Análise: Aveyond 4 (PC) é um bom RPG 16-bits, mas que poderia ousar mais

Falta de inovações acaba diminuindo o brilho de um bom enredo.

em 22/03/2016

Ser vilão, ou alguém não tão bonzinho, está em moda ultimamente. Nos cinemas, o anti-herói Deadpool faturou cerca de US$ 135 milhões somente no seu final de semana de estreia, transformando-se no primeiro filme com restrições etárias a ultrapassar a marca de US$ 100 milhões arrecadados em apenas três dias. Há alguns anos, o papel de Coringa rendeu um Oscar póstumo ao ator Heath Ledger, que ofuscou completamente o astro Batman no longa-metragem O Cavaleiro das Trevas. Estes são apenas alguns exemplos da tendência.


Aproveitando-se desse momento de simpatia pelos malvados, Aveyond 4: Shadow of the Mist coloca o jogador na pele de Boyle Wolfsbane, um terrível personagem que sonha com a dominação mundial. Porém, ele acaba falhando miseravelmente quando estava bem perto de alcançar seu objetivo. Derrotado, Boyle e seu lobo Fang acabam indo morar em uma vila de vilões aposentados, onde a diversão se resume a batalhar contra árvores amaldiçoadas ou assustar viajantes desavisados.

Totalmente antissocial e não se importando com nada, Wolfsbane vê a sua vida mudar quando Fang desaparece misteriosamente. Em uma jornada que começa com a busca pelo seu amigo, o protagonista acaba conhecendo pessoas que o farão refletir sobre o significado de ser um vilão. A trama, que começa de maneira simples e vai se tornando complexa, é uma das principais marcas de Aveyond 4, título desenvolvido pelo estúdio Amaranth Games e que está disponível para PC via Steam.
Foi por pouco...


O jogo é um RPG no melhor estilo 16-bits e segue a fórmula de sucesso usada por Chrono Trigger e pelos primeiros Final Fantasy: personagens carismáticos, uma vasta lista de magias e ataques, inúmeros itens e uma história bem desenvolvida. Porém, usar essa receita antiga acaba resultando em um ponto negativo na produção, que falha pela falta de novidades ou inovações.

Bem-vindos à Aveyond

Apesar de ser o quarto capítulo da série Aveyond, o título consegue agradar aos novatos e também àqueles que já se aventuraram pelos outros três jogos. Com explicações muito bem feitas, o enredo é facilmente compreendido por todos. Para os fãs de longa data, existem diversas referências sobre o passado da franquia.

O design dos personagens recebeu um capricho especial da equipe de criação. E não são somente os traços físicos que chamam a atenção, as características psicológicas foram trabalhadas com cuidado e fazem com que cada um dos membros da equipe de Boyle tenha personalidade única e marcante. O jogo possui a capacidade de criar laços entre os personagens e o jogador, tanto que não serão raros os momentos em que a raiva, motivada por algumas das maldades de Wolfsbane, virá à tona.

A história conta também com um toque de humor que brinca com o jeito ranzinza de Boyle e também com alguns clichês. Em determinado momento, um aldeão afirma ao protagonista que ninguém que viajou até certa montanha voltou vivo para contar como foi a jornada. Em resposta, Wolfsbane diz: "Mas lá é uma área inexplorada, não existem pessoas que foram até lá". E o morador da vila volta a falar: "Exatamente. Como ninguém foi até lá ainda, eu posso dizer que ninguém voltou com vida da montanha".

Conforme ia avançando na aventura, eu olhava diversas vezes para baixo para ter a certeza de que estava jogando no meu PC e não com o controle do Super Nintendo nas mãos. Os coloridos e detalhados cenários lembram muito as cenas que me acostumei a ver na época de ouro do console da Big N e podemos notar uma certa semelhança com a Hyrule mostrada em The Legend of Zelda: A Link to the Past.
Os cenários apresentam detalhes interessantes


A jogabilidade também é bastante simplificada, utilizando-se somente dos botões de movimento e de mais outros dois: um deles serve para interagir com objetos no cenário, enquanto o outro é usado para abrir o menu. O sistemas de batalha não inova e segue à risca o modelo dos antigos RPGs, com as opções de atacar, usar itens ou magias. Outros tipos de ações para os combates ficaram faltando, como defender-se ou fugir.

Ser mal, nem sempre é ruim

Com 20 a 25 horas para completar a campanha principal, o jogo apresenta ainda algumas missões secundárias que são capazes de entreter o jogador por um bom tempo. Quem é fã dos clássicos RPGs da era 16-bits pode encontrar em Aveyond 4 uma boa opção para reviver os bons tempos do gênero. Se o título tivesse sido lançado nos anos 90, ele teria recebido avaliações positivas, mas ficaria bem longe de ser comparado com os revolucionários Chrono Trigger e Final Fantasy.

A maior falha de Aveyond 4 é ficar preso naquilo que já fez sucesso no passado e não ousar inovar em nenhum outro aspecto. A atual tecnologia teria permitido que o jogo fosse além, talvez com um sistema de batalhas mais elaborado ou então com melhorias nos momentos de exploração. A falta de novidades acaba fazendo o título parecer mais do mesmo.
As batalhas são básicas demais

Prós

  • Enredo e personagens bem trabalhados;
  • Jogabilidade simplificada;
  • Grande potencial em agradar aos fãs dos RPGs 16-bits.

Contras

  • Falta de inovação ou novidades;
  • Sistema de combates muito básico;
  • Alguns diálogos são cansativos e desnecessários.
Aveyond 4: Shadow of the Mist - PC - Nota: 7.0
Revisão:  Érika Honda

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
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