Em busca da lua, fugindo do sol
O mundo de Moon Hunters é abençoado pela deusa da Lua, que traz prosperidade e paz para as pessoas. Um dia, a entidade some misteriosamente e heróis saem em uma jornada a fim de tentar encontrá-la. Para deixar as coisas mais complicadas, depois de dois dias o clã rival, que cultua o deus Sol, faz uma ameaça: em três dias os heróis serão assassinados. Sendo assim, os guerreiros têm que correr contra o tempo para tentar encontrar a deusa Lua e se fortalecer para o confronto final contra os adoradores do deus Sol.A estrutura de Moon Hunters é baseada nessa trama. Sendo assim, o jogador tem um número limitado de áreas para explorar antes do confronto final — cada estágio conta como um dia, ou seja, cada partida consiste em cinco fases. Nesses locais, os heróis enfrentam inimigos em tempo real, interagem com outros personagens e coletam dinheiro para melhorar suas habilidades de combate. O estágio termina com um acampamento, que dá oportunidades de melhorar alguns atributos.
Uma característica única do jogo é o sistema de reputação. Durante os diálogos, normalmente há a necessidade de se fazer uma escolha. A sua resposta influencia o personagem, que pode receber traços únicos de personalidade. Um herói corajoso, por exemplo, tem acesso a certas cavernas perigosas; já um guerreiro paciente consegue aguentar uma conversa chata entre idosos e, assim, obter informações valiosas. No fim da aventura, todas as características obtidas são combinadas e é criado um perfil único daquele herói.
Moon Hunters conta com gráficos no estilo pixelart e eles são bons na maior parte do tempo. O destaque fica por conta da direção de arte e ambientação, com tema meio tribal e selvagem. A trilha sonora é muito boa e possui algumas composições cantadas bem memoráveis. Tecnicamente, o jogo conta com alguns pequenos engasgos e bugs, mas os desenvolvedores estão trabalhando constantemente para resolver isso.
Explorando locais desinteressantes
Ambição é a palavra que define Moon Hunters. Os desenvolvedores afirmam que este é um jogo com um “universo rico que é diferente em toda partida” e que “as escolhas têm grande impacto no desenvolvimento dos personagens e do mundo”. Infelizmente isso não é o caso e o resultado é uma experiência rasa e mediana.O primeiro problema tem a ver com a simplicidade de tudo. A aventura é dividida em áreas (ou estágios), que são mapas sem inspiração alguma, com alguns inimigos e NPCs espalhados. A estrutura consiste, basicamente, em destruir tudo que aparece pela frente e responder às perguntas das pessoas que aparecem no caminho. Não há segredos, itens escondidos, puzzles, ou nada que incentive a exploração dos locais. Existem vários tipos de cenários, como montanhas, desertos e florestas, mas na prática a única diferença entre eles é a arte — até inimigos são reaproveitados entre as áreas.
Acredito que essa simplicidade no desenho e na estrutura das fases seria aceitável se o combate fosse divertido e interessante, mas ele infelizmente não é nada disso. O sistema de batalha mais lembra um jogo de ação básico: bata repetidamente nos inimigos até eles morrerem. Não há muita estratégia e basta usar o mesmo ataque várias vezes. Para piorar, a dificuldade é baixíssima e até mesmo chefes são facilmente derrotados. Moon Hunters tenta trazer variedade oferecendo várias classes à sua disposição e um sistema de melhoria de técnicas, mas no geral eu simplesmente usava um único ataque de cada personagem para destruir facilmente tudo o que aparecia pelo caminho. Tive dificuldade com determinadas classes por conta de seus ataques fraquíssimos, mas morrer não é muito problemático aqui: após a derrota, o personagem aparece em um acampamento no qual é possível melhorar atributos. O Moon Hunters conta com multiplayer para até quatro jogadores, o que deixa tudo ainda mais fácil e enfadonho.
Reputação desperdiçada
Minha esperança era que o sistema de reputação e de características de personalidade fosse bem construído. Contudo, ele é mais um aspecto mal trabalhado de Moon Hunters. Na teoria, as minhas escolhas nos diálogos alterariam interações futuras, o caráter do herói e até mesmo o mundo do jogo, mas na prática elas servem para quase nada. Eventualmente, alcançar certos lugares e participar de algumas conversas exigem uma reputação específica, fora isso as características de personalidade só definem o texto de perfil do herói no final da aventura. No fim das contas, o sistema de reputação tem um impacto praticamente inexistente no jogo como um todo.Por fim, a estrutura básica da aventura é muito limitada. Você é forçado a enfrentar o último chefe após alguns dias dentro do universo do jogo e não é possível voltar aos locais visitados anteriormente — cada partida dura entre 20 e 40 minutos. Para piorar, o último oponente é o mesmo para todos os personagens e é extremamente fácil. Essa limitação de estágios, aliada a variedade de situações praticamente inexistente, tem como resultado partidas extremamente parecidas entre si. Existem alguns itens desbloqueáveis, como roupas e novos locais, mas não acredito que sejam incentivos suficientes para jogar várias vezes.
Uma aventura decepcionante
Moon Hunters é um jogo que tinha tudo para dar certo, entretanto não alcançou esse objetivo. A premissa de controlar heróis em um mundo selvagem e fazer parte da construção de lendas é interessante, mas a execução deixou a desejar. O título conta com cenários repetitivos e desinteressantes, combate raso, dificuldade baixa e partidas de curta duração. A mecânica de reputação era promissora, contudo foi mal desenvolvida e ficou subutilizada na aventura. As únicas características que se salvam são a direção de arte e a música, que não são suficientes para sustentar o jogo como um todo. Sendo assim, Moon Hunters não é uma experiência recomendada.Prós
- Boa direção de arte e música.
Contras
- Combate repetitivo e desinteressante;
- Baixo desafio;
- Mecânica de “reputação” mal desenvolvida;
- Campanha curta e sem variedade.
Moon Hunters — PC — Nota: 4.5
Revisão: Érika Honda
Capa: João Leal