Um mega passado
Mega Man estreou em 1987 no NES pelas mãos de Keiji Inafune, que rapidamente se tornou um dos desenvolvedores mais influentes no Japão. Apesar de tecnicamente simples, os jogos do robozinho azul da Capcom impressionavam por seu level design, que exigia precisão extrema com os controles. Os visuais, a trilha sonora e o enredo também agradavam, obviamente, mas não tanto quanto a minuciosa construção dos desafios de cada estágio.
O sucesso de cada título já confirmava a produção do próximo. E, assim, a franquia chegou até Mega Man 6 no NES, época de desgaste do console frente ao lançamento do SNES e da saturação da fórmula da franquia. Afinal, desde o primeiro Mega Man, nada fundamental havia sido alterado até o sexto lançamento. No SNES, por outro lado, Mega Man 7 foi uma grande revolução para a série em todos os aspectos.
Embora Mega Man & Bass tenha permanecido, por muito tempo, como último jogo da franquia principal, não faltavam spin-offs para saciar a sede dos fãs e explorar outras abordagens para a série. Mega Man X trouxe mais ação à fórmula, Mega Man Legends levou a série ao universo tridimensional, Mega Man Battle Network dialogou com um público infantil em uma guinada para o RPG e por aí vai.
Assim, quando a série Mega Man principal finalmente fez seu retorno, com Mega Man 9, ele não poderia ter sido menos triunfal. Seguido pouco depois por Mega Man 10, a Capcom compensava quase dez anos sem um lançamento da série principal, enquanto mantinha viva os spin-offs ZX e Star Force. Era uma época boa para ser fã de Mega Man, mas então...
Um game criado com base na nostalgia |
Desentendimentos
A relação entre a Capcom e Keiji Inafune estava envolta em rumores sobre desavenças entre ambos em meados de 2010. Foi nesse ano que o desenvolvedor deixou a empresa, anunciando que trilharia um caminho diferente, fundando logo em seguida o estúdio Comcept. Se aquele parecia um futuro nebuloso para a recém revivida franquia Mega Man, a cartada final veio com o cancelamento de Mega Man Legends 3 (3DS).
Um projeto de fãs e desenvolvedores... que jamais verá a luz do dia |
Àquela altura do campeonato, Legends 3 era o único jogo da franquia em produção. Os spin-offs Battle Network, ZX e Star Force haviam recebido seus últimos lançamentos até então, os poucos jogos lançados para plataformas móveis não eram disponibilizados fora do Japão e a lista de jogos cancelados só aumentava. Antes mesmo de Legends 3 ser deixado de lado, promessas como Maverick Hunter e Mega Man Universe já haviam perdido a esperança de serem lançadas.
De lá pra cá, alguns jogos mobile continuaram a ser lançados em terras orientais, porém o último grande destaque da série foi Street Fighter X Mega Man (PC). Tratava-se, inicialmente, de um jogo feito independentemente por fãs, porém a Capcom acabou oficializando a ideia e ajudando-a a ganhar vida. Esse crossover acabou provando ser um ótimo título e criando a expectativa por mais uniões de universos como essa.
Mais um retorno
Embora o retorno triunfal de Mega Man com Mega Man 9 e 10 tivesse sido prejudicado pelo cancelamento de Legends 3 (e, posteriormente, de Rockman Online) e afastamento de Inafune da Capcom, o desejo por mais jogos do robozinho ainda estava no ar em 2013. Foi nesse ano que, pegando todos de surpresa, Inafune anunciou que o seu "caminho diferente" não era tão diferente assim, pois o primeiro título em produção do estúdio Comcept a ganhar o público foi Mighty No. 9.
Qualquer semelhança NÃO é mera coincidência |
Para quem não conferiu ainda do que esse jogo se trata, Mighty No. 9 é um sucessor espiritual de Mega Man, cujo financiamento foi feito através da plataforma Kickstarter. A partir daí, outros sucessores espirituais, como Yooka-Laylee e Bloodstained: Ritual of the Night, também utilizaram o Kickstarter como meio de promover seus projetos. Fato é que Mighty No. 9, por muito tempo, foi a esperança de vários fãs órfãos de Mega Man. De lá pra cá, o jogo ainda não foi lançado por conta de muitos adiamentos.
Keiji Inafune, no entanto, não perdeu tempo. Mesmo não tendo terminado Mighty No. 9, ele trabalhou em Azure Striker GUNVOLT (3DS), que, inclusive, recebeu um jogo extra, Mighty Gunvolt, uma união, em gráficos 8-bits, dos universos de Azure Striker com Mighty No. 9. Além disso, Inafune também iniciou a campanha no Kickstarter pelo financiamento de Red Ash, um sucessor espiritual de Mega Man Legends. Apesar de Mighty No. 9 ter batido recordes de financiamento na plataforma, Red Ash não teve a mesma sorte, resultado dos constantes adiamentos de Mighty No. 9 e do desgaste da ideia de mais um "Mega Man só que não".
Será que ainda há espaço para sucessores espirituais? |
E agora?
O futuro de Mega Man encontra hoje, duas "linhas do tempo" diferentes. De um lado, a linha oficial, na qual vemos como a Capcom vem dando pequenas experimentadas, como Street Fighter X Mega Man e o recente Mega Man Legacy Collection (3DS). Do outro, a linha espiritual, que conta com Mighty No. 9 e Red Ash, dois games que, mesmo nas mãos de Keiji Inafune, ainda não cumpriram a promessa de satisfazer os fãs da série da Capcom.
De certa forma, talvez a Nintendo esteja sendo a companhia de mais se beneficia atualmente do robozinho azul e sua franquia. Mesmo Legacy Collection não chegando ao Wii U, a última edição de Super Smash Bros. (Wii U/3DS) trouxe Mega Man como um excelente novo lutador e o Virtual Console do 3DS e Wii U vêm recebendo alguns bons relançamentos.
Ainda assim, é pouco se comparado ao potencial que a série já mostrou há alguns anos. Potencial esse que ainda existe, uma vez que spin-offs como X e Star Force não tiveram seus enredos concluídos. Além disso, Street Fighter X Mega Man demonstrou que crossovers do robozinho azul com outras franquias da Capcom pode sim render jogos memoráveis. O estilo de Mega Man Powered Up (PSP) também poderia ser uma alternativa para dar continuidade à linha principal. De qualquer forma, não faltam maneiras de Mega Man voltar a brilhar. Resta saber se a Capcom e a Comcept têm interesse e recursos o bastante para tornar isso real.
Revisão: Bruno Alves