Perfil: Vaas Montenegro (Far Cry 3)

em 11/01/2013

Se você jogou Far Cry 3 (se não jogou, o que anda fazendo com a sua vida gamer?) com certeza também ficou fascinado com o personagem Vaas... (por Unknown em 11/01/2013, via GameBlast)

Se você jogou Far Cry 3 (se não jogou, o que anda fazendo com a sua vida gamer?) com certeza também ficou fascinado com o personagem Vaas Montenegro. Bastam apenas alguns poucos minutos de jogatina para conhecer esse sádico, filosófico, hilário e violento personagem. A lista de adjetivos é extensa, e nem com o uso de todos é possível defini-lo por completo. Posso afirmar, sem medo de errar, que ele é um dos sujeitos que foi mais bem elaborado e construído no mundo dos games. Mas, afinal de contas, o que nos faz gostar tanto desse exótico personagem? Confira nossa matéria e opine com a gente.

Vaas Montenegro é o segundo antagonista da série, ao lado de Hoyt Volker. Mas, ao contrário do seu nada carismático empregador, Vaas é um personagem que se destaca logo de cara,. Seja pelo seu visual punk com requintes de gangster mexicano (o cavanhaque que o diga), por suas atitudes e posturas adotadas durante o jogo, ou pelo fato de que também é irmão de Citra, o que deixa a trama toda muito mais interessante.



O caso de Far Cry 3 é, no mínimo, incomum: é a primeira vez que eu vejo um vilão ganhar tanto destaque, muito mais do que o protagonista até. Vaas é sem sombra de dúvidas o porta voz do jogo, sendo visto em quase todos os materiais promocionais relacionados à franquia. Não duvido que em decorrência disso, muitos jogadores tenham se identificado mais com ele do que com o infeliz Jason Brody.

Atenção! Deixo o alerta que a matéria contém spoilers. Se você nunca jogou ou ainda não terminou a história, leia por sua conta e risco.

Eu já te falei sobre a definição de insanidade?

Começo destacando que o próprio jogo nos dá uma definição do personagem:
Vaas é totalmente louco. Ele também é violento, imprevisível, orgulhoso e extremamente perigoso. Vaas começou nessa espiral descendente quando se tornou um viciado em drogas trazidas para a ilha Rook por Hoyt Volker. Ele eventualmente se juntou ao recém-nomeado senhor da guerra Hoyt quando este lhe prometeu poder e riqueza. Agora, ele é um dos homens mais temidos em uma ilha cheia de loucos.
Mas será que essa definição, por si só, explica a complexidade de Vaas? Creio que não. Logo nos primeiros minutos de jogo nós já podemos perceber o quanto o personagem será importante, afinal, foi ele o responsável pela captura de Jason e seus amigos. O diálogo de Vaas com Jason e Grant presos na jaula é memorável:
Veja bem, a questão é que, lá em cima, você pensou que tinha uma chance. Lá no topo da p**** do céu você achou que estava com a faca e o queijo na mão. Mas aqui embaixo, hermano...? Você deu com a cara no chão.
Essa passagem ilustra um dos principais sentimentos que Vaas nutre sobre os outros personagens, principalmente os que captura: desprezo. Ele despreza o modo de vida burguês alternativo que Jason e sua trupe levam, deixando entender, via de regra, que eles não sabem como o mundo funciona. Entre seus pares, pensam que são os donos do mundo, mas na vida real, não passam de presas fáceis.


Esse desprezo é facilmente percebido pela própria postura de Vaas ao lidar com suas "mercadorias". A sua meta é receber uma boa quantia pelo resgate dos reféns mas, por trás disso, qual é o seu principal objetivo? Assim que receber o resgate, vendê-los para o mercado negro de escravos.

Quando Jason e seu irmão conseguem fugir da jaula, frustrando momentaneamente os planos de Vaas, o que ele faz? Fica irritado por estar perdendo a sua fonte de renda? Não. Ele age normalmente como se a fuga fosse algo inerente da condição humana. Demonstrando uma calma assustadora, ele persegue os fugitivos e se deleita com a situação, querendo ver o seu desfecho. Quando por fim, agarra as presas, ele simplesmente se desfaz de Grant sem nenhum remorso e toma a atitude que será marcante para o desenvolvimento de toda a história: desafia Jason a fugir.

É nesse momento que fica nítida a intenção do personagem. Por mais que seja um pirata, ele não se importa tanto com dinheiro, o que ele quer mesmo é desfrutar do poder que essa condição permite. Ele desafia Jason a fugir porque pode se dar ao luxo de fazer isso. Nesse momento, surge outra das cenas inesquecíveis protagonizadas por ele:
Run, Forrest, Run!
Assim como o Coringa de Heath Ledger (impossível não fazer a associação), tudo o que Vaas quer é ver o circo pegar fogo. Talvez seja por isso que, pelo menos para mim, ele foi definitivamente o personagem mais interessante de 2012, principalmente pela preocupação com os aspectos técnicos que envolveram a sua criação.

Dois lados da mesma moeda

Tudo o que podemos perceber é que Vaas é um cara instável, violento e que não mede esforços para conseguir o que deseja. Mas espera aí, isso também não caracteriza em vários momentos o próprio Jason?


Os dois personagens possuem uma ligação irrefutável. Jason odeia Vaas por ter matado o seu irmão, torturado e escravizado seus amigos. Vaas, por sua vez, odeia tudo o que Jason representa: do filhinho de papai mimado ao guerreiro que o desafia constantemente. Mas se pensarmos na busca e principalmente na luta por um ideal, os dois são praticamente idênticos. Há inclusive momentos em que o próprio Jason não se importa com os meios, desde que contribuam para o seu objetivo maior, e é nesses momentos que podemos ver a manifestação de Vaas em seu interior.

Vaas pode facilmente ser considerado como parte da psique do protagonista. Uma espécie de alter ego que retrata o que acontece quando você perde a linha e se deixa levar. A grande sacada fica para o final da história, onde você define de uma vez por todas se a influência de Vaas será predominante ou não.

E falando em finais, se há algum aspecto decepcionante em Far Cry 3, é o desfecho do personagem. A morte de Vaas é, no mínimo, decepcionante. Um personagem dessa magnitude, que representa todo um ideal, não deveria ter acabado daquela forma. De qualquer modo, o que não faltam são teorias que afirmam categoricamente que o vilão não morreu, e que tudo não passou de alucinações e batalhas psicológicas que se desenrolaram na própria mente de Jason. Vale tudo para justificar o deslize cometido pela Ubisoft. Mas, no fim das contas, quem sabe essas teorias não se mostram verdadeiras e o personagem dá as caras em uma continuação? Sonhar nunca fez mal a ninguém.

Construindo uma lenda

Como eu disse, Vaas já se tornou uma lenda por diversos motivos. Mas o principal deles é sem sombra de dúvida o modo como o personagem foi concebido. Ao invés de simplesmente criar o personagem e depois chamar alguém para dublá-lo, a Ubisoft arriscou e contratou um ator para construir o personagem em conjunto com a equipe criativa do jogo. Nem preciso comentar o quanto isso foi sensacional.

Ok! Não é a primeira vez que isso acontece, esse mesmo processo já foi apresentado em alguns games, como L.A Noire, por exemplo. Mas convenhamos que o caso aqui atingiu um novo patamar. O trabalho do ator Michael Mando foi fantástico, e o motivo pode parecer simples, mas é muito importante. O fato é que Michael se preparou para o personagem como se estivesse fazendo um filme. Toda uma persona foi criada tendo isso em vista. É por isso que as ações, escolhas e decisões tomadas por Vaas parecem tão reais e nos convencem de uma forma assustadora.

Mais interessante ainda é pensarmos que a Ubisoft fez teste de elenco para o personagem. Não sei quantos realmente percebem a importância disso, mas acreditem, é um passo imenso para a indústria dos games. Não sei vocês, mas eu torço com todas as forças para que decisões como essa se tornem cada vez mais comuns. Imaginem as possibilidades de enredo ou mesmo imersão, e não estou falando apenas dos aspectos gráficos, mas principalmente dos aspectos psicológicos que compõem cada personagem.


Far Cry 3 é sem sombra de dúvidas um divisor de águas. Não apenas por se afastar da maré de shooters genéricos que inundam o mercado, mas principalmente pela sua preocupação em apresentar personagens sólidos, muito bem construídos e que realmente levam emoção aos jogadores. Parece que a Ubisoft levou mesmo a sério a ideia de mostrar "personagens profundos como nunca antes visto".
No fim das contas, nós amamos Vaas Montenegro pelo simples fato de que ele é a mola propulsora para uma nova geração de personagens. Posso estar exagerando, mas quem sabe daqui a alguns anos não teremos atuações dignas de um Oscar vindo dos games? Já imaginaram o alvoroço que isso causaria? Só nos resta esperar e torcer para que a Ubisoft faça escola e revolucione o modo como interagimos com os nossos personagens favoritos.
Revisão: Leandro Fernandes

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.