“Eu vou me apresentar,
sou o herói desta canção.
E a princesa vou resgatar,
do terrível vilão”.
O projeto percorreu longo caminho para se transformar em realidade, e para conhecer melhor os detalhes dessa jornada épica, nós do GameBlast batemos um papo exclusivo com o comediante Marcos Castro, um dos criadores d’A Lenda do Herói, e com Rafael Bastos, produtor do estúdio Dumativa, responsável pelo desenvolvimento do jogo. Confira:
Quando o primeiro vídeo sobre A Lenda do Herói foi criado, em 2012, já havia o sonho de transformá-lo em um game ou a ideia inicial era somente o projeto no YouTube?
Marcos Castro - A Lenda do Herói era para ser apenas uma animação que criamos para o YouTube NextUp, concurso que promove canais iniciantes. Nós não ganhamos a competição, mas o vídeo acabou ficando bastante popular. Muitas pessoas perguntaram se aquilo seria um jogo e, desde então, sempre pensamos em alguma forma de desenvolvê-lo.
Qual foi o fator principal que o fez decidir partir também para a criação do jogo?
Marcos Castro - O público pedia cada vez mais. A cada vídeo, o personagem e a história iam ganhando forma, além do apelo do humor dentro do jogo que ajudou bastante. Acho que tudo isso foi nos fazendo acreditar que, talvez, A Lenda do Herói devesse sim ser um game.
Os irmãos Marcos e Matheus Castro, criadores d'A Lenda do Herói |
Após criada a campanha de financiamento coletivo no Catarse, como foi ir acompanhado o crescimento do número de apoiadores até atingir o recorde no site?
Marcos Castro - Apesar de termos nos preparado para fazer uma boa campanha, acho que ninguém esperava conseguir tanto e quebrar tantos recordes. É uma modalidade de investimento ainda muito nova no Brasil e foi uma surpresa ter saído da forma que saiu. Nós só temos o que agradecer a comunidade d’A Lenda do Herói. Tudo foi por causa deles.
Quais foram as maiores dificuldades no processo de criação do jogo?
Rafael Bastos - Para nós, certamente foi viabilizar a mecânica musical, que nunca havia sido feita, ao mesmo tempo em que desenvolvemos um jogo que não dependesse dela para ser divertido. Todo esse processo aconteceu em paralelo. Porém, nós nos preparamos, temos um método bem consistente, avaliamos risco o tempo inteiro e tentamos avançar a produção igualmente em paralelo. Os profissionais (músicos, escritores e designers) trabalharam juntos para produzir o conteúdo na medida certa para a equipe de programação implementar.
Marcos Castro - Certamente foi a mecânica musical. Foi um desafio ter que prever uma lista de piadas, passar para a Dumativa, o estúdio criar a música totalmente separada em blocos, montar um esboço das fases e, depois de tudo, ainda tivemos que criar a letra, sempre tentando prever o que o jogador faria. Foi muito difícil, mas hoje nós conseguimos fazer de uma forma tão orgânica que as coisas saem quase ao mesmo tempo. Além disso, podemos citar também como foi delicada a criação da narrativa, que evoluiu dos vídeos para algo único e original. Só jogando para ver.
"Enfrento serpentes muito mais fortes, pois mudaram de cor" |
Durante o processo de criação, como foi a relação entre Castro Brothers e Dumativa?
Rafael Bastos - Estamos com eles desde um período anterior ao início da fase de arrecadação. Entramos oito meses antes e ajudamos na montagem da campanha, e eles nos ajudaram a montar o projeto do jogo. Acho que conseguimos ser uma equipe só. Isso é muito importante. A equipe dos Castro Brothers (que não é composta somente pelos irmãos Marcos e Matheus) atua diariamente conosco. O senso estético do humor deles deu tom ao jogo, além do respeito que eles têm com o público. Cada detalhe foi pensando neles. Eles são muito caprichosos e em momento nenhum se ausentaram da produção, pelo contrário, as duas equipes viraram uma só. Foi um time muito bom de se trabalhar, convivemos todos os dias e os mínimos detalhes do jogo foram discutidos em conjunto.
Equipe do estúdio Dumativa |
Qual a importância do feedback daqueles que acompanharam o projeto desde o início?
Marcos Castro – Nós os ouvimos desde o início até hoje. Nosso público fala, participa e se envolve. Nós testamos e recebemos centenas de feedbacks no período de beta testing, além de sempre acompanhar a expectativa do público nas redes sociais. O melhor foi ver essa comunidade crescer e se diversificar. Desde a campanha do financiamento coletivo até hoje, a resistência foi diminuindo e o público foi percebendo o que nós realmente queríamos: ver o jogo sair e que ele ficasse bom.
Podemos sonhar em ver A Lenda do Herói indo além do PC e, de repente, chegando também aos consoles?
Rafael Bastos - Queremos levar o jogo para o mundo todo antes, localizar as centenas de falas cantadas para o inglês e lançar globalmente. Se for possível fazer isso nos consoles, certamente faremos. Mas tudo depende de como será a receptividade no lançamento. Estamos otimistas, mas não podemos confirmar que vamos fazer outras versões além da prometida.
Com lançamento oficial agendado para o próximo dia 24 de março, como está a expectativa?
Marcos Castro - Mal temos dormido de ansiedade e de tanta coisa para fazer.
Rafael Bastos - É, está bem difícil dormir. Mas estamos com a sensação de tranquilidade.
Qual bom jogo de plataforma não tem uma fase de fogo? |
Passado o período de lançamento do jogo, a série do YouTube deverá ter novos episódios?
Marcos Castro - Sim, A Lenda do Herói é uma franquia. Vamos explorar outros personagens, outras áreas, as animações originais, outras animações, quadrinhos e tudo que puder ser feito. Durante a produção d’A Lenda do Herói, tivemos a oportunidade de escrever uma história muito rica e a Dumativa nos ajudou a criar um universo bem vasto. Cada personagem ganhou personalidade, uma história e nem sempre ela está no jogo. Então, vamos usar as outras mídias para contar tudo.
Podemos esperar uma sequência?
Marcos Castro - Em termos de história, já existe. O universo d’A Lenda do Herói não acaba no jogo e não começa nele. O game é um pedaço. Então sim, queremos fazer mais.
Rafael Bastos - Temos algumas mecânicas escritas para outros games. Coisas que não conseguimos colocar nesse primeiro título e, certamente, complementaríamos em um segundo. Também trabalhamos alguns easter eggs que deixamos no game só para poder puxar spin offs. O Marcos nos deu muita liberdade de criar em cima do que ele começou e, hoje, temos algumas histórias legais, jogos d’A Lenda do Herói sem o Herói da lenda.
As aventuras do Herói não devem se encerrar no primeiro jogo |
Qual a lição que A Lenda do Herói pode transmitir para os produtores de jogos nacionais?
Rafael e Marcos - É cedo para dizer que nós podemos ser usados como exemplo. Mas acho que desde o início, quando decidimos fazer esse jogo, compactuamos com o público e isso tem sido muito bom. Porque na indústria de jogos são eles que fazem a coisa acontecer. E se, de alguma forma, nós pudermos ser usados como exemplo, acho que deve ser na maneira como sempre priorizamos o público.
Há uma mensagem que queiram deixar para o público?
Marcos Castro - Acho que a mensagem que deixamos é a de que somos eternamente gratos. Eles nos ajudaram a realizar um sonho, fazer algo espontâneo crescer e ganhar forma. Não temos como falar nada para eles que não seja um "muito obrigado".
Rafael Bastos - É, acho que é o que o Marcos disse. Se tivermos a oportunidade de falar com cada um e agradecer, nós faremos. Nosso sentimento hoje é de gratidão e respeito.
A cronologia de uma lenda
O objetivo de alcançar os R$ 125 mil para transformar o sonho em realidade acabou sendo concluído em 11 dias. Depois disso, foram criadas mais duas metas estendidas que, caso superadas, tornariam o jogo ainda mais completo. A primeira delas, de R$ 185 mil, aumentaria a quantidade de atos em cada fase, além de adicionar mais inimigos, puzzles e skins. Já a segunda, de R$ 250 mil, traria uma campanha especial zumbi, dois bosses para cada fase, cenários maiores, ainda mais inimigos e uma quantidade maior de itens. No final da campanha, o valor arrecadado ultrapassou os R$ 258 mil, ou seja, vamos receber A Lenda do Herói em sua versão mais completa possível. O número total de apoiadores foi de 6.112 pessoas, recorde em toda a história do Catarse.
Após somar a quantia necessária para financiar a criação do jogo, havia chegado o momento de colocar as mãos na massa. Em setembro de 2014, teve início o processo de desenvolvimento. Pouco menos de um ano mais tarde, em julho de 2015, o projeto atingiu mais uma importante marca ao ser aprovado no Steam Greenlight e assim entrar para o catálogo da plataforma da Valve. Durante todo o período de produção, os Castro Brothers postaram no YouTube vídeos com informações sobre o título, apresentando making of, gameplay, entre outros conteúdos.
Passar pelo Steam Greenlight não foi problema para o Herói |
A partir do próximo dia 24 de março, finalmente, poderemos conferir o desfecho dessa saga. A Lenda do Herói estará disponível no Steam e na Nuuvem em duas versões: a Standard, que custará R$ 29,99, e a Premium, que terá o valor de R$ 54,99 e contará com a campanha “A Lenda dos Mortos” e skins especiais de youtubers. Quem adquiriu o game no período de pré-venda ou através do apoio no Catarse, também receberá uma chave para baixá-lo via Steam.
Revisão: Luigi Santana
Capa: Diego Migueis
Capa: Diego Migueis