e simples, devido ao caráter experimental dos produtos. Seria até irrelevante falar que a atual geração é absurdamente mais poderosa do que os primeiros consoles. Além dos componentes que fazem o aparelho funcionar, grande parte dos avanços pode ser creditada aos avanços da...

Arquitetura dos consoles

Arquitetura? E o que uma viga tem a ver com um controle? A princípio nada. A palavra arquitetura tem sua definição emprestada dos conceitos de Construção Civil. Ela simplesmente faz referência ao modo como um modelo foi concebido. Ainda confuso? Tente pensar na maneira como os prédios são construídos e organizados em uma cidade. Alguns servem como estabelecimentos comerciais, outros como residências, outros como depósitos e por aí vai. Quando estamos falando de um aparelho eletrônico, a lógica ainda impera. Cada componente, resistor, transistor, processador, tem uma função muito bem definida e bem projetada. Se algo não funcionar corretamente, o console “queima”, ou “buga”, no jargão gamer.

Não era isso o que eu quis dizer com arquitetura de consoles
Analisando de uma forma mais metódica, um videogame seria um computador com funções muito específicas. Na geração atual, os videogames possuem vários processadores independentes, cada um com uma função específica. O Odyssey, entretanto, não possuía sequer um único processador. Todos os processos realizados pela máquina eram executados por transistores.

É hora da aula

Antes de continuarmos a discorrer sobre o assunto, é proveitoso fazer uma pausa para aprendermos alguns conceitos de eletrônica e computação. Assim, o texto correrá mais fluido e você compreenderá melhor algumas diferenças. Aqui estão elas:
  • Hardware - a grosso modo, é a parte “física” de um aparelho eletrônico. 
  • Software - esta seria a parte “lógica” do videogame, seriam as operações executadas por ele. Você não consegue “tocar” no software. Os programas de computador são softwares que ajudam o usuário a interagir com a máquina.
Uma velha piada: Software é o que você xinga, hardware é o que você chuta.
  • Dispositivos de entrada de dados - o nome é bem literal, “entrada de dados”. São os dados fornecidos para o aparelho. Podem ser comandos realizados pelo joystick ou imagens capturadas por uma câmera, por exemplo. 
  • CPU - Central Processor Unit. Seria o processador do videogame. A CPU é o “cérebro” do computador. Apesar de sua arquitetura ter mudado drasticamente ao longo destes últimos 50 anos, as suas funções continuam praticamente as mesmas.
  • GPU - Graphical Processor Unit. Enquanto a CPU fica encarregada de comandar todas as funções executadas pelo videogame, a GPU trabalha exclusivamente com o processamento de gráficos e imagens. Não é para menos, afinal os gráficos são elementos de muito destaque em um jogo.
  • RAM - Random Acess Memory. É um tipo de memória volátil, pois quando o videogame é desligado todos os dados armazenados nela são perdidos. E qual é a vantagem de guardar informação somente quando o aparelho está ligado, do que ela me serve? Ela serve para processar os dados enquanto você joga, oras. No fim das contas, quanto mais memória RAM, melhor, pois isso significa mais “poder de fogo” para ajudar nas tarefas da CPU.
  • HD - Hard Drive. O popular disco rígido é uma aquisição recente na história dos videogames. É utilizada para guardar saves e arquivos dos jogos. Ao contrário da memória RAM, é uma memória não volátil. Que ótimo, porque ninguém gosta de perder os saves dos jogos, certo?
  • Kernel - em uma tradução livre, kernel significa núcleo ou cerne. Essa definição lhe cai como uma luva, visto que para os videogames o kernel seria como o núcleo de um sistema operacional, realizando a intermediação entre os vários componentes de hardware.

A velha guarda

Vamos começar então a comparar a velha guarda dos videogames, Odyssey e Atari 2600. Antes disso já existia uma pequena movimentação no mercado, mas foi a partir dessa geração que a indústria começou a ganhar relevância em termos monetários, ou seja, a ganhar dinheiro.

A Magnavox, empresa responsável pelo desenvolvimento do Odyssey, era uma grande desenvolvedora de aparelhos eletrônicos e principalmente, televisores. Pensando nisso, os executivos da empresa decidiram comercializar um produto para ajudar a impulsionar as vendas da suas TVs. E assim foi lançado o Odyssey brown box. Na teoria o primeiro videogame comercial de todos os tempos, na prática, um periférico para a TV. Apesar da boa ideia do projeto, ele contava com um grande revés: só funcionava em televisores da marca Magnavox. Não é difícil perceber por que não foi muito popular.

Magnavox Odyssey Brown Box
Por não possuir uma CPU, uma unidade dedicada para processamento, o aparelho é considerado como “analógico”. Para efeito de comparação, o primeiro modelo do Odyssey possuía 40 transistores. O processador “Intel i7”, um dos mais modernos disponíveis no mercado de computadores, possui 731 milhões!

O concorrente do Odyssey, o Atari 2600, utilizava uma CPU MOS 6507. Mesmo com os gráficos pré-históricos, o Atari 2600 ultrapassava com folga os gráficos produzidos pelo Odyssey.

A geração cult

Saindo da pré-história dos games e indo para a era medieval, chegamos na origem de uma das mais felizes disputas de mercado, Sega x Nintendo. Os consoles 8 bits são ícones de adoração até hoje, por causa de certas sagas que nasceram nesse período: Mario, Zelda, Sonic, Kid Icarus, Megaman...

Os “bits” permearam as discussões dos gamers por muito tempo, servindo de munição para endosso do argumento. Mas afinal, o que são bits?

Os “binary digit” são a menor quantidade de informação que um circuito eletrônico pode transmitir. Em uma certa camada de abstração, são como sim e não, falso e verdadeiro. Lembra daqueles filmes de ficção científica, estilo Matrix, em que as paredes ficavam cobertas de 0 e 1? Isso seria uma representação visual dos bits, informação “correndo” pelas paredes. O que os computadores fazem é simplesmente manipular, guardar, utilizar esses bits. Para facilitar o trabalho de organizá-los, foram idealizados os bytes, um conjunto de instruções de bits.

Os videogames NES e Master System são conhecidos como consoles “8 bits” porque utilizam processadores de 8 bits, ou seja, CPUs que operam com informações de 8 bits. Vale lembrar que os sons processados por esses videogames são cultuados até hoje, influenciando até mesmo estilos musicais, como o ChipTune:



Esse é um assunto muito complexo na área de computação em geral. Não fique chateado se você não entendeu muito bem, estudantes de eletrônica e profissionais de TI do mundo inteiro passam anos para entender o pleno funcionamento de uma CPU.

Já nessa época, os consoles foram ficando cada vez mais diferenciados dos computadores pessoais e com funções cada vez mais específicas. Os gráficos demandam grande quantidade de processamento da CPU, por exemplo. Para resolver esse problema, as empresas inseriam componentes com funcionalidades cada vez mais específicas. E assim foram surgindo as GPU (Graphics Processing Unit) e as placas de áudio.

E assim a “guerra” foi se arrastando por longos anos, até chegar nos consoles 128 bits: DreamCast, PlayStation 2, GameCube e Xbox.

A geração mainstream

É fato que hoje em dia os videogames estão completamente difundidos na sociedade, movimentam milhares de dólares no mercado e fazem parte do cotidiano de boa parte dos jovens e dos não tão jovens assim.

O Hertz "verdadeiro"
Com a popularidade dos consoles e o avanço da tecnologia os aparelhos se tornaram altamente especializados e muito complexos. Por causa disso a divisão de “categorias” por bits tornou-se obsoleta. Atualmente, são utilizados vários processadores ao mesmo tempo, e não somente um, para otimizar os resultados. Como critério de comparação, os bits foram substituídos por “hertz”. O Hertz é unidade de medida de frequência, no caso, o número de ciclos de clock por segundo. Atualmente se mede a frequência do clock normalmente com MHz. Seu valor está diretamente ligado com a quantidade de processos que podem ser feitos em uma determinada unidade de tempo.

O PlayStation 3, o console mais robusto da sétima geração, possui um processador baseado na arquitetura “The Cell”, contando com oito núcleos. Destes 8 núcleos, apenas 6 funcionam simultaneamente. Caso um destes seis apresente algum problema, ou não consiga cumprir suas funções, o sétimo núcleo entrará em ação.O oitavo núcleo é destinado exclusivamente para o kernel do console. Esse processador foi fruto de uma união entre três empresas de tecnologia: Sony, Toshiba e IBM. Você achou complicado? Os desenvolvedores também, e por isso o PS3 teve tão poucos jogos no seu início de vida.

The Cell em toda a sua glória. Ele não é lindo?
O Xbox, por sua vez, possui uma arquitetura muito similar aos atuais computadores pessoais, e sua CPU “Xenon” possui três núcleos, cada um com 3,2 GigaHertz de processamento. Apesar da grande robustez da CPU, quando observados o tamanho do clock, ele não é tão eficiente quanto o PS3, por causa das características operacionais de cada CPU.

O processador do Wii é o mais “fraco” dentre seus outros concorrentes. Contando com uma CPU de apenas 729 MegaHertz, o console possui um enfoque muito maior nos seus sensores de movimento do que em capacidade gráfica.

Não que a frequência da CPU faça tanta diferença assim, pois consoles atuais possuem GPUs para isso. Além do mais, a arquitetura usada pela CPU e o conjunto de instruções utilizados pelos processadores também fazem muita diferença na hora de juntar todos os dados.

O veredito final

Depois de um longo texto, marcado pela palavra comparação, a pergunta que não quer calar é: qual é o melhor console?

Simples. O seu. Após anos debatendo com amigos, e sem chegar à resposta definitiva, essa é a minha resposta atual. Por maior que seja o clock de uma CPU, ela não vai garantir que a sua diversão seja melhor. É legal ficar obtendo essas informações técnicas e tudo mais, mas não podemos esquecer o principal fim para os consumidores: diversão. Sempre que um amigo me pede qual console deve comprar ou uma informação do tipo, a última consideração que faço são essas especificações. O que devem ser levados em consideração é: quais jogos você gosta? Pretende jogar online? Você sente vergonha em jogar balançando os braços?

"Seu burro! Eu não falei que a RAM do PS é maior do que a do N64?"
Antes de definir os limites de um console, precisamos definir a nós mesmos e conseguir reconhecer em qual perfil de jogador nos encaixamos. Se aquele seu amigo chato insiste em falar que o PS3 é melhor que o Wii e blá blá blá, dê um cascudo nele por minha conta e chame-o para jogar, qualquer que seja o console. A última coisa que ele vai pensar quando estiver com um controle na mão será no clock da CPU.

Colaboração: Bruno Grisci
Revisão: Vitor Tibério

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