Análise: Black Mirror (Multi) um suspense interessante, mas com tropeços

Adventure é releitura de jogo lançado em 2003, traz uma boa história mas alguns problemas na parte técnica.

em 05/12/2017
Black Mirror, jogo que não se relaciona com a série de TV de mesmo nome, se trata de uma releitura de um adventure lançado originalmente em 2003 (e que ganhou duas continuações em 2009 e 2011). Este novo jogo, feito pelo estúdio alemão King Art Games, traz uma história influenciada por autores como Lovecraft e Allan Poe, trazendo elementos do suspense, da loucura e do oculto. E realmente é na trama que está a maior força do título, que acaba cometendo alguns deslizes especialmente na parte técnica.


Acho válido mencionar também que não tive contato com o os jogos antigos, então não tenho como comparar, explicitamente as obras passadas com essa, quanto as mecânicas e detalhes do enredo. Mas para quem se interessar, a trilogia original para PC pode ser encontrada facilmente em lojas online como o Steam ou o GOG.



Black Mirror se passa no ano de 1926 e traz como protagonista David Gordon. Desde pequeno David passou sua vida longe da Escócia, sua terra natal, mas se vê obrigado a voltar após a misteriosa morte de seu pai, John Gordon. Esse regresso se dá não somente para descobrir o que aconteceu nesse incidente, mas para assumir a Mansão Black Mirror, propriedade de sua família a gerações e que, com a morte de John, passaria a ser de David.

Muitos clichês do estilo já pipocam na sua cara nos primeiros minutos de jogo: uma mansão misteriosa, um mordomo enigmático, uma família envolta a um histórico de tragédias, entre outros detalhes. Mas não encaro isso como algo negativo, a sensação é estar lendo algum daqueles livros de suspense, sabe?


Conforme a história vai avançando, vamos junto com David tentando juntar as peças desse imenso quebra-cabeça ao tentar descobrir os segredos guardados sob o teto da Mansão Black Mirror. Mesmo com alguns personagens sendo muito caricatos, a trama consegue se desenvolver em um ritmo interessante, na medida que vamos desvendando os podres da família Gordon.

Meu único problema com a história é que em alguns momentos ela fica um pouco embolada, podendo gerar confusão. Existe um diário no menu do jogo que é atualizado ao final de cada capítulo, mas é um resumo muito enxuto dos últimos fatos. Em um momento especial, salvo engano, há um furo considerável na cronologia dos fatos e isso pode atrapalhar a compreensão da trama. Por conta desse buraco, tive que ir até o Youtube rever algumas cenas para entender a relação entre dois personagens específicos.

Seria interessante se o game tivesse mais informações disponíveis, como os perfis dos personagens principais, e que fossem incrementados com o avançar do enredo. Como não há opção de rever diálogos e alguns itens são descartados na transição de episódios, detalhes podem acabar passando batido.


Um reflexo meio problemático

Apesar da observação acima, os problemas mesmo de Black Mirror moram na sua parte técnica, a começar pela parte gráfica. Os desenhos em si são “ok”, mas em geral eles são simples demais, especialmente para uma obra de 2017. Os modelos dos personagens são bem feitos mas não espere nada das expressões faciais, mesmo nas falas mais enérgicas as pessoas falam quase com a mesma expressão. Nisso, vale citar a dublagem essa sim muito bem executada, com um bom trabalho de escolha das vozes e interpretação.

Outro ponto problemático é a movimentação do personagem, que é livre mas não raramente acaba se enroscando em alguma parte do cenário. Como o ponto de visão da câmera é fixo, fatalmente existem pontos “cegos” e sua canela vai sofrer um bocado.


Ainda na parte gráfica, alguns bugs como personagens “deslizando” para certo ponto, para iniciar um diálogo, também é algo chato de ser visto. Outras vezes aparecem mudanças de posição bruscas e até coisas engraçadas, como David saindo do chão ao entrar em um mapa novo.

Falando em mapas, uma questão que merece ser observada são as telas de carregamento. Os loadings de Black Mirror são muito grandes, especialmente quando pensamos que o jogo é feito de pequenos mapas e que estão longe de serem ricos em detalhes.

Mirror, Mirror on the wall

Como já disse aqui, Black Mirror é um adventure, e nesse ponto ele segue a linha dos antigos jogos do gênero, logo não espere por múltiplos finais ou diálogos com decisões morais. Em alguns trechos é possível resolver os puzzles de mais de uma forma, mas no geral tudo segue uma linha reta. Quando solucionamos um problema, surge o seguinte e assim o jogo prossegue. O nível dos desafios é moderado.

Por fim, como destaque positivo fica a ótima trilha sonora, que sempre acrescenta bastante as cenas, especialmente as mais impactantes para a trama.


Black Mirror dá uma nova roupagem ao jogo original, pega o clima e algumas das bases do anterior e dá uma nova roupagem a ela. A história é interessante e mesmo não “explodindo cabeças” é um bom suspense. A ótima interpretação dos atores e a trilha sonora são destaques também.

Por outro lado, o jogo deixa a desejar em alguns aspectos: falta de informações adicionais relativos ao acontecimentos recentes, telas de carregamento demoradas e animações simplórias fazem o título perder alguns pontos. Ainda assim, o título tem seu valor e acaba agradando, com uma trama que sempre deixa o jogador curioso pelo que vai acontecer em seguida.

Prós

  • Um bom suspense, com inspirações de Lovecraft e EA Poe
  • Ótimo trabalho de dublagem
  • Trilha sonora

Contras

  • Telas de carregamento constantes e demoradas
  • Qualidade gráfica e de animações deixa a desejar
  • Falta de textos extras para complementar a história

Black Mirror — PC/PS4/XBO — Nota: 7.0
Versão usada para a análise: PC

Revisão: Diogo Mendes


Formado em Game Design, desistente da Matemática Aplicada e atualmente cursando Jornalismo. Ainda aguardo o retorno triufal da Sega, fã de Metal Gear, Dark Souls e várias coisas vindas lá do Japão.
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