Análise: To The Moon (PC)

em 12/01/2013

" Um pequeno jogo para uma desenvolvedora indie, mas um grande enredo para os games ". Essas certamente seriam as palavras do ast... (por Vitor Navarrete em 12/01/2013, via GameBlast)

"Um pequeno jogo para uma desenvolvedora indie, mas um grande enredo para os games". Essas certamente seriam as palavras do astronauta Neil Armstrong, caso tivesse jogado To The Moon. Lançado em 2011 pela canadense Freebird Games, To The Moon é o primeiro projeto comercial da desenvolvedora indie. Nas palavras do próprio criador, Kan Gao, "o jogo tem um gameplay meio como um adventure e o visual meio como de um RPG".

Brilho eterno de uma mente sem lembranças

A motivação de To The Moon é simples. Johnny Wyles é um senhor de idade com os dias contados. Assim, antes que sua saúde piore, ele contrata os serviços da Corporação Sigmound. Tal empresa presta um único serviço: alterar as memórias do cliente. Mas, por qual motivo alguém gostaria de fazer isso? Bem, nem todas pessoas chegam aos seus momentos finais satisfeitos com a vida que tiveram. Dessa forma, a Sigmound permite aos seus clientes, através das novas memórias, morrer com as lembranças de uma vida alternativa.

Johnny, em seu leito, ladeado por sua médica e sua governanta.

Contudo, existem certas peculiaridades em tal procedimento. É necessário ressaltar que as novas memórias são artificiais, não alterando, assim, as memórias reais. Tal duplicação de memórias causa um estresse mental tão grande no paciente que é impossível sair sem sequelas. Portanto, apenas pacientes terminais podem usar tal serviço.

O segundo detalhe é ainda mais importante. A tecnologia da Corporação Sigmound, sozinha, não é capaz de criar novas memórias para o cliente. O que ocorre, na verdade, é que, partindo das memórias originais do paciente, a máquina da Sigmound gera as novas memórias. Mas, se nada for alterado nas memórias originais, a vida artificial transcorrerá exatamente como a real. Nesse momento é que os Doutores Eva Rosalene e Neil Watts entram em ação. A sua função é explorar as memórias de Johnny e inserir, em sua memória mais antiga, um desejo indestrutível. Tal vontade perdurará por toda a nova vida de Johny, nunca fraquejando, nunca se modificando. É esse desejo indelével que motivará a sua nova vida.

Linha temporal das memórias de Johnny.

Possível inspiração.
Johnny sabe qual é seu desejo: ir para a Lua. Mas, ele não sabe exatamente o motivo de ter tal vontade. Assim Eva e Neil devem explorar suas memórias, partindo da mais recente até a mais antiga, para identifcar o que desencadeou tal desejo e, assim, obter sucesso em sua empreitada. Mas, compreenda que a definição de sucesso aqui é apenas fazer com que um senhor morra acreditando que foi para a Lua. Trágico por definição.

O enredo de To The Moon, tão centrado em modificação de memórias, me lembra muito de um filme estrelado por Jim Carrey (Ace Ventura) e Kate Winslet (Titanic), Brilho eterno de uma mente sem lembranças. No filme, Jim Carrey contrata os serviços de uma empresa que apaga as lembranças sobre alguém, para conseguir esquecer a ex-namorada. Assim, tanto Brilho Eterno como To The Moon têm boa parte de sua narrativa desenvolvida dentro da memória de seus protagonistas.

Um enorme quebra-cabeça

Agora que já conhecemos os pilares do enredo, vem uma importante pergunta: como se joga To The Moon? O game se assemelha visualmente aos populares RPGs dos consoles 16-bits, mas ele não é um RPG. A semelhança gráfica se deve ao fato do jogo ter sido desenvolvido no RPG Maker.

Parece um RPG, mas não é.

To The Moon, na prática, se assemelha a um Adventure Point-and-Click, gênero definido pela exploração dos cenários e puzzles. A mecânica do jogo é simples: para poder viajar entre as memórias de Johnny precisamos encontrar um memento, objeto conectado as suas memórias. Ao encontrar o memento, precisamos ativá-lo utilizando cinco links de memória, que são obtidos ao se explorar aquele cenário.

Todos os puzzles são neste estilo. Basta completar a imagem.

Após ativar o memento, um pequeno puzzle aparecerá. Resolvendo o puzzle, saltamos para a próxima memória. Simples e direto. E aqui fica a observação mais importante desta análise: To The Moon é um jogo 100% focado em seu enredo. Alguns puristas argumentam que um jogo que não tenha, ao menos, parte do foco na jogabilidade não é um "jogo de verdade". Eu não acredito nisso. Acredito que jogos se definem apenas como mídias interativas. Desde que o jogador seja ativo, mesmo que apertando um único botão, devemos classificá-lo como jogo. Tenham isto em mente ao começarem o jogo, para não criar expectativas não condizentes com a proposta do jogo. Isto poderia prejudicar, e muito, a enorme experiência que To The Moon proporciona.

Sobre coelhos e ornitorrincos

Bem, como falar mais sobre um jogo que é completamente definido pela sua história sem dar nenhum spoiler? Missão impossível. To The Moon é uma verdadeira experiência literária carregada de emoção. Reviver a vida de Johnny através de suas memórias e desvendar seu passado é completamente fascinante. E, para contrabalancear o ar sério e pesado, o jogo conta com diversas situações que possuem um humor leve e cheio de referências.

↓↘→ + Soco.

Posso dizer que, sem sombra de dúvidas, To The Moon é a experiência mais gratificante que tive com jogos até hoje. Ele não tem regras que, devido ao desempenho, vão levar a vitória ou derrota. Não. Ele apenas conta uma linda história de uma forma encantadora. E faz de tal maneira que apenas um jogo é capaz de exibir o esplendor de seu enredo. É um jogo que eu recomendo a todos os meus amigos. É possível adquiri-lo no site oficial da Freebird ou na Steam.

Prós

  • Enredo sentimental bem elaborado e amarrado;
  • Trilha sonora fenomenal;
  • Visual retrô agradável;
  • Personagens carismáticos;
  • Duração adequada.

Contras

  • Dificuldade na movimentação em certos momentos. É difícil saber se um objeto é transponível ou não, principalmente nas áreas verdes.

To The Moon - PC - Nota: 10
Revisão: Catarine Aurora

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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