Brilho eterno de uma mente sem lembranças
A motivação de To The Moon é simples. Johnny Wyles é um senhor de idade com os dias contados. Assim, antes que sua saúde piore, ele contrata os serviços da Corporação Sigmound. Tal empresa presta um único serviço: alterar as memórias do cliente. Mas, por qual motivo alguém gostaria de fazer isso? Bem, nem todas pessoas chegam aos seus momentos finais satisfeitos com a vida que tiveram. Dessa forma, a Sigmound permite aos seus clientes, através das novas memórias, morrer com as lembranças de uma vida alternativa.Johnny, em seu leito, ladeado por sua médica e sua governanta. |
Contudo, existem certas peculiaridades em tal procedimento. É necessário ressaltar que as novas memórias são artificiais, não alterando, assim, as memórias reais. Tal duplicação de memórias causa um estresse mental tão grande no paciente que é impossível sair sem sequelas. Portanto, apenas pacientes terminais podem usar tal serviço.
O segundo detalhe é ainda mais importante. A tecnologia da Corporação Sigmound, sozinha, não é capaz de criar novas memórias para o cliente. O que ocorre, na verdade, é que, partindo das memórias originais do paciente, a máquina da Sigmound gera as novas memórias. Mas, se nada for alterado nas memórias originais, a vida artificial transcorrerá exatamente como a real. Nesse momento é que os Doutores Eva Rosalene e Neil Watts entram em ação. A sua função é explorar as memórias de Johnny e inserir, em sua memória mais antiga, um desejo indestrutível. Tal vontade perdurará por toda a nova vida de Johny, nunca fraquejando, nunca se modificando. É esse desejo indelével que motivará a sua nova vida.
Linha temporal das memórias de Johnny. |
Possível inspiração. |
O enredo de To The Moon, tão centrado em modificação de memórias, me lembra muito de um filme estrelado por Jim Carrey (Ace Ventura) e Kate Winslet (Titanic), Brilho eterno de uma mente sem lembranças. No filme, Jim Carrey contrata os serviços de uma empresa que apaga as lembranças sobre alguém, para conseguir esquecer a ex-namorada. Assim, tanto Brilho Eterno como To The Moon têm boa parte de sua narrativa desenvolvida dentro da memória de seus protagonistas.
Um enorme quebra-cabeça
Agora que já conhecemos os pilares do enredo, vem uma importante pergunta: como se joga To The Moon? O game se assemelha visualmente aos populares RPGs dos consoles 16-bits, mas ele não é um RPG. A semelhança gráfica se deve ao fato do jogo ter sido desenvolvido no RPG Maker.Parece um RPG, mas não é. |
To The Moon, na prática, se assemelha a um Adventure Point-and-Click, gênero definido pela exploração dos cenários e puzzles. A mecânica do jogo é simples: para poder viajar entre as memórias de Johnny precisamos encontrar um memento, objeto conectado as suas memórias. Ao encontrar o memento, precisamos ativá-lo utilizando cinco links de memória, que são obtidos ao se explorar aquele cenário.
Todos os puzzles são neste estilo. Basta completar a imagem. |
Após ativar o memento, um pequeno puzzle aparecerá. Resolvendo o puzzle, saltamos para a próxima memória. Simples e direto. E aqui fica a observação mais importante desta análise: To The Moon é um jogo 100% focado em seu enredo. Alguns puristas argumentam que um jogo que não tenha, ao menos, parte do foco na jogabilidade não é um "jogo de verdade". Eu não acredito nisso. Acredito que jogos se definem apenas como mídias interativas. Desde que o jogador seja ativo, mesmo que apertando um único botão, devemos classificá-lo como jogo. Tenham isto em mente ao começarem o jogo, para não criar expectativas não condizentes com a proposta do jogo. Isto poderia prejudicar, e muito, a enorme experiência que To The Moon proporciona.
Sobre coelhos e ornitorrincos
Bem, como falar mais sobre um jogo que é completamente definido pela sua história sem dar nenhum spoiler? Missão impossível. To The Moon é uma verdadeira experiência literária carregada de emoção. Reviver a vida de Johnny através de suas memórias e desvendar seu passado é completamente fascinante. E, para contrabalancear o ar sério e pesado, o jogo conta com diversas situações que possuem um humor leve e cheio de referências.↓↘→ + Soco. |
Posso dizer que, sem sombra de dúvidas, To The Moon é a experiência mais gratificante que tive com jogos até hoje. Ele não tem regras que, devido ao desempenho, vão levar a vitória ou derrota. Não. Ele apenas conta uma linda história de uma forma encantadora. E faz de tal maneira que apenas um jogo é capaz de exibir o esplendor de seu enredo. É um jogo que eu recomendo a todos os meus amigos. É possível adquiri-lo no site oficial da Freebird ou na Steam.
Prós
- Enredo sentimental bem elaborado e amarrado;
- Trilha sonora fenomenal;
- Visual retrô agradável;
- Personagens carismáticos;
- Duração adequada.
Contras
- Dificuldade na movimentação em certos momentos. É difícil saber se um objeto é transponível ou não, principalmente nas áreas verdes.
To The Moon - PC - Nota: 10
Revisão: Catarine Aurora