Gods Eater (com “s” mesmo), como antes era conhecida a franquia, foi inicialmente lançado no Ocidente em 2010 como um título exclusivo de PSP, tratando-se, neste caso, de sua expansão, Gods Eater Burst, como o ocorrido com Monster Hunter 3 Ultimate (3DS/Wii U), que possuía mais conteúdo e mecânicas adicionadas ao título original.
Em 2016, após tanta espera dos fãs, o remake do jogo, God Eater Resurrection, agora sem o “s”, finalmente recebeu a localização, basicamente uma “expansão da expansão”, trazendo mais armas, monstros, roupas, mecânicas e um novo arco na história, tentando explicar um pouco mais o que houve nos três anos que se seguiram até o início de God Eater 2: Rage Burst (PS4, PS Vita e PC).
Será que o título conseguiu corresponder às expectativas? Confira conosco nesta análise!
O retorno do apocalipse
God Eater Resurrection, assim como a grande maioria das expansões do gênero, traz consigo todo o conteúdo dos jogos originais, com a vantagem, neste caso, de ser um remake para a nova geração (com versões para PS4, PS Vita e PC), ganhando uma enorme atualização gráfica e nova dublagem em inglês.O jogo se passa em um distante futuro, em que a humanidade se encontra à beira da extinção por conta da ameaça dos Aragami, seres monstruosos que misteriosamente surgiram e simplesmente passaram a devorar tudo o que havia em seu caminho, devastando assim o mundo todo. Tais seres receberam vários nomes, Aragami sendo o mais utilizado, mas também ficando conhecidos como deuses por conta de seu imenso poder.
Como armas convencionais eram inúteis, por não feri-los e, geralmente, eles as engoliam e se fundiam com as mesmas, sofrendo mutações, o jeito foi combater fogo com fogo, desenvolvendo poderosas ferramentas com lâminas, escudos e armas de longo alcance, chamadas de Arcas dos Deuses (God Arcs).
As God Arcs, feitas das mesmas células dos Aragamis, Células do Oráculo (Oracle Cells), poderiam anular a invencibilidade dos monstros, possibilitando matá-los efetivamente ao extrair seu núcleo, como uma espécie de coração. Aqueles que possuíssem aptidão para utilizá-las seriam chamados de Comedores de Deuses (God Eaters). Por ser uma espécie de Aragami artificial, as God Arcs podem revelar enormes bocas a mando do usuário, geralmente para aumentar seu poder, comendo algumas das células de um Aragami ativo, ou para comer o núcleo do mesmo quando já estiver quase morto, encerrando-o por definitivo.
A chegada do recruta
O jogador assume o protagonista, como um personagem customizável. As opções disponíveis são bastante variadas no início, mas nada comparado a jogos como Phantasy Star e Freedom Wars, limitado a apenas gênero, cabelo, olhos, rosto, voz e roupagem pré-moldados.O protagonista recebe o título de “New-Type” God Eater, uma nova classe de guerreiros que possui uma arca híbrida transformável em espada e arma, o primeiro da filial do extremo leste. Como um recruta da corporação Fenrir, chamada de “última fortaleza da humanidade”, o personagem é aprovado no teste de recepção da Arca e logo após designado à primeira unidade de batalha da filial do extremo leste, iniciando assim sua aventura, desenvolvendo as relações com seus companheiros de equipe em meio a vários mistérios que cercam a corporação e os Aragami que, mesmo populando o mundo há anos, não deixam de surpreender… da forma mais negativa possível.
God Eater Resurrection, como no primeiro jogo da franquia, possui foco na narrativa, com bastantes diálogos e cutscenes, algumas longas, com direito a cenas épicas próximas do fim. Contudo, a narrativa se desenvolve lentamente no início e próximo ao fim do jogo, até demais, diria eu, desanimando bastante em alguns momentos por conta da ansiedade de um desenvolvimento mais impactante em certos momentos, praticamente empurrando as missões “goela abaixo”.
Batalhando contra os deuses
As missões consistem em derrotar os alvos especificados no briefing dentro de determinado tempo e resistência. Pode parecer algo monótono, mas não é. Não mais, ao menos. O dinamismo das batalhas é bastante divertido, mesmo que se faça necessário repetir a mesma missão várias vezes para poder pegar algum material específico para aquela arma que tanto deseja. A adição de missões urgentes especiais, que ocorrem com certa frequência, e outras com várias fases também deu um ar a mais no jogo, mas infelizmente nenhuma delas é inclusa na história principal.No campo de batalha as coisas são bastante frenéticas, claro. O personagem pode andar, correr, pular, atacar fisicamente ou à longa distância, alternando a arma, assumir instância defensiva com o escudo (apenas com a espada), deslizar, dar ordens aos demais integrantes do grupo (IA), utilizar itens, pegar materiais no campo, focar a câmera no inimigo e, claro, o charme do jogo, devorar. O ato de devorar em God Eater faz com que o personagem entre em “Burst” por um determinado tempo, aumentando sua velocidade de ataque, movimento, adquirindo balas próprias do Aragami que devorou e possibilitando o pulo duplo.
Resurrection trouxe de volta mecânicas como alternância entre hack ’n slash e tiro em terceira pessoa do jogo original, o que já era um brilho à parte, mas também praticamente o reinventou com novidades, como os “Predator Styles”, que alteram a velocidade e o modo do devorar, além da forma que a enorme boca toma ao ativá-la. Tal ferramenta faz com que o game fique muito mais rápido e dinâmico. Os Aragami foram regulados para acompanhar o ritmo do jogo, ficando bem mais rápidos também.... até demais em alguns momentos, fazendo com que a câmera, bem problemática, perca-se no meio do jogo, quando um Prithvi Mata fica furioso, por exemplo, praticamente impossibilitando o jogador de acompanhar o monstro.
Em Gods Eater Burst, os Aragami já deixavam a desejar com relação à inteligência artificial, não sendo difícil de reconhecer os padrões de seus ataques e se adaptar aos mesmos, o que deixava o jogo monótono após algum tempo, tendo em vista que em várias das missões era necessário matar o mesmo tipo de Aragami. No novo título, no caso dos padrões do inimigo, infelizmente, o mesmo ocorre. Contudo, justamente por conta do aumento no ritmo da jogabilidade, a dificuldade e o dinamismo acompanharam. Nada impossível, claro, mas demandando maior domínio dos controles, estratégias de posicionamento com a equipe (pelas ordens à IA) e, claro, observar os efeitos das armas e dinamizando o jogo cada vez mais.
Administrando os equipamentos
A estadia na base de operações possibilita o jogador a conversar com os NPCs, avançando a história, comprando itens, explorando a biblioteca do jogo, customizando os equipamentos que possui, como roupagem, aparência, e, claro, aceitar as missões disponibilizadas, ganhando acesso a um breve briefing da dificuldade, o que terá de enfrentar e como ganhar a vantagem elemental, infligindo maior dano no Aragami com as Arcas disponíveis.A Arca do protagonista possui três partes intercambiáveis: a lâmina, a arma e o escudo. Cada uma dessas partes possui uma subseção de classes diferentes com jogabilidades distintas, alterando o padrão dos ataques, o modo de tiro e a velocidade com que ativam o escudo. Assim como no primeiro jogo, as espadas, espadas longas, espadas grandes (montantes), rifles de longo alcance, rifles de assalto, canhões, escudos pequenos, médios e torres voltam. A expansão marca a entrada de lanças, martelos e foices, para as lâminas, e a shotgun para as armas de longo alcance, que foram originalmente apresentadas em God Eater 2: Rage Burst e adentraram no jogo com a desculpa (bastante justificável) de serem “protótipos ainda não testados à disposição do New-Type”.
É possível comprar novas partes do vendedor de itens, mas o mesmo possui uma quantia limitadíssima e cobra bastante caro por elas, o que faz com que a melhor opção seja, de fato, fabricar as próprias ou até mesmo aprimorar as que já possui com os materiais que adquire em missões, podendo apenas mudá-las de cor ou transformá-las em partes totalmente novas em alguns momentos. As Arcas possuem dano elemental próprio, geralmente baseado no Aragami de que foram tiradas, separados entre fogo, gelo, raio e divino, além de efeitos próprios da arma, como envenenamento, por exemplo. Há como, também, criar as próprias balas para serem utilizadas nas armas, como lasers, morteiros, mísseis e balas comuns.
Resurrection também incluiu um sistema de habilidades especiais para partes das Arcas, adquiridos por upgrades, ou por partes de outras Arcas encontradas nas missões do jogo (apresentadas no menu de resultados), que, quando aplicadas à do jogador, dão efeitos bastante úteis, como maior velocidade de ataque, defesa aumentada, maior dano de tiro, etc.
Isso tudo faz com que seja até mesmo divertido e interessante ficar dentro da base, o que normalmente se tornaria algo bastante entediante.
Aliados bastante úteis… ou quase
Outra novidade são as habilidades próprias dos NPCs. Cada personagem que possui aptidão para ser despachado em campo possui um conjunto de habilidades próprias que podem ajudar bastante, como aumento de porcentagem de itens raros, mais partes de Arcas, maior recompensa, etc. Há também habilidades que melhoram os personagens em batalha, aumentando o HP, o ataque, diminuindo dano recebido, etc.Nas missões é possível ser acompanhado por até outros três personagens, seja no modo online ou solo. Gods Eater Burst já se demonstrava bastante problemático quando o assunto era a I.A. dos aliados. Eles eram bastante úteis para as batalhas, mas caso o jogador caísse e necessitasse de assistência, dependia demais da sorte do Aragami se afastar muito, pois os aliados focavam mais em desviar dos ataques do monstro do que tentar levantar o colega, o que tem sua lógica, mas em vários momentos eles simplesmente se afastavam do protagonista, esquivando do Aragami, mas não voltavam para ajudar, impedidos pelos ataques da criatura, o que fazia com que o jogador perdesse o tempo do cronômetro e tivesse de renascer, gastando pontos de resistência.
No novo jogo isso é muito mais raro. Embora priorizem a batalha a levantar outros NPCs, quando o jogador cai, eles, de pronto, vão ao socorro, o que é ótimo. Contudo, a falha encontra-se nas ordens manuais dadas aos mesmos. Em alguns momentos, dar ordens como “esperem aqui” faz com que a equipe praticamente desligue e fique parada em certo local, não sendo possível sobrepor aquela ordem com qualquer outra, dependendo da aparição de um Aragami no local para que voltem à ação.
Embora seja mais raro, este tipo de coisa ainda pode ocorrer. |
As melhorias da ressurreição
Uma das coisas que mais impressionava em Burst, além da narrativa e da jogabilidade, era a dublagem, que possuía bastante qualidade e dava uma boa identidade ao título. Embora não sejam os mesmos dubladores, quiçá as mesmas falas, Resurrection conseguiu fazer o mesmo. A dublagem em inglês continua de altíssima qualidade, com algumas falhas aqui e ali, como a dessincronização dos lábios em algumas cenas, a falta de humor dos dubladores em outras bem marcantes, mas ainda assim é digna de elogio.As missões ganharam diálogos interessantes e bastante divertidos entre o operador e a equipe de campo, o que foi a cereja do bolo, quebrando todo aquele gelo de alguma operação. Hibari diz algumas coisas hilárias e nos momentos certos, embora seja a única operadora que realmente recebeu tal atenção, além de, claro, auxiliar com a situação da missão, notificando o jogador quando a melhor ação é bater em retirada, administrar a vida disponível ou quando o Aragami está nas últimas, tendo em vista que o mesmo não possui barra de vida.
A trilha sonora permanece a mesma, o que é bom. Contudo, algumas novas músicas foram inclusas no jogo, mas no momento exato em que se faziam necessárias. Tais músicas faziam parte do CD de trilhas sonoras originais de God Eater 2 (jogo lançado apenas no Japão), mas que não estavam no jogo. Aplicá-las neste novo foi uma boa ideia.
Visualmente o jogo está lindo. A evolução gráfica foi enorme. Contudo, isso se deu apenas nos modelos dos personagens, não se aplicando às cutscenes antigas, mantendo-se o ritmo travado que o jogo de PSP trouxe há seis anos. A evolução ocorre mesmo quando o arco da atual expansão entra, trazendo cenas de tirar o fôlego, mas até chegar lá...
A diferença nos gráficos é gritante. |
Uma verdadeira evolução
God Eater Resurrection não apenas expande Burst, mas faz por onde receber o título de remake. As novidades não são poucas e as mecânicas adicionadas não são um mero detalhe, transformando o jogo em algo totalmente novo, com um ritmo mais intenso e dinâmico. Ao acelerar os Aragami, a dificuldade também aumenta e a diversão se multiplica. A narrativa renovada com os diálogos dentro das missões e os novos visuais dão um ar a mais ao título.O modo online diverte bastante, possibilitando a ajuda naquela missão difícil que te deixa arrancando os cabelos (cof, cof, Blitz Hannibal). Isso tudo faz com que jogadores antigos se sintam em casa com algumas coisas, mas também se surpreendam com outras.
Infelizmente algumas falhas com a inteligência artificial, principalmente para aqueles que utilizam de táticas como as ordens de equipe, incomodam bastante. A câmera também não ajuda muito em alguns momentos, principalmente em locais fechados, impossibilitando a mira com a arma, por exemplo, ou até mesmo fazendo o jogador cair em campo por não conseguir acompanhar o Aragami, o que incomoda muito. É possível que mesmo com todas as novidades, o título não satisfaça àqueles jogadores que se incomodam em repetir várias vezes as mesmas missões atrás de itens.
Prós:
- Divertido, rápido e dinâmico;
- Narrativa manteve-se muito boa;
- Novas mecânicas interessantes;
- Desafiador e interessante até mesmo para veteranos;
- Visuais renovados muito bons;
- Ótima dublagem;
- Vasto em conteúdo;
- Kanon Daiba;
- Novo arco com ótimas cutscenes…
Contras:
- ...que se limitaram ao arco em si, não adicionando mais nada aos anteriores;
- Câmera não acompanha direito Aragamis mais rápidos;
- Inteligência artificial dos aliados deixa a desejar.
- História do novo arco não é lá muito interessante;
- As conversas em campo não foram bem aplicadas em todos os personagens;
- Pode se tornar repetitivo com o tempo, mesmo com as novidades.
God Eater Resurrection (PS4/PS Vita/PC) - Bandai Namco Entertainment - Nota: 8,5. Versão utilizada para análise: PS Vita.
Revisão: Vitor Tibério.