Ser vilão, ou alguém não tão bonzinho, está em moda ultimamente. Nos cinemas, o anti-herói Deadpool faturou cerca de US$ 135 milhões somente no seu final de semana de estreia, transformando-se no primeiro filme com restrições etárias a ultrapassar a marca de US$ 100 milhões arrecadados em apenas três dias. Há alguns anos, o papel de Coringa rendeu um Oscar póstumo ao ator Heath Ledger, que ofuscou completamente o astro Batman no longa-metragem O Cavaleiro das Trevas. Estes são apenas alguns exemplos da tendência.
Aproveitando-se desse momento de simpatia pelos malvados, Aveyond 4: Shadow of the Mist coloca o jogador na pele de Boyle Wolfsbane, um terrível personagem que sonha com a dominação mundial. Porém, ele acaba falhando miseravelmente quando estava bem perto de alcançar seu objetivo. Derrotado, Boyle e seu lobo Fang acabam indo morar em uma vila de vilões aposentados, onde a diversão se resume a batalhar contra árvores amaldiçoadas ou assustar viajantes desavisados.
Totalmente antissocial e não se importando com nada, Wolfsbane vê a sua vida mudar quando Fang desaparece misteriosamente. Em uma jornada que começa com a busca pelo seu amigo, o protagonista acaba conhecendo pessoas que o farão refletir sobre o significado de ser um vilão. A trama, que começa de maneira simples e vai se tornando complexa, é uma das principais marcas de Aveyond 4, título desenvolvido pelo estúdio Amaranth Games e que está disponível para PC via Steam.
Foi por pouco... |
O jogo é um RPG no melhor estilo 16-bits e segue a fórmula de sucesso usada por Chrono Trigger e pelos primeiros Final Fantasy: personagens carismáticos, uma vasta lista de magias e ataques, inúmeros itens e uma história bem desenvolvida. Porém, usar essa receita antiga acaba resultando em um ponto negativo na produção, que falha pela falta de novidades ou inovações.
Bem-vindos à Aveyond
Apesar de ser o quarto capítulo da série Aveyond, o título consegue agradar aos novatos e também àqueles que já se aventuraram pelos outros três jogos. Com explicações muito bem feitas, o enredo é facilmente compreendido por todos. Para os fãs de longa data, existem diversas referências sobre o passado da franquia.O design dos personagens recebeu um capricho especial da equipe de criação. E não são somente os traços físicos que chamam a atenção, as características psicológicas foram trabalhadas com cuidado e fazem com que cada um dos membros da equipe de Boyle tenha personalidade única e marcante. O jogo possui a capacidade de criar laços entre os personagens e o jogador, tanto que não serão raros os momentos em que a raiva, motivada por algumas das maldades de Wolfsbane, virá à tona.
A história conta também com um toque de humor que brinca com o jeito ranzinza de Boyle e também com alguns clichês. Em determinado momento, um aldeão afirma ao protagonista que ninguém que viajou até certa montanha voltou vivo para contar como foi a jornada. Em resposta, Wolfsbane diz: "Mas lá é uma área inexplorada, não existem pessoas que foram até lá". E o morador da vila volta a falar: "Exatamente. Como ninguém foi até lá ainda, eu posso dizer que ninguém voltou com vida da montanha".
Conforme ia avançando na aventura, eu olhava diversas vezes para baixo para ter a certeza de que estava jogando no meu PC e não com o controle do Super Nintendo nas mãos. Os coloridos e detalhados cenários lembram muito as cenas que me acostumei a ver na época de ouro do console da Big N e podemos notar uma certa semelhança com a Hyrule mostrada em The Legend of Zelda: A Link to the Past.
Os cenários apresentam detalhes interessantes |
A jogabilidade também é bastante simplificada, utilizando-se somente dos botões de movimento e de mais outros dois: um deles serve para interagir com objetos no cenário, enquanto o outro é usado para abrir o menu. O sistemas de batalha não inova e segue à risca o modelo dos antigos RPGs, com as opções de atacar, usar itens ou magias. Outros tipos de ações para os combates ficaram faltando, como defender-se ou fugir.
Ser mal, nem sempre é ruim
Com 20 a 25 horas para completar a campanha principal, o jogo apresenta ainda algumas missões secundárias que são capazes de entreter o jogador por um bom tempo. Quem é fã dos clássicos RPGs da era 16-bits pode encontrar em Aveyond 4 uma boa opção para reviver os bons tempos do gênero. Se o título tivesse sido lançado nos anos 90, ele teria recebido avaliações positivas, mas ficaria bem longe de ser comparado com os revolucionários Chrono Trigger e Final Fantasy.A maior falha de Aveyond 4 é ficar preso naquilo que já fez sucesso no passado e não ousar inovar em nenhum outro aspecto. A atual tecnologia teria permitido que o jogo fosse além, talvez com um sistema de batalhas mais elaborado ou então com melhorias nos momentos de exploração. A falta de novidades acaba fazendo o título parecer mais do mesmo.
As batalhas são básicas demais |
Prós
- Enredo e personagens bem trabalhados;
- Jogabilidade simplificada;
- Grande potencial em agradar aos fãs dos RPGs 16-bits.
Contras
- Falta de inovação ou novidades;
- Sistema de combates muito básico;
- Alguns diálogos são cansativos e desnecessários.
Aveyond 4: Shadow of the Mist - PC - Nota: 7.0
Revisão: Érika Honda