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Desde o sistema de plantações, que pega do básico de plantar e regar ao mesmo tempo que é expandido com a possibilidade de processar os produtos para um maior preço de venda, o jogo vai expandido os pontos comuns de Harvest Moon de forma eficiente. É gritante que Stardew Valley é influenciado pelos jogos da Natsume, mas é também notável como ele é único, e isso já é notável no começo: o jogo te apresenta uma liberdade enorme desde o início.
Você escolhe desde seu primeiro dia na fazenda se vai querer organizar o terreno, que está completamente abandonado, ou ficar andando pela cidade conhecendo as pessoas. A cada dia você toma uma decisão, e de forma alguma o jogo te pune por isso. A cada dia, cada decisão é só sua. Isso torna um jogo com uma premissa extremamente simples em algo complexo e contemplativo. Um grande trunfo para um jogo desenvolvido por uma pessoa só. A trilha sonora coopera para esse clima. Sempre calma, sem muitos grandes momentos que liberam adrenalina no jogador, ela conduz bem o clima contemplativo da experiência rural de Stardew Valley.
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Experiência rural, aliás, com tons de fantasia e crítica ao capitalismo. Fantasia ao permitir que você explore as minas de minérios e enfrente monstros, ou com suas interações com magos e duendes espalhados pela cidade. O sistema de matar monstros, por sinal, não é bem desenvolvido. Você simplesmente tem uma espada e deve ficar tentando matar as criaturas que aparecem para você apertando o botão direito do mouse. Até ai, nada demais, muitos jogos fazem isso. O problema é que esse sistema de uso da espada é igual ao do uso de qualquer outro item da fazenda, tornando a mira algo bem terrível para a movimentação dinâmica que a luta exige. Óbvio que o foco do desenvolvedor nunca foi o combate, mas se a opção está lá poderia ter sido bem melhor desenvolvida. É frustrante e bem chato, sendo uma das poucas coisas no jogo que podem fazer o jogador desistir — embora que, como tudo no game, fica a seu critério se vai fazer uso disso ou não. O game faz crítica também ao capitalismo a partir da constante lembrança que aquela vida rural tão gostosa pode ser a qualquer momento exterminada pela sombra da indústria Joja, grande conglomerado para o qual você trabalhava antes de herdar a fazenda.
Enquanto a maioria dos personagens aparentam ter algum brilho — mesmo que muitos sejam bem menos desenvolvidos que outros — todos os funcionários da Joja que você encontra em sua jornada soam como carcaças vazias, sem vontade de viver. Acaba por levantar a questão que talvez, no começo do jogo, o personagem principal era igual, sendo que a saída para algo mais rural e simples o “ressuscitou”.
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Stardew Valley conta com a possibilidade de casar seu personagem com qualquer habitante da cidade, sem limitação de gênero. Sendo isso algo extremamente progressista e positivo, é triste notar que os personagens femininos são bem melhor desenvolvidos que os masculinos. Isso acaba criando uma baixa vontade de engajamento com esses personagens, o que tira parte do brilho de algo que poderia ser muito positivo. E a vida de casado, ao mesmo tempo, não adiciona em nada na jogabilidade, sendo mais algo de enfeite do que uma característica que muda o jogo. É um dos poucos pontos onde Stardew fica devendo para Harvest Moon.
Após cerca de 32 horas de jogatina para fazer esta análise, o que ficou na minha cabeça sobre o jogo é como o título é uma experiência calma e que mostra que simplicidade e uma temática mais rural podem marcar bem mais que a maioria das experiências que existem por aí. A outra é que o jogo precisa ser um pouco lapidado. É gritante a diferença nos diálogos de alguns personagens, com suas personalidades mudando entre conversas ou simplesmente menos tempo gasto os idealizando. As plantações e as variadas sementes têm dados muito escassos e a vida de casado não traz nenhuma diferença significante. Pelo menos um desses defeitos foi reconhecido pelo criador, e ele prometeu consertar. Se bem executado, pode ser mais um ponto forte neste incrível e bem feito simulador não só rural, mas de vida.
Prós
- Liberdade total ao jogador;
- Várias opções desde o começo;
- Sistema de plantação bem feito.
Contras
- Sistema de combate não desenvolvido bem;
- Alguns personagens são rasos demais;
- Vida de casado sem grandes diferenças.
Stardew Valley - Steam- Nota: 9
Revisão: Vitor Tibério
Capa: João Leal